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Ativismo por meio da arte

Ricardo Daehn
postado em 05/11/2020 22:28
 (crédito: Diego Bresani/Divulgação)
(crédito: Diego Bresani/Divulgação)

Reclusão e uma série de estudos foram incorporados à rotina da atriz taguatinguense Camila Márdila, recolhida no interior de São Paulo, desde março. “Meu trabalho mais importante segue sendo o de me cuidar e de cuidar de quem está por perto”, comenta ela, que volta à cena artística entusiasmada com o alcance de sua voz. Ecoa, no novo trabalho, parte do ativismo do personagem da estreia feita em novelas, com Amor de mãe. Confirmando o engajamento pessoal, num projeto apoiado pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade, Camila estende a voz incorporada no podcast semanal de ficção batizado de Toinhas: A extinção do golfinho invisível.

No novo trabalho, pesa a modulação de voz e emoção na forma de interpretar. “A personagem a quem dou vida é a jornalista Bárbara. Ela é uma mulher cheia de nuances. Tem humor, é ranzinza e irônica, sendo intensa. Há o desafio e o prazer neste foco único e exclusivo na voz. Enquanto gravo, sob direção virtual, gesticulo, simulo as cenas, me envolvo emocionalmente aos moldes de uma filmagem”,explica a atriz, sempre lembrada pelo prêmio especial do júri no Festival de Sundance com o longa Que horas ela volta?

Se por um lado Camila admite ter tido pouco contato, na infância, com a natureza; atualmente, ela zela por escolhas que interferem na cadeia do ecossistema. “Infelizmente, minha geração não teve, em geral, uma educação que contemplasse o olhar sobre o meio ambiente. É um assunto que tem ganhado espaço recentemente”, comenta. Atenta à chave da destruição e do descaso com a vida, no sistema capitalista, a atriz celebra o púlpito reservado à disseminação de informações. “O meio ambiente já não é tema que possa ser abafado ou desprezado. Move âmbitos políticos até dramatúrgicos”, observa.

Com texto de Luna Grimberg (de Coisa mais linda), o projeto de podcast propiciou aprendizado sobre as toninhas, estimadas em 20 mil na área brasileira e que circulam por águas do Uruguai e da Argentina. “A toninha é um animal muito curioso, cheio de peculiaridades e personalidade. A relevância da sua sobrevivência para o funcionamento de todo um ecossistema diz muito sobre a importância da preservação”, analisa a atriz. A percepção do desconhecido é combustível para as ações dela. “Haver um animal marinho, e o fato dele ser ameaçado de extinção, que diz sobre nossa relação com a natureza. Um ser tão incrível que talvez desapareça sem a gente sequer conhecê-lo, é um dado muito triste e um alerta aos nossos modos de vida”, complementa.

Conscientização de consumo (da alimentação às vestimentas) está entre as bandeiras de Camila Mardila. “É muito difícil falar disso num país em que tanta gente sequer tem acesso a saneamento básico, à água limpa, durante uma pandemia”, explicita. O entrosamento junto a ações civis, aos organismos não-governamentais atenua efeitos do “atual cenário político desastroso”.

Aos 32 anos, Camila Márdila tem atentando para a diversificação de frentes na carreira, com estreitamento de projetos pessoais. “Tenho escrito e estudado muito mais, e vejo que essa foi a válvula de escape de muitas pessoas. Dei algumas oficinas remotas para atores, junto com meu coletivo Areas, e tocamos um projeto para teatro em 2021. Escrevi dois curtas-metragens e, no último mês, comecei a gravar o podcast”, conta. A serem exibidas, as séries Onde está meu coração e Feras (mostrada na MTV) completam o leque de atrações da GloboPlay e que levam o talento da atriz.

 

 

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