MUDANÇA

Bares e restaurantes terão que fechar até três horas mais cedo aos fins de semana

GDF determina que bares e restaurantes funcionem até as 23h, a fim de diminuir a circulação do novo coronavírus na capital, que tem mais de 230 mil infectados. Medida gerou críticas de empresários. População tem papel importante no controle da doença

Cibele Moreira
Washington Luiz
postado em 02/12/2020 06:00
 (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
(crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

Diante do aumento da taxa de infecção pelo novo coronavírus no Distrito Federal para 1,3 R(t), o governador Ibaneis Rocha (MDB) decretou, ontem, o fechamento de bares e restaurantes às 23 horas. Antes, esses estabelecimentos podiam funcionar até meia noite, de segunda a quinta, e até as 2h, nos fins de semana. Com o limite de horário, o Governo do Distrito Federal (GDF) pretende reduzir aglomerações e conter o avanço do número de casos da covid-19 na capital. Para especialistas a medida precisa ser acompanhada da fiscalização do Estado e da conscientização por parte da população para surtir efeito.

Ibaneis afirmou que não descarta restringir as atividades, caso os números da pandemia saiam do controle — segundo a Secretaria de Saúde, o DF tem 230.122 infectados, sendo que 3.939 morreram devido à covid-19 e 219.081 estão recuperados. O governador garantiu que o GDF vai optar, primeiro, por intensificar as ações educativas. “Ou eles (comerciantes) partem para nos ajudar na conscientização, infelizmente ou felizmente — porque eu tenho que cuidar da saúde da população —, vou ter que encerrar o expediente desses locais cada vez mais cedo e implementar restrições à quantidade de pessoas”, disse o governador em Arniqueira, após assinar decreto que dá início à regularização da região.

Ilustração
Ilustração (foto: Editoria de ilustração)

Apesar de não falar em fechamento total, Ibaneis Rocha reavaliou o cenário da doença nas últimas semanas. Em 18 de novembro, durante almoço com empresários da capital, o emedebista garantiu que o DF estava preparado para uma possível segunda onda.

Para explicar o endurecimento das ações, Ibaneis ressaltou que, no último fim de semana, as equipes da Secretaria de Proteção da Ordem Urbanística do Distrito Federal (DF Legal) flagraram e autuaram bares e restaurantes por não respeitarem as regras de funcionamento — 20 foram interditados. “Nós tivemos um número muito elevado de autuações”, disse.

De acordo com a pasta, esses estabelecimentos são os que mais desrespeitam as normas de vigilância sanitária contra a covid-19. Entre março e novembro, o DF Legal aplicou 395 multas por desobediência às medidas de saúde. Ao todo, houve a interdição de 1.678 estabelecimentos. Foram abordados mais de 82 mil pessoas e 170 receberam multa por não usarem máscaras.

Repercussão

Representantes de entidades empresariais criticaram o novo decreto do governo. Para o presidente do Sindicato Patronal de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Brasília (Sindhobar), Jael Antônio da Silva, “o setor não é o principal foco de circulação do novo coronavírus. Fica parecendo que os bares e restaurantes são os responsáveis pela contaminação do vírus, mas outros locais são muito mais propícios para contaminação, como as áreas de lazer na beira do lago, que estão sempre com aglomeração e sem controle nenhum”, analisa. “Nós preparamos um protocolo de segurança que está sendo seguido rigorosamente. Tem um ou outro (estabelecimento) que não está cumprindo as normas, mas tem que punir esses e não o setor inteiro”, pontua Jael, que articula um pedido ao governador para anular o decreto.

Outra preocupação apontada pelo presidente do Sindhobar é a questão de o mês de dezembro ser marcado por confraternizações de fim de ano. “Historicamente, este é o mês com mais faturamento no setor. E estamos vindo de um período em que os estabelecimentos ficaram fechados durante muito tempo, e, agora, que estão se recuperando. Essa redução do horário de funcionamento vai ter um impacto significativo”, destaca. “Estávamos em uma reunião junto com o secretário de Saúde e outros representantes de entidades empresariais e sindicatos, quando saiu o decreto. Se era uma decisão, para que convocar uma reunião então?”, desabafa Jael.

No encontro, os representantes de diversos segmentos se comprometeram a reforçar os protocolos de segurança e a ajudar a promover campanhas de conscientização de prevenção ao vírus. “A questão não são os estabelecimentos, mas as pessoas que não estão seguindo as normas impostas para evitar a propagação da covid-19”, analisa o presidente do Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal (Sindivarejista-DF), Edson de Castro.

