CAPITAL

Beleza de Brasília completa 33 anos como Patrimônio da Humanidade

Capital federal completou, nesta segunda-feira (7/12), 33 anos como Patrimônio Cultural da Humanidade, título concedido pela Unesco. Compositora do hino oficial da cidade, Neusa França ganhou homenagem pelo centenário de nascimento

Darcianne Diogo
Bárbara Fragoso
postado em 08/12/2020 06:00
 (crédito: Darcianne Diogo/CB/D.A Press)
(crédito: Darcianne Diogo/CB/D.A Press)

Mesmo sem a bagagem histórica de Paris, Atenas e Roma, por exemplo, a singularidade de Brasília torna-se suficiente para que seja reconhecida no mundo inteiro. Afinal, com a ousadia em primeiro plano, sem ser somente o piloto, a capital federal entrou, aos 27 anos, para o grupo das cidades com o título de Patrimônio Cultural da Humanidade da Unesco, o braço da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Educação, Ciência e a Cultura. Esse reconhecimento veio há 33 anos, em 7 de dezembro de 1987.

“Em relação à arquitetura e ao urbanismo de Brasília, percebemos que alcançam uma expressão nova, brasileira, nos projetos de Lucio Costa e Oscar Niemeyer”, explicou a arquiteta e urbanista Emília Stenzel, representante do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos), braço técnico da Unesco.

O projeto urbanístico da cidade sintetiza várias tendências, não somente do século 20, mas, também, do século 19, lembra a arquiteta. “Agrega os andares do urbanismo tradicional de Paris e Barcelona, que antecedem o século 20. E, pensando do ponto de vista da arquitetura, do século 20, vemos que ela possui qualidade estética e urbanística, em vista de outros projetos do mesmo período, que eram muito descaracterizados. A maioria deles foi experimentos de habitação social no pós-guerra”, acrescenta.

De acordo com Stenzel, os europeus fazem julgamento imaginando que a capital tinha sido feita com os padrões suburbanos da Europa. “Fizemos algo muito mais ambicioso. Brasília foi escrita na lista porque foi considerada uma obra prima do gênio humano, que contou com um esforço coletivo para tornar o projeto realidade. A cidade existe porque as pessoas do país inteiro se engajaram na construção.”

Banho de poeira

No dia da inauguração de Brasília, em 21 de abril de 1960, a professora doutora Cosete Ramos Gebrim, 79 anos, participou de importantes solenidades, quando tinha apenas 16 anos. “Fui recebida no baile por Juscelino e Sarah Kubitschek, no Palácio do Planalto. Sinto-me altamente privilegiada de ter participado da história da capital”, admite. A gaúcha nascida no município Alegrete (RS) tem orgulho de ter escolhido Brasília como a cidade do coração.

“Me apaixonei por Brasília na W3, quando não tinha asfalto. Peguei um rodamoinho, que levantou a minha roupa e os meus cabelos. Tomei um banho de Brasília, de poeira e de cerrado. Achei uma graça e caí na gargalhada. Fiquei parada sem saber o que fazer. Saí toda vermelha. Tive de ir em casa tomar banho e me arrumar, para ir bem bonita ao baile”, contou Cosete. Ela esteve na turma das nove primeiras professoras formadas em Brasília, contando com JK como paraninfo.

Homenagem musical

Familiares e amigos se reuniram, ontem, para homenagear o centenário de nascimento da pianista Neusa França, compositora do Hino Oficial de Brasília. Ela morreu em 8 de março de 2016, aos 95 anos, e ficou conhecida pela generosidade e por descobrir talentos no ramo musical.

Na noite de ontem, em um bloco da Quadra 305 Sul (onde a pianista viveu), cerca de 30 pessoas se reuniram para relembrar dos momentos de Neusa. Entre os participantes, estavam colegas de prédio, professores de música e alunos. Em homenagem especial, Rogério Resende, técnico e afinador de pianos, descreveu Neusa como “grande amiga”. “Mais do que uma cliente assídua, ela era minha companheira. Prestei serviços à ela, mas, a partir disso, formamos uma grande amizade, de coração”, disse.

A musicista Beth Ernest Dias, 65, recordou os momentos que passou ao lado da amiga. “Tenho lembranças gostosas e divertidas ao lado dela. Lembro que, cada vez que íamos tocar juntas, ela colocava bombons nas mesas dos músicos. Era uma figura e cabe a nós esse esforço que estamos fazendo para homenageá-la por tudo de bom que ela nos deixou”, descreveu.

A solenidade, que durou cerca de duas horas, contou com a presença de ex-alunos de Neusa, que tocaram piano em admiração ao trabalho da musicista.

Carreira

Nascida em Campos (RJ), Neusa França viveu em Brasília por cerca de 55 anos. Antes da mudança para a capital, ela já tinha emprego garantido. Passou em primeiro lugar para ser professora de música, em concurso público, realizado no Rio de Janeiro.

Ao longo da carreira, atuou como professora no Centro de Ensino Fundamental Caseb e no Colégio Elefante Branco. Também chegou a dar aulas de graça, por vontade de lapidar talentos.

A paixão pelo piano começou quando a musicista era criança, aos 7 anos, no Rio. Após isso, formou-se pela Escola Nacional de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ela obteve a primeira classificação em educação musical pelo Conservatório Villa-Lobos, onde ganhou diploma de alta virtuosidade e interpretação pianística, concedido pela renomada pianista Magda Tagliaferro (de quem Neusa tornou-se, além de aluna, assistente).

Em fevereiro de 2016, a pianista esteve internada no Hospital Santa Luzia, onde sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Em 8 de março do mesmo ano ela faleceu.

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