Caminho pavimentado para a reeleição
Rafael Prudente (MDB) poderá ser o primeiro presidente reeleito da Câmara Legislativa. Os distritais aprovaram a possibilidade de recondução e o caminho de Prudente até o momento começa a se desenhar de forma clara. Depois da CPI da Pandemia, o emedebista fortaleceu-se com o governo e terá apoio do Buriti. Entre os parlamentares também tem apoio suficiente, até agora, para levar a disputa que ocorre no mês que vem e continuar no comando da Casa.
Novo ânimo
O governador Ibaneis Rocha (MDB) passou por momentos de desânimo e descontentamento durante parte do período da pandemia de covid-19, segundo aliados próximos do emedebista. No auge do pico de casos e de mortes na capital, ele avaliava, contam interlocutores, que a carreira política ficaria para sempre marcada pelo resultado da crise sanitária. Pesou também o desenrolar da operação Falso Negativo. A desaleceração dos casos e os sinais de que a economia podem se recuperar, no entanto, deixarem Ibaneis animado novamente.
Futuro
O governador ainda não decidiu qual caminho tomará em 2022. A reeleição está no horizonte, mas dependerá da avaliação que a população fará do governo. Ele não deve entrar no jogo sem acreditar que tem chances amplas de vitória, dizem aliados. O norte serão pesquisas. Foram elas que, em 2018, apontaram a possibilidade de uma improvável vitória mesmo sem ser conhecido pela maioria da população no início do pleito.
Articulação
A recondução de Márcia Abrahão à reitoria da Universidade de Brasília (UnB) pelo presidente Jair Bolsonaro foi, também, resultado de articulação política. Márcia conseguiu apoio com quase todos os parlamentares locais. A bancada do DF no Congresso, por exemplo, assinou uma carta pedindo a Bolsonaro que ela continuasse no cargo. Deu certo, mas existia o medo de que o presidente escolhesse alguém não referendado pela comunidade.
Segunda onda preocupa
A força-tarefa do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) que fiscaliza ações relacionadas à pandemia vai requisitar à Secretaria de Saúde informações sobre o andamento do inquérito epidemiológico e dos estudos de evolução dos números de casos, óbitos e de ocupação de leitos. O MPDFT também quer acompanhar de perto a distribuição dos equipamentos que estavam sendo usados no hospital de campanha do Estádio Nacional Mané Garrincha.
Unanimidade
O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, por unanimidade, declarar a legalidade da lei que combate a LGBTfobia no Distrito Federal. A lei, de autoria da ex-deputada distrital Maria José Maninha (Psol), foi aprovada há 20 anos, mas só foi regulamentada há três anos. Entretanto, assim que o texto foi publicado pelo Executivo, um decreto legislativo sustou os efeitos da legislação. A ministra Cármen Lúcia afirmou que a intervenção dos distritais “atenta contra os princípios da dignidade da pessoa humana e da igualdade, e importa inaceitável retrocesso social na proteção contra condutas discriminatórias em razão da orientação sexual das pessoas no Distrito Federal”.
Só Papos
“Reafirmo, aqui, a importância de retirarmos a obrigatoriedade do uso de máscaras por pessoas saudáveis em todas as ocasiões e lugares”
Bia Kicis (PSL-DF), deputada federal
“A segunda onda do coronavírus na Europa e nos EUA deve nos servir de alerta. Cuidados básicos, como uso de máscaras, lavar as mãos, evitar aglomerações e manter o distanciamento ao falar, podem salvar vidas”
João Amoedo, candidatoà Presidência em 2018 pelo Novo
Mandou bem
Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral, o número de prefeitos e vereadores negros eleitos nas eleições deste ano aumentou. O percentual é de 32%. Apesar do aumento, ainda falta muito para o cenário ideal.
Mandou mal
O vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) que, ao comentar o caso dos seguranças que assassinaram um homem negro em um Carrefour de Porto Alegre, afirmou que não existe racismo no Brasil. Quem dera ele estivesse certo...
A pergunta que não quer calar
O Distrito Federal realmente está preparando para a possibilidade de uma segunda onda da covid-19?
À QUEIMA-ROUPA
Cristovam Buarque, ex-senador e ex-governador do DF
O governo Bolsonaro acenou com o desejo de acabar com o aumento real no piso dos professores. O senhor é também autor da lei do piso. Qual seria o prejuízo de uma mudança assim?
