Já imaginou ter a oportunidade de fazer seu próprio curta-metragem e ainda ser reconhecido? O sonho virou realidade para os vencedores da 1ª Mostra On-line de Curtas das Escolas Públicas do Distrito Federal #Curtadecasa. O evento, adaptado para o formato virtual em razão da pandemia do novo coronavírus, foi uma oportunidade de dar continuidade por meio virtual às atividades propostas pela Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEEDF).
Neste ano, como medida de segurança para conter a disseminação da covid-19, a secretaria não realizou o Festival de Curtas das Escolas Públicas do Distrito Federal — evento organizado pela equipe da Gerência de Mídias Pedagógicas — Canal E, com o mesmo objetivo da Mostra On-line e que fazia parte do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, um dos mais importantes do país.
Há cinco anos, a Gerência de Mídias Pedagógicas promove o festival em parceria com a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do DF. A ação pedagógica incentiva a aprendizagem por meio da produção fílmica, além de estimular o protagonismo estudantil com a mediação de professores.
Para incentivar a participação, foram pré-selecionados e veiculados na página do festival 40 filmes inéditos, sendo 20 produções dos anos finais do ensino fundamental, do ensino médio, da Educação para Jovens e Adultos (EJA) e da educação profissional, e 20 dos servidores do magistério e da assistência à educação. Também foram veiculados 30 filmes das cinco últimas edições do Festival de Curtas. A partir da veiculação, os trabalhos puderam ser votados pelo júri popular.
As produções inéditas têm, no máximo, dois minutos duração, com tema livre. Puderam concorrer documentários, animações, ficção e vídeos experimentais, entre outros gêneros. Na categoria estudantes, dos 1.278 votos, 400 foram para o vencedor É tarde. Os trabalhos de profissionais da educação tiveram 1.148 votos e o escolhido, A flor de Ayana, recebeu 597. Para o melhor filme das últimas cinco edições, 255 pessoas opinaram e, destas, 239 elegeram o ganhador, que foi o curta O privilégio.
Incentivo
“E quando existem vantagens apenas para um indivíduo ou um grupo, em detrimento de muitas outras pessoas, podemos chamar de privilégio?” A partir desta pergunta, o ator e professor Edmar de Oliveira Moreira, 32 anos, e o estudante Marcos Vinícius Lopes Camargo, 16, produziram o curta vencedor da categoria Melhor Filme das Últimas Cinco Edições do Festival de Curtas das Escolas Públicas do Distrito Federal, O privilégio. “A inspiração surgiu a partir do tema proposto pelo 4º Festival de Curtas das Escolas Públicas. Em 2018, o tema era “O que você tem a ver com a corrupção?”, explica o estudante.
A participação da dupla no projeto veio do interesse de Marcos em “testar algumas capacidades, principalmente com edição de vídeo e montagem”, e do desenvolvimento do projeto de produção audiovisual de Edmar na escola há cinco anos, chamado Festival de Curtas do CEF 602, onde os estudantes do ensino fundamental produzem seus próprios curtas, após as orientações realizadas durante as aulas de arte. “Com o desenvolvimento desse projeto, a escola sempre buscou encaminhar as produções audiovisuais para outros festivais do DF”, explica o professor.
Segundo a dupla, a escola ficou em festa com o reconhecimento. “Receber esse prêmio é motivo de muita alegria e uma forma de reconhecimento pelo trabalho desenvolvido. Temos grandes talentos artísticos dentro do CEF 602 do Recanto das Emas”, garante o professor. Para Marcos, que ficou responsável pelo roteiro, direção, edição, animação e fotografia, a notícia é motivo de celebração. “Eu me senti orgulhoso, porque fiz o curta sozinho, com a orientação do professor Edmar. Isso me incentiva a estudar mais sobre filmes, principalmente animação para participar de mais festivais”, diz o estudante.
“Um prêmio como esse, vem como resultado de muita garra, dedicação e prazer ao fazer arte. Chega em um momento, em que muitas transformações estão acontecendo na sociedade e reforça a importância em acreditar nos projetos dentro das escolas públicas”, diz o professor. “Principalmente projetos voltados para a produção artística. Esse prêmio nos dá mais alegria e vontade em continuar produzindo filmes que representam as narrativas dos nossos jovens”, completa Edmar.
