ELEIÇÕES

Candidatos de direita são maioria nas cidades do Entorno

Siglas ligadas a ideais conservadores são as que têm mais candidatos nas maiores cidades do Entorno. Para especialistas, cenário é justificado pela preocupação dos eleitores com segurança pública e pela popularidade do presidente Jair Bolsonaro

Washington Luiz
postado em 03/11/2020 06:00 / atualizado em 03/11/2020 14:49
 (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press - 10/7/20               )
(crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press - 10/7/20 )

Partidos de direita e de centro ganharam destaque nas eleições deste ano nas 10 cidades mais populosas do Entorno. Levantamento feito pelo Correio com base em dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostra que o PSL — sigla pela qual o presidente Jair Bolsonaro, hoje sem partido, se elegeu — é a legenda com a maior quantidade de candidatos: ao todo, são 202 políticos concorrendo ao pleito, sendo 193 vereadores, quatro prefeitos e cinco vice-prefeitos. Em seguida, está o Podemos, com 196 candidatos e o PSC, com 181.

Por outro lado, agremiações tradicionais, como PSDB, MDB, PT e DEM aparecem na 5ª, 6ª, 7ª e 9ª posições, respectivamente. Os mais à esquerda, como PCdoB e PSol, ficam no 21º e no 25º lugares (veja quadro). A pesquisa inclui os municípios goianos de Águas Lindas, Luziânia, Valparaíso, Formosa, Novo Gama, Planaltina, Santo Antônio do Descoberto, Cidade Ocidental e Goianésia e a cidade mineira de Unaí.

O cenário encontrado vai na direção oposta aos números do estado de Goiás, que concentra nove dos 10 municípios pesquisados e onde o Democratas ficou em primeiro lugar com a maior quantidade de candidatos inscritos, seguido pelo PP e pelo MDB.

Segundo o cientista político Fábio Vidal, uma das justificativas para essa diferença de comportamento é o fato de a população do Entorno ter mais afinidade com pautas conservadoras e relacionadas a questões de segurança pública. “O público dessas cidades está mais aberto a ideias conservadoras, ao moralismo e à defesa da família tradicional. Portanto, quando tratamos dessas pautas, é natural que tais siglas e algumas outras ganhem destaque. Vale ressaltar também que agremiações como o PSL atraem muitos militares que sustentam a pauta da segurança. Em cidades que sofrem com a proliferação da violência, esse tipo de discurso pode chamar muito a atenção do eleitor”, diz.

A liderança do PSL no número de candidaturas também pode ser explicada pelo partido ainda ser associado ao presidente Jair Bolsonaro e ter a segunda maior fatia do Fundo Eleitoral, com direito a R$ 199,4 milhões a serem distribuídos nas campanhas. Esses motivos, segundo Robert Bonifácio, também cientista político e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), fez com que muitas pessoas procurassem a legenda para se candidatar.

“O PSL tem muitos recursos para fazer campanha. É natural que as pessoas tentem surfar na onda do bolsonarismo, vislumbrando que terão recursos garantidos. Mesmo que o Bolsonaro não esteja mais no partido, o PSL foi o último ao qual ele esteve filiado”, explica.

Bonifácio também ressalta que o fato de essas siglas terem um maior número de candidatos não significa que a população vai votar nessas candidaturas. Para o cientista político, as chances de o PSL e as demais legendas elegerem os candidatos dependem das figuras políticas que atuam como cabos eleitorais nas campanhas.

“Os candidatos do DEM ou apoiados pelo governador Ronaldo Caiado (DEM) devem sair em vantagem, já que ele tem altos índices de popularidade. O PSL não está harmonizado com Bolsonaro. Por isso, pode ser que o partido não eleja a quantidade de prefeitos e vereadores esperada”, diz.

Prefeitos

Quando considerada apenas a quantidade de candidatos a prefeitos, o Podemos e o PT lideram, com seis concorrentes cada, seguidos pelo PSL, MDB e PSDB, com quatro cada. Apesar da força no restante de Goiás, o DEM tem apenas três candidatos a prefeito nas cidades pesquisadas.

O Podemos tenta se manter na prefeitura de Luziânia, com a professora Edna Santos, e ganhar a do Novo Gama, com José Santos. As principais candidaturas do PT, por sua vez, estão em Valparaíso, com Silvano Pereira, e em Unaí, com Geni de Sousa.

