TRABALHO

Maioria de desempregados no DF é negra

Jéssica Moura
postado em 19/11/2020 00:06


“O desemprego estrutural tem cor, e é negra”. A avaliação do gerente de pesquisas socioeconômicas da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), Jusçânio Umbelino, resume os resultados da última Pesquisa de Emprego e Desemprego no Distrito Federal (PED-DF). Entre abril e setembro, 72,6% dos 288 mil desempregados na capital federal eram negros, ainda que esse segmento da sociedade some 65,2% da força de trabalho.

O fenômeno de sobrerepresentação entre os desempregados se agravou durante a pandemia do novo coronavírus, já que vagas na construção civil e no setor de serviços foram reduzidas, explica Umbelino. “Há uma desigualdade histórica na participação do mercado de trabalho, com desvantagem para os negros”.

Jusçânio Umbelino ressalta que mesmo em épocas em que o mercado está contratando, é mais difícil para essa população conseguir uma vaga, a despeito de qualificação profissional ou escolaridade: “Ainda persiste em algumas regiões situações de discriminação e preconceito, e o mercado de trabalho não fica de fora”, esclarece. “Há mecanismos para ‘embranquecer’ a seleção”, complementa o gerente de pesquisas da Codeplan.

Foi assim com a assessora de comunicação Luana Luiza, 30 anos. Mesmo com uma pós-graduação, ela ficou quase um ano procurando emprego até conseguir uma vaga. Durante esse período, uma das recrutadoras aconselhou Luana a mudar a foto de perfil anexada ao currículo, que mostrava o rosto dela. “Entre todas as sugestões que ela poderia fazer, sugeriu isso. Cogitei que não tenho cara que a sociedade espera que tenha uma jornalista”. Hoje, empregada em uma empresa com 56 funcionários, é uma das quatro pessoas negras do local. “Não quero ser vista como a que está ali para preencher cota, embora, realmente, as ações afirmativas sejam necessárias”, afirma.

Setor privado

O estudo ressalta que as pessoas negras que estão empregadas conseguiram uma colocação, sobretudo, na iniciativa privada, onde estão 48,1% das mulheres e 50,3% dos homens negros. No entanto, apenas um quinto da população negra é de servidores públicos.

Por isso, o coordenador da Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial, Raphael Lima, destaca que o racismo “é extremamente sutil na sua apresentação, mas potente nos seus resultados. Todos esses elementos são nada mais do que partes de um sistema paralelo em operação, que provoca uma série de distorções”.

Outro dado que deixa evidente a assimetria de raça no mercado de trabalho são os rendimentos. Na capital federal, os homens negros ganham 53,7% das rendas de homens brancos, apesar de terem maior jornada média de trabalho semanal, de 41 horas. No caso das mulheres negras, a situação é ainda mais grave, já que elas recebem 47,4% dos ganhos dos homens brancos.

Em praticamente todos os indicadores pesquisados, as mulheres negras estavam em maior desvantagem. Além de receberem os menores salários, também acumulam maior proporção de desempregadas: 25,4%. Além disso, quando é observado o quadro geral, 30,9% da força de trabalho regional são de mulheres negras, mas elas são 39,3% entre todo o grupo de desempregados.

“A situação da mulher é ainda mais emblemática no mercado de trabalho. Ela é invisível, não está em lugar nenhum e ainda tem toda a carga do lar e do machismo que vai se juntar às questões raciais”, frisou Raphael.

Políticas públicas

Raphael Lima afirma que para superar essa disparidade, são essenciais políticas públicas que promovam a inserção desse segmento populacional no mercado de trabalho. “Não dá para as próximas gerações terem de lutar por isso”.

Uma das medidas do governo local foi a reserva de 20% de vagas para candidatos negros em concursos públicos do DF e, também, em estágios de órgãos distritais. Além disso, há as Praças de Direitos, que promovem qualificação profissional. “O nosso objetivo é oferecer oportunidade aos jovens para que eles quebrem as barreiras e conquistem seus sonhos”, afirma a secretária de Justiça, Marcela Passamani.

 

72,6%
dos desempregados no Distrito Federal são negros

 

 

 

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Covid-19: 495 novos casos


O Distrito Federal registrou oito mortes e 495 novos casos de covid-19 nas últimas 24 horas. Com isso, o número de infectados chegou a 221.526 — destes, 96% recuperaram-se da doença. Do total de infectados, 3.845 morreram, o que corresponde a 1,7% do número de pessoas que testaram positivo. Além disso, 3.287 mortes registradas apresentavam comorbidades. Os dados são do boletim epidemiológico divulgado, ontem, pela Secretaria de Saúde. Com taxa de mortalidade de 115 pessoas a cada 100 mil habitantes, a média móvel do número de óbitos da capital apresenta uma tendência de queda desde o começo de agosto.

 

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