Espaço de fala
O episódio de racismo contra uma criança, de apenas três anos, vivenciado durante o período da pandemia ganhou a narrativa do curta A flor de Ayana, vencedor da categoria de profissionais da educação. A experiência foi vivenciada pela filha da professora Danielle Daiane Reis, 34, responsável pelo roteiro, narração e edição do filme. “Estávamos chegando em casa e passou uma criança, branca, de olhos claros e quando avistou a gente, apontou para minha filha e falou: “Olha que menina feia, parece um urubu”. Essa garotinha devia ter por volta de cinco ou seis anos no máximo. Meu coração despedaçou em mil pedacinhos”, lamenta.
A situação, apesar de despertar um sentimento de revolta e tristeza em Danielle, impulsionou a professora a lutar fortemente por uma educação para a diversidade. “O fato de a atitude racista partir de uma outra criança reafirma o quanto é importante e urgente uma educação antirracista desde a educação infantil. Comecei então a pensar em uma maneira de dizer a minha filha e às outras crianças que esse tipo de situação acontece e escrevi uma história, com uma linguagem direcionada a este público”, conta.
Responsável pela ilustração e fotografia do curta, a professora Flávia Louredo diz que quando viu o relato de Danielle na rede social, se colocou no lugar. “Sofri preconceito a vida inteira e a situação vivida e retratada na história me remeteu a várias situações vivenciadas por mim e, em especial, a uma situação vivida por minha filha mais nova, a Laurinha, quando tinha apenas três anos. Eu sabia que ela sofreria com o racismo. Um dia. Não tão cedo”, lamenta.
“Como mulher preta e mãe, não tive como não me posicionar. Como mães, é insustentável tolerar o racismo. Como profissional da educação é imprescindível buscar uma educação antirracista que construa desde a base o respeito entre as pessoas. Que mostre que nós somos, sim, protagonistas da própria história”, reforça Flávia.
Com o intuito de tornar o vídeo acessível, o pedagogo e intérprete de libras Rodrigo Cosme dos Santos, 34, foi convidados pelas professoras. “O intuito é de levar conhecimento e romper as barreiras do preconceito a partir da educação infantil. Nessa perspectiva, vejo que a produção do vídeo contribui para o desafio da acessibilidade que envolve também a comunidade surda, realizando a interpretação do português para Libras, Língua Brasileira de Sinais”, reforça.
Muito além do reconhecimento, Danielle acredita que serem selecionados como vencedores da categoria mostra que não estão sozinhos. “Isso nos encoraja a continuar lutando fortemente por uma educação antirracista. Sabemos que podemos contar com essa rede de apoio”, diz. Agora, a professora afirma que os objetivos vão além: “Estamos com muitos planos, um deles é a publicação do livro com a história. Não sabemos ainda por onde começar, mas estamos muito empolgados”, acrescenta.
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Conheça os trabalhos
Categoria Estudantes
É tarde – Briza Mantzos, 3ª série do Ensino Médio, CEM Elefante Branco
Direção, roteiro, fotografia, sonoplastia e edição: Briza Mantzos
Atuação e narração: Victor Romero e Wendy Rocha
Sinopse: Victor vê uma mulher que está tomando café dentro do metrô. Sem entender o desejo de se vestir e de ser igual a ela, entra em seu espaço mental para conversar com a parte de si mesmo que está no processo de descoberta. Cheio de medo do que vão dizer, ele precisa decidir se consegue ser para todos o que sempre soube que era.
Categoria Profissionais da Educação
A flor de Ayana – Danielle Daiane Reis, professora de atividades, CRE de Samambaia
Roteiro, narração e edição: Danielle Daiane Reis
Ilustração e fotografia: Flávia Louredo
Intérprete de libras: Rodrigo Cosme
Sinopse: O vídeo retrata, com adaptações, um episódio de racismo contra uma criança, de apenas três anos, vivenciado durante o período da pandemia. Esta situação, apesar de despertar um sentimento de revolta e tristeza, nos impulsiona a lutar fortemente por uma educação para a diversidade. O fato de a atitude racista partir de uma outra criança reafirma o quanto é importante e urgente uma educação antirracista desde a educação infantil.
Melhor filme das cinco últimas edições do Festival de Curtas
O privilégio – Centro de Ensino Fundamental 602 do Recanto das Emas
Roteiro, direção, edição, animação e fotografia: Marcos Camargo
Professor orientador: Edmar de Oliveira
Sinopse: E quando existem vantagens apenas para um indivíduo ou um grupo, em detrimento de muitas outras pessoas, podemos chamar de privilégio?