RÉVEILLON

Por causa da pandemia, empresas buscam alternativas para festas de fim de ano

As festas de fim de ano serão bem diferentes, por causa do novo coronavírus. Mesmo assim, quem trabalha com a organização de confraternizações começou o planejamento, para garantir as tradições do Natal e do ano-novo, apesar da crise econômica

Mariana Machado
Caroline Cintra
postado em 07/11/2020 07:00
 (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)
(crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)

Quando o ano chega ao fim, é hora de juntar amigos e família para confraternizar. Seja no Natal ou no ano-novo, a tradição inclui festas, ceias e reuniões. No entanto, devido à pandemia do novo coronavírus, o cenário em 2020 não será o mesmo. Por isso, os segmentos que promovem festas buscam saídas criativas. “O mercado começa a se movimentar agora. As confraternizações serão diferentes. As empresas com 30, 40 funcionários vão levá-los para eventos drive-in. As que têm mais colaboradores optarão por espaços maiores e abertos”, prevê Luís Otávio Neves, presidente do Sindicato das Empresas de Promoção, Organização, Produção e Montagem de Feiras, Congressos e Eventos do Distrito Federal (Sindeventos). Ele espera a recuperação do setor no começo do próximo ano, caso a vacina contra a covid-19 esteja em aplicação no DF.

Para quem oferece serviço de bufê, o ano é de adaptações. A chef de cozinha Ana Claudia Morale, 35 anos, estava acostumada a, nesse período, preparar cardápios para confraternizações de empresas e para ceias de 15 ou mais pessoas. “Neste ano, tenho certeza de que as festas serão pequenas. Mas a gente espera que, com a melhoria do mercado, venham vários pequenos eventos que compensem ou equilibrem a perda (por causa) dos grandes”, afirma.

Ela oferecerá quatro menus diferentes, com duas opções de lanche e duas de jantar. Para a ceia, o peru sai de cena, dando lugar a opções menores: tender e bacalhau. “As grandes aves são para jantares com muitas pessoas. Em uma ceia para quatro, não adianta, porque vai sobrar muito. Se houver demanda, vamos trabalhar com peru e chester também”, comenta Ana Claudia. Ela está otimista e acredita, inclusive, que fará contratações temporárias. “Na pandemia, tivemos perdas de eventos grandes, mas ganhamos muito em relacionamento com o cliente, que, hoje, sente-se mais ouvido. E eu faço as coisas baseadas no pedido direto deles. A internet nos trouxe isso”, avalia a chef.

Internet

Para o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), Francisco Maia, as confraternizações do fim de 2020 serão diferentes daquelas de anos anteriores. Primeiramente, porque bares e restaurantes podem receber apenas metade do público máximo previsto para os espaços — como previsto em decreto do Governo do Distrito Federal (GDF), para evitar a disseminação do novo coronavírus. Outro fator é a troca de presentes, que deve acontecer a distância. “As pessoas estão se adaptando. Se fosse há dois meses, as confraternizações não aconteceriam. Agora, sim, mas de outra maneira. Brasília tem um perfil diferente, pelo número grande de funcionários públicos. O 13º (salário) ainda vai movimentar bem a economia no fim de ano”, acredita Francisco.

Um estudo, publicado em novembro pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), prevê que serão injetados R$ 5,6 bilhões no Distrito Federal, provenientes do 13º salário. A expectativa é de que as vendas virtuais tenham destaque e superem as presenciais. “Tem shopping que lançou plataforma de marketplace (para vendas on-line) com 14 mil produtos. O comércio tem de se adaptar e estar na rede para conseguir vender. Esperamos que as pessoas comprem muito, mas pela internet. Quem não está lá, tem de entrar”, recomenda Francisco. Também há boas expectativas para a contratação de funcionários temporários. Os comércios abrirão 2,4 mil novas oportunidades e, segundo a Fecomércio-DF, cerca de 70% das lojas devem efetivar os contratos. “Os estabelecimentos demitiram muito, e essa é uma boa chance para contratar novamente. Os empresários estão otimistas”, afirmou o presidente da federação.

Réveillon

Às margens do Lago Paranoá, a queima de fogos do hotel Royal Tulip Alvorada consolidou-se como uma das principais celebrações de réveillon da capital federal. Em 2020, contudo, o público será reduzido, segundo gerente-geral, Jean Nogueira, 49. Além disso, as mesas terão distanciamento de 3,5 metros e a temperatura de todos será aferida na entrada do evento. “Temos um espaço para 1,6 mil lugares, e a festa costuma receber de 800 a 900 pessoas. Mas, neste ano, o evento será para 400. Limitamos a capacidade para garantir a segurança”, destaca.

Todos os anos, o evento é temático. Na virada para 2021, com uma mistura de elementos de circo e vinculados ao filme Alice no País das Maravilhas, os convidados poderão abusar da criatividade, sem deixar a saúde de lado. “A gente incentiva que o público traga máscaras vinculadas ao tema. Em um momento de tanta tristeza e apreensão, quisemos trazer alegria à nossa festa”, conta Jean.

