Eleição

Entorno: Negros são maioria entre os candidatos nas 10 cidades mais populosas

Negros são maioria entre candidatos nas 10 cidades mais populosas do Entorno . No entanto, para especialistas, isso não garante a eleição de um número grande de representantes que se adeclaram pretos ou pardos. No DF, a comunidade é sub-representada

Samara Schwingel
postado em 14/11/2020 07:00 / atualizado em 14/11/2020 15:00
 (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
(crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

Nas eleições municipais deste ano, entre as 10 cidades mais populosas do Entorno do Distrito Federal, metade dos candidatos a prefeito dos municípios analisados se autodeclaram pretos ou pardos. Ou seja, dos 64 concorrentes, 32 são negros. Levantamento feito pelo Correio buscou os dados dos postulantes à Prefeitura de Águas Lindas, Luziânia, Valparaíso, Formosa, Novo Gama, Planaltina, Santo Antônio do Descoberto, Cidade Ocidental e Goianésia, em Goiás; e Unaí, em Minas Gerais. Os candidatos podem se declarar perante o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) como brancos, pretos, pardos, amarelos ou indígenas.

Entre aqueles que buscam o cargo de vereador, os negros são maioria. Das 10 cidades, há 2.894 concorrentes à Câmara Municipal. Destes, 2.288 são pretos ou pardos, cerca de 79% dos elegíveis. A cidade com maior índice de candidatos negros é Luziânia, com 329 (70% do total). Já o menor número é de Unaí (MG), com 86 postulantes à Casa do povo – mesmo assim, a taxa representa 52% do total.

Professor de ciências políticas da Universidade de Brasília (UnB), Fábio Vidal avalia que a maior participação de negros, infelizmente, não significa que eles serão os mais votados. “A transformação dessas candidaturas em mandados é outra barreira que precisa ser superada. Vai além da questão de cotas e de orçamento, é algo estrutural”, diz. Para ele, só será possível analisar se o cenário político está se transformando nas eleições de 2022. “O resultado do pleito deste domingo poderá nos dar um direcionamento, mas ainda brando”, explica. Fábio afirma que o preconceito é um problema antigo e que precisa ser combatido de forma ampla. “Toda essa luta é uma construção histórica e, o fato de termos mais candidatos negros não quer dizer que os problemas estão resolvidos”, completa.

Advogado especialista em direito eleitoral, Acácio Miranda afirma que já há ações voltadas para a correção deste problema social. “O TSE adotou, para as eleições de 2020, o sistema de cotas para negros. Ou seja, os partidos precisam reservar 30% das vagas eleitorais para estes candidatos para receberem a verba destinada”, descreve. Ele ressalta que a medida não é suficiente para alterar o quadro político em um pleito, uma vez que a candidatura não garante a eleição. No entanto, Acácio considera importante a existência das cotas. “É uma ação afirmativa bastante positiva e pode agir como um mecanismo para reparar problemas sociais que perduram há séculos na sociedade brasileira. A longo prazo e, em conjunto com outras ações, pode funcionar”, conclui.

Na capital federal

Há 60 anos como a capital do país, o Distrito Federal nunca elegeu um governador negro. E, a representatividade nos poderes Executivo e Legislativo locias ainda se mostra fraca. Em 2020, dos 24 distritais que compõem a Câmara Legislativa, dois se autodeclaram preto ou pardo e, na bancada federal do DF, apenas Luis Miranda (DEM) é pardo. Especialistas e militantes do movimento negro consideram que os dados são alarmantes, uma vez que a população do DF é composta majoritariamente por pretos ou pardos — 57,6%, segundo pesquisa da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan).

Atualmente, os deputados distritais negros são Chico Vigilante (PT) e Fábio Felix (PSol). Ambos acreditam que a comunidade negra do DF está sub-representada no parlamento. “Nós tentamos fazer o máximo para trabalhar em prol desta grande parcela da população, porém, é necessário ter mais representantes para que a voz dessa comunidade seja ouvida e respeitada”, defende o petista. Chico Vigilante avalia que o debate sobre a representação necessita melhorar. “Os militantes da categoria precisam, também, se juntar para alavancar a causa”, altera.

Fábio Felix explica que a baixa representatividade tem impacto direto na qualidade de vida da comunidade negra do DF. “Isso é um problema, pois tem consequência na forma como as políticas públicas são concebidas e em como os políticos enxergam o racismo e a violência contra esta população”, adverte. O parlamentar diz que o grande número de candidatos negros nas eleições municipais é um avanço, mas considera que o cenário está longe do ideal. “Só vamos conseguir combater o racismo se tivermos, no poder, pessoas negras e comprometidas com a luta”, reforça o distrital.

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