No dia das oitavas de final da Copa Libertadores, com jogo do Flamengo, estabelecimentos que costumam transmitir as partidas tiveram que se adaptar para seguir o novo decreto. O gerente do bar Fausto e Manoel, do Sudoeste, Afrânio Cordeiro, contou ao Correio que estava preocupado em como faria para fechar o local no meio do jogo de ontem. “Para a gente, é bem complicado. Na hora do intervalo do jogo, as pessoas vão ter que ir embora. Não sei nem como vou fazer”, lamenta. Na avaliação dele, a restrição no horário não resolve a questão. “Se for para aglomerar, vai começar a aglomerar mais cedo. A pessoa não vai deixar de ir ao restaurante por isso”, pondera. De acordo com Afrânio, o bar segue todas as normas de segurança impostas pelo governo, como distanciamento das mesas, funcionamento com 50% da capacidade e o uso de máscaras.

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  • Decreto de Ibaneis foi motivado pelo cenário da covid-19 no DF, em que a taxa de trasmissão do virus aumentou. Hoje, 100 infectados passam a doença para 130 pessoas
    Decreto de Ibaneis foi motivado pelo cenário da covid-19 no DF, em que a taxa de trasmissão do virus aumentou. Hoje, 100 infectados passam a doença para 130 pessoas Foto: Ed Alves/CB/D.A Press
  • Ilustração
    Ilustração Foto: Editoria de ilustração
  • Estabelecimentos vêm se recuperando dos efeitos da pandemia, que chegou a provocar a demissão de 1,3 milhão de trabalhadores no setor
    Estabelecimentos vêm se recuperando dos efeitos da pandemia, que chegou a provocar a demissão de 1,3 milhão de trabalhadores no setor Foto: Minervino Júnior/CB/D.A Press

Inquérito

O GDF inicia, hoje, um inquérito epidemiológico para traçar a situação da pandemia do novo coronavírus no Distrito Federal. O monitoramento começa por Ceilândia. O plano, segundo a Secretaria de Saúde, é controlar a doença a partir do serviço de atenção primária à saúde nas unidades básicas de saúde (UBSs), com o monitoramento dos pacientes. Para isso, serão disponibilizados 150 mil testes e 600 oxímetros.

 

Ensino domiciliar

A Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) aprovou, ontem, em segundo turno, o projeto de lei que regulariza o ensino em casa — homeschooling. A proposta, recebeu 12 votos favoráveis e cinco contrários. O texto segue para apreciação do governador Ibaneis Rocha (MDB). Proposta estabelece que a opção pela educação domiciliar é exclusiva de pais ou responsáveis pelos estudantes e deverá ter registro junto à Secretaria de Educação do Distrito Federal, para fins de acompanhamento. As famílias deverão demonstrar aptidão técnica para o desenvolvimento das atividades pedagógicas ou contratar profissionais capacitados.

 

Respeito às medidas é fundamental

Classificada como bem-vinda por infectologistas, a decisão do GDF de restringir o horário de funcionamento de bares e restaurantes pode não reduzir as aglomerações e os casos de covid-19, caso a população não respeite as medidas de segurança, acredita o médico Dalcy Albuquerque. Segundo ele, o governo local deve reforçar as fiscalizações e as pessoas precisam se conscientizarem de que a pandemia não acabou.

“Eu poderia até dizer que seria preciso outras medidas, mas, na verdade, o que a gente precisa é que as pessoas entendam que a pandemia está aqui, hoje, tanto quanto estava em julho, junho, abril. Precisamos de conscientização e fiscalização de maneira efetiva dessas medidas. Mais importante que fechar às 23h, é fiscalizar o que acontece antes das 23h, senão, você vai apenas impedir que a transmissão ocorra após as 23h, mas ela já ocorreu antes”, explica.

Segundo Albuquerque, é importante priorizar e reforçar medidas simples que acabaram sendo deixadas de lado. “As pessoas não estão respeitando as medidas de prevenção, que são o uso de máscara e o distanciamento. Não estou nem falando só da mesa do bar, estou falando de distância de quem está na minha frente, em uma rua, em uma fila.”

 

Protocolos

Confira as principais medidas que bares e restaurantes precisam adotar para evitar a propagação do coronavírus

Funcionários e clientes devem usar máscaras;

Estabelecimentos precisam disponibilizar álcool em gel 70% a todos os clientes e frequentadores;

Temperatura dos clientes deve ser aferida na entrada;

Distanciamento de pelo menos dois metros entre pessoas;

Higienização de cadeiras e mesas.

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