Além do show de fogos de artifício e da ceia, uma das atrações será a apresentação de uma escola de samba, que tocará em área isolada, pois a pista de dança ficou suspensa nesta edição. Para garantir a segurança dos funcionários, o hotel adotou outra medida rigorosa: uma sirene que toca a cada duas horas na cozinha, para alertar sobre a necessidade de os funcionários lavarem as mãos e trocarem a máscara. “Inicialmente, a gente nem ia fazer a festa, mas algumas coisas estão se ajustando e, por isso, faremos nesse formato compactado”, completou o gerente-geral.

Alguns restaurantes vão apostar no almoço de Natal e de ano-novo, para atrair clientes que não querem cozinhar no dia das festas. Raimundo Neto, 40, gerente do Haná, na Asa Sul, conta que o salão do estabelecimento de culinária japonesa deve receber cerca de 40 pessoas. A capacidade está reduzida. “Todo o nosso cardápio será oferecido para encomendas. Geralmente, fazemos mais de 30 ceias, e o mais procurado são os combinados de sushi”, conta. Raimundo mantém as expectativas, pois alguns clientes fiéis têm ligado para saber como serão as entregas. Porém, ele também reconhece que a pandemia pode prejudicar as vendas. “A gente espera que este ano seja igual ou melhor do que o ano passado. Mas, colocando o pé no chão, pode acabar sendo mais fraco”, pondera.

Presidente do Sindicato Patronal de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Brasília (Sindhobar), Jael Antônio da Silva considera que os hotéis do DF têm baixa movimentação nessa época do ano e que ainda não é possível falar em perspectivas para o período festivo. Ele também considera cedo para as empresas fazerem reservas de estabelecimentos, o que geralmente ocorre no fim de novembro. Mesmo assim, donos de negócios nesse ramo estão otimistas, apesar do cenário, e esperam bastante movimento nos bares. “Muitos vão fazer promoções de bebidas, como compre dois chopes e pague um. Tem os tira-gostos especiais, que são sempre atrativos. Os restaurantes montam sequência de entrada, prato principal e sobremesa, o que podem atrair muitas empresas também”, avalia.

Para ajudar na recuperação do movimento, o Sindhobar pretende apresentar ao Governo do Distrito Federal (GDF) uma proposta para aumentar o público em bares e restaurantes. “Estamos caminhando para o controle da doença (covid-19) no DF e vamos tentar aumentar a capacidade (dos estabelecimentos). Mas, se não for possível, tudo bem. Saúde em primeiro lugar, sempre. Isso é o mais importante”, destaca Jael Antônio. Enquanto isso, os espaços precisam seguir os protocolos de segurança, como verificação da temperatura dos clientes, garantia do uso de máscaras por parte dos visitantes, disponibilização de álcool em gel e disposição de mesas distantes umas das outras.

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  • A chef de cozinha Ana Claudia Morale trabalha com serviço de bufê e teve de se adaptar: menos eventos, mas relação mais próxima com clientes
    A chef de cozinha Ana Claudia Morale trabalha com serviço de bufê e teve de se adaptar: menos eventos, mas relação mais próxima com clientes Foto: Minervino Júnior/CB/D.A Press
  • O gerente-geral Jean Nogueira adotou ações rigorosas em hotel do Lago Sul
    O gerente-geral Jean Nogueira adotou ações rigorosas em hotel do Lago Sul Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  • Restaurante japonês de Raimundo Neto abrirá com capacidade reduzida
    Restaurante japonês de Raimundo Neto abrirá com capacidade reduzida Foto: Carlos Vieira/CB/D.A Press

Três perguntas para

Breno Adaid, doutor em experiência do consumidor e professor do Centro Universitário Iesb

Com a pandemia, o que podemos prever para as festas de fim de ano? A procura pelos eventos será menor?

É esperado que a gente tenha uma modificação no padrão da festa. Várias pessoas, provavelmente, várias famílias vão optar por reunir menos gente, e alguns produtos que vendem muito nessa época não serão tão comprados. A procura por eventos com certeza vai ser menor, porque há uma redução natural de pessoas que não se sentem à vontade de estar em contato com muita gente, principalmente estranhos. Existe também um agravamento pelo fato de muita gente ter perdido o emprego e não se sentir confortável em gastar com evento, festa e presente.

Qual a alternativa para quem trabalha com bufês e para os restaurantes?

Segmentar. Oferecer a possibilidade de minieventos para as empresas que vão confraternizar, mas que podem fazer eventos menores. Em vez de oferecer um bufê grande, ofereça cinco pequenos, por departamentos, por exemplo. O foco é atender melhor, para menos gente. Quanto aos restaurantes, o público que os buscam é de famílias pequenas. Essas pessoas procuram um produto diferenciado. Vale para restaurantes de comida tradicional brasileira e para os que estão fora dessa linha também.

Esta é uma época em que, geralmente, há contratação de muitas pessoas. O que podemos esperar em relação aos empregos temporários?

O mercado de contratação temporária tende a ser menor, porque o consumo também tende a ser mais comedido. Isso não significa, necessariamente, um enfraquecimento.

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