Defesa alega que delegado preso plantava maconha para consumo próprio

Marcelo Marinho de Noronha, dois filhos e a esposa tiveram a prisão em flagrante convertida para preventiva por tráfico de drogas. Eles são suspeitos de manter uma plantação de maconha em uma chácara, em São Sebastião

Cibele Moreira
postado em 06/12/2020 06:00
 (crédito: Material cedido ao Correio)
(crédito: Material cedido ao Correio)

 

O delegado da Polícia Civil do Distrito Federal Marcelo Marinho de Noronha, 54 anos, foi preso em flagrante, na sexta-feira (4/12), pelos crimes de tráfico de drogas e associação para a produção e tráfico. O auto de prisão partiu da 2ª Vara de Entorpecentes do Distrito Federal após investigações coordenadas pela Corregedoria Geral da corporação encontrarem uma plantação de maconha em uma chácara, em São Sebastião. Os dois filhos dele — Marcos Rubenich Marinho de Noronha, 20, e Ana Flávia Rubenich Marinho de Noronha, 25 — e a esposa, Teresa Cristina Cavalcante Lopes, 39, também estão presos pelos mesmos crimes.

Marcelo Noronha integra, desde maio, a Comissão Permanente de Disciplina, da Direção-Geral da Polícia Civil do Distrito Federal. Ele atuou como diretor da Penitenciária do Distrito Federal II, da Subsecretaria do Sistema Penitenciário do DF, e esteve à frente da 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá) e da 16ª DP (Planaltina). Noronha trabalha nos órgãos de Segurança Pública do Distrito Federal desde 2012. Após a prisão, o diretor-geral da Polícia Civil do DF, Robson Cândido, pediu a exoneração de Marcelo Marinho de Noronha. A saída do delegado deve ser oficializada em publicação no Diário Oficial do DF.

Durante a audiência de custódia, que ocorreu ontem, o juiz substituto do Núcleo de Audiência de Custódia, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), Evandro Moreira da Silva, converteu a prisão em flagrante dos quatro suspeitos em preventiva. Segundo a decisão do magistrado, a prisão foi mantida devido ao envolvimento dos acusados com o caso.

Esquema

A investigação policial contra o delegado Marcelo Noronha iniciou após uma denúncia anônima a qual apontava que Marcelo atuava em esquema de tráfico de drogas com os dois filhos. Tendo em vista a gravidade das acusações, policiais iniciaram o monitoramento dos suspeitos e chegaram em uma chácara no DF, onde foi encontrada a plantação de maconha. Segundo consta no documento da audiência de custódia, o local estaria vinculado à esposa de Marcelo, Teresa Cristina. Os autos revelam que um jardineiro recebia R$ 700 por semana para cuidar do cultivo.

Com o auxílio de um drone, a Polícia Civil constatou a existência de estufas e iluminação artificial na chácara para o cultivo do entorpecente. Diante das informações coletadas, foram expedidos mandados de busca e apreensão nas residências dos suspeitos e na chácara.

Segundo relato do policial que fez o flagrante, durante a audiência de custódia, o esquema de produção da droga era industrial. “Nunca, em 22 anos de polícia, havia visto algo semelhante”, afirmou. Foram encontrados no local instrumentos como estufa, iluminação artificial, sementes, vasos, tesouras, balanças de precisão, documentos supostamente relacionados ao ilícito, armas e munições, inclusive de propriedade da Polícia Civil.

Na residência do casal, foram encontradas porções de maconha, resinas para a produção de droga, fertilizantes e embalagem postal, além de contas de água e energia elétrica da chácara. De acordo com o policial condutor do flagrante, Marcelo Noronha teria informado que, na viagem que fez recentemente para a Colômbia com a esposa, teria comprado sementes para a produção de cannabis sativa. Os entorpecentes, segundo o suspeito, seriam fornecidos para amigos próximos.

Foram encontradas 24 plantas grandes de cannabis sativa, com a massa líquida estimada de 16,8 kg; 105 mudas pequenas da mesma planta, com a massa líquida estimada de 24,85g. De acordo com os autos da audiência de custódia, a grande quantidade de plantas encontradas no local configura em delito de tráfico, e não apenas a de produção para uso próprio da substância.

O advogado de defesa da família, Cleber Lopes de Oliveira, disse que vai entrar com o pedido de habeas corpus dos suspeitos amanhã. “Houve uma precipitação da polícia em afirmar que o Marcelo, um delegado, estaria envolvido em esquema de tráfico. As plantas são pequenas ainda, são mudas, e muitas nem vingam. Não tem nenhum elemento que prove a participação do Marcelo na prática de tráfico”, afirmou o advogado. De acordo com ele, Marcelo Noronha teria plantado as mudas para uso terapêutico próprio.

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