ECONOMIA

DF recebe 200 mil trabalhadores que moram no Entorno todos os dias

Pesquisa de Emprego e Desemprego da Codeplan contempla 12 cidades do Entorno e constata que 42% da população desses municípios trabalham na capital federal. Estudo observou que esses profissionais têm mais dificuldades relativas à recolocação

Alan Rios
postado em 26/11/2020 06:00
 (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)
(crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)

A região conhecida como Entorno é parte ativa da movimentação do mercado de trabalho do Distrito Federal. A Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), divulgada ontem, pela Companhia de Planejamento (Codeplan), analisou, pela primeira vez, essa ligação entre cidades de Goiás e do DF, e concluiu que 42% da população do Entorno trabalham na capital federal. São cerca de 200 mil pessoas saindo diariamente de municípios que compõem a chamada Periferia Metropolitana de Brasília (leia Para saber mais). Enquanto uma parcela dessa população enfrenta longos trajetos e preços de passagens de ônibus mais caras para se deslocar ao serviço, por exemplo, outra parte convive com a falta de oportunidade no mercado. A taxa de desemprego dessas cidades ficou em 25,6% em outubro, maior do que o índice do DF (18,5%) e do grupo de baixa renda da capital (23,9%).

“Realizamos a pesquisa com dados da Área Metropolitana de Brasília para entender esse fluxo de pessoas, onde trabalham, qual o perfil delas, os empregos que ocupam, e, assim, poder auxiliar na formulação de políticas públicas para essas regiões”, explicou o presidente da Codeplan, Jean Lima. Para ele, incluir essas cidades do Entorno no levantamento de emprego e desemprego do DF permite visualizar melhor a realidade da capital. Os resultados mostram que o tipo de trabalho exercido pela população da periferia metropolitana costuma ser menos valorizado. Enquanto o rendimento médio mensal dos assalariados na capital é de R$ 4.285, no Entorno é de R$ 1.775.

Ao todo, 78,9% habitantes ocupados da Periferia Metropolitana de Brasília trabalham nos setores de serviços ou comércio e reparação. São majoritariamente homens (57,9%), têm entre 25 a 49 anos (67,5%) e tiveram empregos anteriores (90%). Franquelino Ângelo Souza, 49 anos, encaixa-se nesse perfil e conta que existem muitas dificuldades de qualificação. “Moro em Águas Lindas, porque foi lá que consegui comprar meu lote, e vejo que só consegue trabalhar em Brasília quando a pessoa já é profissional, tem experiência. Quem está começando não consegue emprego”, avalia o técnico de manutenção.

Transporte

Franquelino é usuário do transporte público e lembra que essa é uma barreira a mais para a população do Entorno. Nas linhas de ônibus do DF, a passagem mais cara custa R$ 5,50. Nas linhas do Entorno, há locais em que a tarifa passa de R$ 10. “Quando alguém de Águas Lindas, Valparaíso ou alguma outra cidade de Goiás vai para uma entrevista de emprego, é praticamente obrigado a mentir e dar um endereço do DF, porque eles sabem que vão ter que pagar uma passagem mais cara, que a pessoa vai demorar mais a chegar no serviço. Graças a Deus, não foi o meu caso, mas vejo muito disso e um certo preconceito com quem vem do Entorno”, argumenta. Atualmente, a População Economicamente Ativa (PEA) da periferia metropolitana é composta de 615 mil pessoas, sendo que 157 mil estão desempregados. Ao todo, 29,3% desses empregados são trabalhadores autônomos ou domésticos, enquanto 41,2% possuem carteira assinada em empresa privada.

A doméstica Iris Daiana, 38, mora em Valparaíso e trabalha na Octogonal. “Quem mora lá e trabalha aqui sabe que tem muita coisa que dá para melhorar. O transporte público, por exemplo, é caro e vive lotado. Quem não tem emprego tem dificuldade de conseguir no DF e ainda mais no Entorno”, observa. Também é essa a visão de Antônio Pereira Santos, 50. “Sempre foi difícil conseguir emprego, mas agora, na pandemia, as oportunidades tanto em Goiás quanto em Brasília quase não aparecem mais”, diz o morador de Céu Azul e terceirizado de uma empresa que presta serviço para o Senado Federal.

Recortes

O contingente de desempregados no DF, em outubro, foi estimado em 295 mil pessoas — 7 mil a mais do que o observado em setembro. A taxa de participação, que diz respeito à proporção de pessoas com 14 anos ou mais incorporadas ao mercado de trabalho como ocupadas ou desempregadas, porém, aumentou de 62,7% para 63,6%. Entre setembro e outubro, o índice de desemprego da capital diminuiu nas regiões de baixa renda, de 24,9% para 23,9%; e nas regiões de média-alta renda, de 16,4% para 16,0%; mas aumentou nas regiões de média-baixa renda, de 21,0% para 22,2%. No mesmo período, entre a população negra, o desemprego subiu de 20,3% para 20,6%, enquanto diminuiu de 15,3% para 15,1% para não negros.

Qualificação

Um dos caminhos para combater o desemprego é promover a qualificação profissional. Secretário de Trabalho do DF, Thales Mendes Ferreira avalia que a pesquisa permite que as ações feitas pela pasta possam ser aprimoradas. “A gente sabe que, quanto mais qualificação, mais condições a pessoa tem de disputar uma vaga no mercado. Por isso, temos feito várias ações na secretaria, como o programa Renova-DF, que dá aulas e bolsa de estudo no valor de um salário mínimo para 3 mil pessoas. Também iniciamos outro programa recente de qualificação e requalificação de pessoas, com 4 mil vagas, que foram procuradas por 11 mil inscritos. Esse é um dos nossos caminhos para combater o desemprego neste ano e em 2021”, adianta.

Thales lembra as dificuldades dos moradores do Entorno analisadas pelo estudo, mas diz que o levantamento facilita as interlocuções entre os governos do DF, de Goiás e o federal. “A pesquisa mostra a necessidade de ter uma política pública mais estruturante, que é uma grande discussão há muito tempo. Na área da saúde, por exemplo, temos a realidade de que muitos moradores de Goiás precisam do sistema do DF. Observamos que a questão do preço da passagem é impeditiva. Então, há um alerta para gestores estaduais e federais, que precisam discutir uma política pública nacional de fomento ao emprego. Isso não pode ser pensado de forma egoísta, voltada só para o nosso estado”, defende. O secretário ressalta o trabalho realizado pela Agência do Trabalhador, calculando uma média de 800 a mil vagas divulgadas diariamente.

Para saber mais

Área Metropolitana

A Área Metropolitana de Brasília é composta pelo Distrito Federal e por 12 municípios goianos: Luziânia, Valparaíso de Goiás, Novo Gama, Cidade Ocidental, Santo Antônio do Descoberto, Águas Lindas de Goiás, Planaltina, Formosa, Padre Bernardo, Alexânia, Cristalina e Cocalzinho. Excluindo-se o DF, essas 12 cidades constituem a denominada Periferia Metropolitana de Brasília. A Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e do Entorno (Ride-DF), é mais ampla. Ela contempla 33 municípios, sendo 29 de Goiás e quatro de Minas Gerais, além do Distrito Federal.


Cenário

Distrito Federal
2.498 milhões: População em Idade Ativa
1.295 milhão: Ocupados
295 mil: Desempregados

Periferia Metropolitana de Brasília
918 mil: População em Idade Ativa
458 mil: Ocupados
157 mil: Desempregados

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