Entre as cidades com candidatos do PSL, destacam-se Águas Lindas de Goiás, onde o delegado Hamilton Borges concorre à prefeitura, e Planaltina, com o delegado Cristiomário. Já o MDB tenta manter Pábio Mossoró à frente do Executivo de Valparaíso e o PSDB, reeleger Sônia Chaves no Novo Gama. O DEM, por sua vez, tem como uma das principais apostas o candidato Diego Sorgatto, que concorre em Luziânia, cidade considerada estratégica pelos políticos goianos.

Diretórios

De olho em 2022, diretórios de partidos do Distrito Federal têm auxiliado as campanhas do Entorno. Como a legislação eleitoral não permite o apoio financeiro, a ajuda ocorre por meio da participação da militância e de nomes de destaques do partido em eventos e lives.

No caso do PT, por exemplo, o partido tem mobilizado os 60 mil filiados para tentar dar destaque às candidaturas da sigla nas cidades vizinhas. “Estamos chamando toda a militância do PT para participar das atividades dos candidatos nas cidades do Entorno. Nosso apoio se dá por meio de vídeos, participação em lives e doação nas vaquinhas on-line dos candidatos. O envolvimento é individual, não institucional”, afirma Jacy Afonso, presidente do PT no DF.

O diretório do DEM segue as recomendações do governador de Goiás. Onde o partido não tem candidato próprio, o apoio vai para a coligação da qual a sigla faz parte.

No MDB, o presidente do partido da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), Rafael Prudente, diz que tem mantido contato com o presidente da sigla em Goiás “para ajudar no que for possível”. No início da campanha, a movimentação de políticos do partido era tímida, mas, no fim de outubro, o próprio governador Ibaneis Rocha (MDB) foi até Cabeceira Grande, em Minas Gerais, e declarou apoio ao candidato Fernando Zenon, do PSL.

Além de ser uma tentativa de estabelecer parcerias, esse movimento, segundo Fábio Vidal, é uma forma de garantir apoio nas próximas eleições. “Existem políticos aqui do DF que tentam transferir a sua influência aos candidatos lá do Entorno. Em contrapartida, nas eleições de 2022, aqui no DF, os candidatos que hoje disputam os cargos de vereadores e prefeitos certamente apoiarão os seus padrinhos políticos que contribuíram para sua vitória”, diz.


 

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Três perguntas para

Guilherme Carvalho, professor e cientista político

O que justifica um maior número de candidaturas
nas cidades do Entorno em partidos considerados de direita?
As cidades do Entorno têm uma dinâmica própria. Os problemas sociais delas são muito específicos e não estão ligados com o que se tem no restante de Goiás, de Minas Gerais ou de Brasília. A questão da violência está muito presente para a população do Entorno. Por isso, ela acaba aderindo ao discurso da segurança pública, porque é realmente o problema mais presente. Esse discurso vem sendo encampado pelos partidos próximos a Bolsonaro.

Quem são os principais cabos eleitorais nesses municípios?
O presidente Jair Bolsonaro é um deles, com certeza. Sempre que possível, ele passa por essas cidades. É onde o discurso dele ganha reverberação, repercute. No caso de Goiás, há pouco tempo, o Entorno era marconista, prevalecia o apoio ao ex-governador Marconi Perillo (PSDB), mas ele perdeu a eleição para o Senado e o atual governador Ronaldo Caiado (DEM) tenta conquistar esse espaço. No entanto, ele não consegue conquistar tanto quanto Bolsonaro e montar uma base de forma abrangente. Por isso, o presidente é um importantíssimo cabo eleitoral do Entorno. O discurso dele coincide com o discurso da região. Ele leva vantagem em relação ao Caiado. Apesar dos pesares, o Caiado não fala para essas cidades.

Como explicar o interesse menor dos candidatos
por partidos considerados mais tradicionais?

É preciso olhar para a eleição de 2018. Os principais derrotados foram os partidos tradicionais, mas o PSDB, o DEM e o MDB sofreram maior golpe, pois perderam o tamanho das suas bancadas. Isso influencia na questão da repartição do Fundo Partidário e na recomposição de forças para as próximas eleições. Em abril, quando houve a janela partidária para a troca de partido, o ritmo da corrida não foi em direção aos partidos tradicionais. Houve uma mudança na lógica graças também à mudança na legislação. Sem coligação, partidos tradicionais perderam atratividade. Quem ficou mais atrativo? Partidos com maiores bancadas na Câmara.

 

 

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