“Começou com as pintinhas vermelhas, primeiro na barriga e depois pelo corpo todo. Logo veio a febre”. Eram esses os sintomas identificados por Ivete Pereira, 64 anos, quando um dos filhos, de 4 anos, pegou sarampo em 1981. Em pouco mais de uma semana, o filho mais novo, 3, também foi infectado. “A gente resolvia apenas isolando com certo cuidado, dava chá de sabugueiro”. Ivete, que trabalhava como professora na Escola Classe 40, do P Norte, lembra que a turma da alfabetização era repleta de alunos com a doença: “Realmente pegava todo mundo, era como se fosse uma coisa normal”.
Cenas como essa, que tinham desaparecido do imaginário da população nos últimos 30 anos, podem tornar a se repetir, na medida em que novos casos de sarampo voltaram a ser registrados. Para barrar a circulação do vírus, e em razão da baixa cobertura vacinal entre os adultos durante a pandemia, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) decidiu prorrogar, mais uma vez, a campanha para pessoas entre 20 e 49 anos até 27 de novembro. De janeiro a setembro, foram registrados, no DF, cinco casos da doença, sendo que todos foram importados, segundo a pasta.
Até 26 de outubro, apenas 7,7% do público-alvo foi imunizado no Distrito Federal. A meta é chegar a 95%. No ano passado, entre todos os grupos, a cobertura vacinal foi de 58,73% (primeira dose) e 59,3% (segunda dose). A aplicação da segunda dose da tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) só foi instituída no calendário de vacinação a partir de 2004. Por isso, agora, quem nasceu antes desse período é alvo da campanha pela dose extra.
Dessa vez, o estudante de medicina Johnatan Reis, 31, não vai perder tempo. “Quero participar, acho muito importante, para evitar que a doença se alastre novamente em nosso país. Nesse momento de rejeição à ciência e de fake news, é importante reforçar que a vacinação é eficaz”, ponderou. Quatro dos cinco casos de sarampo no DF em 2020 são de pacientes nessa faixa-etária.
Histórico
A imunização contra o sarampo na capital federal começou em 1986, com a construção dos primeiros centros de saúde. A dose já constava no Programa Nacional de Imunizações, criado em 1973. Naquele período, “era um dia de festa, o dia da campanha”, recorda a sanitarista Rosely Cerqueira.
Em 1990, os casos de sarampo no DF somavam 4.372. Com a implementação da estratégia de vacinação, esse número caiu significativamente, e chegou a zero em 2000. Em 2016, o Brasil foi declarado pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) livre da doença. No entanto, dois anos depois, o vírus voltou a circular no país. “Hoje, a saúde pública está muito desacreditada, isso reflete na vacina”, avalia Rosely.
Para a sanitarista, nesse ritmo, é possível que os casos de sarampo sejam mais frequentes. “Precisa ter uma cobertura vacinal muito alta, para não haver o recrudescimento da doença. Estamos à mercê de outras pessoas que vêm para cá doentes, de locais onde a cobertura é baixa”.
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Quase 8 mil casos
De janeiro a setembro deste ano, 7.929 brasileiros foram infectados em todo o território nacional. Atualmente, o sarampo representa uma epidemia em vários países, o que contribui para a importação de casos. As doses são aplicadas em todos os postos de saúde do DF. No ano passado, segundo dados do Ministério da Saúde, 51,4% dos infectados tinham entre 20 e 49 anos. A preocupação é porque o vírus é altamente contagioso, se propaga por vias respiratórias e pode levar a complicações como pneumonia, otite e encefalite, mesmo em adultos.