FEMINICÍDIO

Alento para família de Noélia Rodrigues

Cibele Moreira
postado em 27/11/2020 21:46 / atualizado em 27/11/2020 21:48
 (crédito: Reprodução/Facebook)
(crédito: Reprodução/Facebook)

Um ano, um mês e 11 dias após o assassinato de Noélia Rodrigues de Oliveira, 38 anos, a família da vítima respira com um pouco mais de alívio. Acusado de matar a vendedora, Almir Evaristo Ribeiro, 44, foi condenado a cumprir pena de 29 anos, um mês e 15 dias em regime fechado. O julgamento, no Tribunal do Júri de Águas Claras, começou na tarde de quarta-feira e teve mais de 12 horas de duração.

Para o advogado Marcus Aurélio Silva de Oliveira, 29, sobrinho de Noélia, o resultado do júri representou uma “esperança na Justiça brasileira” e o fim de um trâmite demorado e exaustivo. Ele comentou que todos na família ficaram satisfeitos com o desfecho do caso. “A gente conseguiu demonstrar a materialidade do crime. Os votos foram unânimes, e a justiça foi feita”, acrescentou Marcus, que atuou como assistente de acusação.

O advogado considerava a tia como uma segunda mãe e disse que a sentença não apagou a dor da perda, mas acalentou a família. “Ele (Almir) não poderia ser absolvido. Ele tinha a intenção de matar a Noélia. Sempre falei, desde o início, que não foi um assassinato, foi uma execução. E o inquérito mostra isso”, ressaltou. Marcus afirma que continuará a acompanhar o caso, para assegurar que haja cumprimento da pena.

Relatos de testemunhas, imagens de câmeras de segurança das ruas por onde Noélia passou e gravações de celular embasaram o inquérito encaminhado pela polícia ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). O promotor de Justiça Renato Augusto Ercolin, que cuidou do caso e acompanhou o júri, afirmou que sete testemunhas prestaram depoimento durante a sessão no tribunal. Os relatos, segundo ele, contribuíram para a decisão dos jurados. “Ela morreu com um tiro na cabeça. A vítima não teve como reagir e se defender”, destacou Renato.

No processo, Almir Evaristo respondeu pelos crimes de homicídio qualificado — por feminicídio e uso de recurso que dificultou a defesa da vítima —, além de porte ilegal de arma de fogo. Segundo as investigações, no dia do assassinato, o acusado esperou Noélia nas imediações do shopping onde ela trabalhava, próximo ao fim do expediente da vendedora. Os dois eram vizinhos, e a vítima pegou carona com o réu.

Almir levou Noélia até o Assentamento 26 de Setembro, onde, posteriormente, o corpo dela foi encontrado (leia Memória). Para o promotor Renato Augusto, as qualificadoras do crime tiveram grande peso para o veredito. Ele considerou que o julgamento e a sentença ficaram dentro do esperado. “A vítima tinha intensa ligação com os filhos, e essa relação foi interrompida. Outro ponto levado em consideração (para o julgamento) foi a dissimulação do autor. Durante todo o processo, ele tentou levar o juízo ao erro. Até após o crime, ao mandar mensagem prestando condolências ao marido da vítima”, detalhou Renato.

A defesa de Almir recorreu da decisão. O advogado do acusado, Norberto Soares Neto, afirmou que entrou com recurso para anular o processo e, caso não consiga, vai pedir a redução da pena. O defensor argumentou que não há elementos suficientes que comprovem a autoria do crime e que Almir alega não ter matado Noélia. “Ele jura que não matou ninguém”, destacou Norberto, que contestou as justificativas apresentadas ao júri. “Ainda que ele (Almir Evaristo) fosse culpado, não se sustenta uma condenação de 29 anos”, acrescentou.

Por se tratar de uma pena de mais de 15 anos de reclusão, o magistrado negou o direito do réu recorrer em liberdade. Almir Evaristo seguirá preso preventivamente até a última instância do julgamento. Na avaliação do advogado de defesa, a análise do recurso deve demorar cerca de dois meses. “Não há nenhuma prova que justifique a autoria do crime. Entramos com recursos em todas as alegações. Não tem nada que prove que ela entrou no carro, nem se na unha dela tem vestígios de DNA dele. Isso todo será debatido”, pontuou Norberto.

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Memória

A sangue frio

Noélia trabalhava como vendedora de loja, em um shopping da Asa Norte. Depois de terminar o expediente, em 17 de outubro de 2019, ela não foi mais vista. No dia seguinte, após tentar contato com ela e não conseguir, o marido da vítima, Marcos Paulo Mendes, registrou o desaparecimento da vítima. O corpo da vendedora só foi encontrado no dia seguinte, na Colônia Agrícola 26 de Setembro. Noélia foi assassinada com um tiro no rosto, em uma área de difícil acesso entre a Cidade Estrutural e Vicente Pires. A perícia indicou que houve luta corporal entre ela e o assassino. A vítima deixou marido — com quem era casada havia mais de 10 anos — e três filhos: um menino de 16 anos; uma menina de 9; e outro menino, de 5. A família morava no Sol Nascente, próximo à casa de Almir Evaristo, acusado de matá-la.

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