Quando apresentei a proposta de lei para criar o Piso Nacional, cheguei a ser criticado no DF porque não beneficiaria os nossos professores, porque seus salários já estavam acima do valor estabelecido. E, fora do DF, não teria efeito prático, porque os prefeitos diziam não ter dinheiro, enquanto, no DF, a Educação é paga pelo Governo Federal sem problema de caixa. A Lei do Piso, que leva meu nome, é um gesto ainda tímido na direção da Federalização da Educação. Ainda tem um valor muito baixo, considerando o que se poderia imaginar como ideal, e no caso dos municípios, deixa a responsabilidade de pagamento sobre prefeituras sem dinheiro, mesmo que sejam baixos os valores. Por isso, apresentei um outro projeto de lei que responsabiliza o Governo Federal pelo pagamento do piso, mesmo aos professores municipais e estaduais. Mas, o que precisamos mesmo é aprovar esse projeto de lei e aumentar os valores, não extingui-lo como propõe o atual presidente. Isto seria um crime. Lembro que minha lei não teria prosperado sem o apoio do Ministro Haddad e do Presidente Lula.
A demora em torno da aprovação, no primeiro momento, e da regulamentação do Fundeb pode trazer prejuízos? Qual a importância do Fundeb para educação pública?
Teria sido uma catástrofe se não tivesse sido aprovada antes de 31 de dezembro. O Fundeb evita a catástrofe, mas não vai dar o salto que a educação brasileira precisa: escolas com a máxima qualidade e igual para pobres ou ricos. Para isso, será preciso ainda muito mais: a federalização do sistema escolar brasileiro.
Na avaliação do senhor, qual o tamanho do impacto da pandemia na educação? O que será preciso fazer para recuperar esse tempo?
A pandemia vai deixar um rastro maldito: crianças que não voltam à escola, professores que abandonam a carreira, escolas que não reabrem, além do apagão cognitivo em uma geração inteira. Mas, é uma ilusão colocar a culpa de nossa péssima e desigual escola na epidemia. Quando ela chegou, nós já estávamos entre os piores e provavelmente o mais desigual no mundo. É preciso ir atrás dos alunos e dos professores, recuperá-los psicologicamente, fazer a recuperação que nos acostumamos a fazer depois das miniepidemias das greves. Mas, não podemos parar na recuperação, precisamos de uma estratégia para, em um período mínimo de tempo possível, situarmo-nos entre os melhores e sem desigualdade por renda ou endereço. E, também, começarmos a substituir nossas aulas teatrais por aulas cinematográficas.
O governo Bolsonaro conseguirá a proeza de entregar a educação em uma situação pior do que a que encontrou?
Parece impossível, mas Bolsonaro está conseguindo piorar o que estava ruim. Em 2019 ele recebeu uma educação ruim, a culpa era nossa, seus antecessores tentam negar a realidade, mas ele pode realizar o que você chama de proeza: piorar.
Tem se falado muito sobre a unidade dentro dos grupos progressistas para derrotar Bolsonaro. O senhor acredita que isso acontecerá? O que precisa ser mudado para se chegar a esse resultado?
Falta tempo ainda, mas, pelo quadro atual, não vejo muita chance de alianças concentrando votos contra Bolsonaro. Pode ser que em 2022 haja uma frente de esquerda, o que não houve em 2018, Ciro e Lula se unam e atraiam outros partidos, mas ainda acho difícil. E os outros provavelmente vão estar divididos. Cada um acha que chega ao segundo turno e, chegando ,derrota Bolsonaro. Erram duas vezes. Para unir, será necessário um programa que não seja só para derrotar o horror bolsonarista, porque sabemos que qualquer ponto adicional além de derrotá-lo já não une as oposições.
Avaliando os resultados das eleições deste ano, é possível ter alguma esperança de mudança para 2022?
As eleições municipais têm pouco a ver com o nacional, salvo nas máquinas partidárias que surgem nos municípios. Mas, acho que muda pouco. A ideia de que o PT ficou fraco é um erro. O PT tem história e tem base. A ideia de que o PSol é uma novidade deixa se ver que ele tem uma cara nova, mas as ideias são as mesmas e antigas. A ideia de que a direita venceu está errada porque seus políticos não têm propostas para o futuro que seduzam o eleitorado. E a ideia de que Bolsonaro perdeu me parece um erro, porque ele mantém os mesmos fanáticos que devem levá-lo ao segundo turno onde ele só perderá se o seu opositor não tiver rejeição muito grande. Será a rejeição de um que determinará a eleição do outro.
O cenário para 2022 no Distrito Federal ainda é muito incerto. O senhor tem planos de voltar a concorrer nas próximas eleições? Existe essa possibilidade?
Se eu tivesse de decidir agora, seria quase impossível que a eleição me atraísse. Em 2018, o eleitorado me deu uma espécie de alforria para deixar a luta para outros. E estou muito feliz com a vida que posso levar quando a epidemia passar, não me sinto mais obrigado à insana luta política. Ao mesmo tempo, sinto-me comprometido a lutar.
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