O Distrito Federal não tem eleições municipais, mas, bem perto, no Entorno, mais de 920 mil pessoas foram às urnas escolher prefeitos e vereadores para a gestão que terá início em 1º de janeiro de 2021. A Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (Ride/DF) é composta por 33 municípios, dos quais 29 estão no estado de Goiás e quatro, em Minas Gerais.
Segundo o presidente do Tribunal Regional Eleitoral de Goiás (TRE/GO), Leandro Crispim, essas foram as eleições mais tranquilas na história do estado, com “apenas sete prisões”. Uma delas aconteceu em Águas Lindas de Goiás, onde a Polícia Militar prendeu, em flagrante, um motorista de ônibus que levava eleitores para os locais de votação, o que configura crime eleitoral. Em 2016, ano do último pleito municipal, 41 pessoas foram presas em Goiás.
Ainda segundo o TRE/GO, do total de 12.921 urnas, 0,39% precisou ser substituída. Em geral, os eleitores não enfrentaram grandes filas para conseguir votar. A pandemia da covid-19 trouxe algumas mudanças no processo. Na entrada de cada zona, funcionários disponibilizavam álcool em gel para higienização das mãos. O mesmo era feito na entrada e na saída de cada sala, antes e depois de usar a urna eletrônica.
Moradora do Novo Gama (GO), Verônica Ferreira, 40 anos, acredita que as medidas sanitárias não foram plenamente adotadas pela população. “Os próprios eleitores não respeitam a questão do distanciamento, apesar das tentativas dos fiscais de manter a ordem”, relata.
Sujeira ilegal
Mais uma vez, centenas de santinhos — os tradicionais folhetos com foto e número de candidatos — ficaram espalhados pelas ruas. Calçadas em frente aos colégios eleitorais estavam tomadas pelos papéis, que costumam ser jogados durante a madrugada, como explica o guarda municipal de Águas Lindas (GO) Edinei Lúcio. “Os candidatos devem ser notificados”, afirma.
Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), constitui crime qualquer ato de propaganda no dia da eleição. A pena pode ser de detenção de seis meses a um ano (com alternativa de prestação de serviços à comunidade pelo mesmo período), além de multa de R$ 5 mil a R$ 15 mil.
Em coletiva de imprensa, o diretor-geral do Tribunal Regional de Goiás, Wilson Gamboge, disse que “o desejo era prender todos” que cometeram crimes eleitorais. As ocorrências foram encaminhadas para procedimentos judiciais. Para ele, a prática de espalhar santinhos, além de criminosa, é anti-higiênica, em especial neste momento em que se fala tanto na segurança sanitária e em deveres ambientais.
Em Santo Antônio do Descoberto (GO), a sujeira atrapalhou, inclusive, a locomoção de eleitores. O cadeirante Francisco Assis, 68 anos, se incomodou mais com a poluição do que com a falta de acessibilidade. “Eu tive dificuldade para entrar. Sozinho, não teria conseguido. Esses papeizinhos são uma falta de respeito”, reclama.
Busca por mudanças
Para os eleitores do Entorno, as cidades precisam de melhorias nos serviços públicos. A principal reivindicação é por mais atenção à saúde, com a construção de hospitais. Em Águas Lindas (GO), moradores criticam a falta de médicos e infraestrutura.
O pedreiro Adeilson Barbosa, 28 anos, afirma que, pela carência de atendimento, as duas filhas, de 1 e de 7 anos, tiveram de nascer em Brasília. “Esses dias, de madrugada, precisei de atendimento e só tinha um médico disponível. Desisti e fui embora”, conta a mulher dele, a empregada doméstica Letícia Souza, 28 anos.
A confeiteira Elisângela Ferreira, 40 anos, também espera investimentos em saúde. Ela e a filha, a dona de casa Dayane Dias, 23 anos, foram juntas votar. “Não adianta termos candidatos que prometem mundos e fundos e depois não cumprem. Na época de eleições, todos eles aparecem, mas, depois que ganham, fingem que nem nos conhecem”, critica Dayane. “A gente quer um prefeito e vereadores que realmente façam algo.”
A população também espera geração de empregos para que não seja preciso procurar trabalho no DF. “Todo mundo vai trabalhar em Brasília porque, para cá, não tem nada. Precisamos de uma indústria e de mais comércio para gerar oportunidades aqui”, avalia a empregada doméstica Maria Eunice Ferreira, 54 anos.
Ela trabalha no Sudoeste e, todos os dias, gasta, no mínimo, uma hora só de ida. Por isso, também cobra melhorias no transporte público. “Tenho que levantar às 4h para pegar ônibus porque só tem essa linha. Se tivesse mais linhas, a vida ficaria mais fácil”, acredita a moradora de Águas Lindas.
Festa da democracia
Embora pessoas acima de 70 anos não precisem votar, muitos idosos fizeram questão de exercer a cidadania. Luiz Aires, 70 anos, mora no município goiano de Novo Gama há 40 anos e, ontem, acordou cedo para votar. “Enquanto eu acreditar no processo eleitoral e tiver a capacidade de sair de casa, vou exercer minha função de cidadão”, diz.
Assim como ele, o aposentado Antônio Souza, 71 anos, não deixa de participar do pleito municipal. “Dessa forma, temos a oportunidade de mudar a realidade da cidade e aquilo que não nos agrada.”
Aos 65 anos, o lavrador Hélvio Roberto Araújo percorreu 60km entre a fazenda onde mora e a zona eleitoral, em Formosa (GO). “É um percurso que dura cerca de uma hora e meia, mas vale a pena enfrentar a distância para escolher os candidatos. Votei em pessoas boas que vão ajudar a área em que atuo”, conta.
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