Apesar de o câncer de pele ser a doença com mais incidência no país, poucas pessoas dão importância para os cuidados que devem ser tomados como forma de prevenção. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), 180 mil casos da doença são registrados por ano. Em 2019, ocorreram 2.470 novos casos da doença somente no Distrito Federal. Em entrevista ao CB.Saúde — parceria entre o Correio e a TV Brasília — ontem, a dermatologista do Hospital Santa Lúcia Natália Souza Medeiros chamou a atenção para os cuidados que as pessoas devem ter com a pele. “É muito importante que toda população se conscientize e comece a se proteger desde cedo. O uso do protetor solar deve se tornar um hábito para as pessoas”, alertou.
Por que as pessoas, tendo tanto informações sobre câncer de pele, ainda não se protegem e não seguem as regras recomendadas pelos médicos?
O Dezembro Laranja traz esse alerta para a gente sobre o câncer de pele, que é um tema muito abordado, mas é, muitas vezes, ignorado pelas pessoas de forma geral. A maioria das pessoas não criou esse hábito (de cuidados com a pele), que deve ser instituído nas crianças e levado para a fase adulta. O dano solar é cumulativo. Todo mundo tem um pouco de exposição solar todos os dias e esse pouquinho, com o passar dos anos, vai levar ao câncer de pele.
Quanto tempo dura a proteção de um protetor solar?
A duração do protetor solar depende muito do tempo de exposição do paciente. Se a pessoa trabalha exposta ao sol, a recomendação é que o produto seja passado a cada duas horas. Se é alguém que já fica em um lugar mais fechado, o ideal é passar antes de sair de casa, pela manhã, e antes do almoço para se proteger da radiação solar no período da tarde. Então, essa necessidade de passar mais vezes é para quem está mais exposto.
É muito grande a incidência de câncer de pele nos trabalhadores mais expostos, como os que atuam em construção?
Sim. O câncer de pele, de uma forma geral, é uma doença de alta incidência. Segundo o Instituto Nacional de Câncer, cerca de 33% dos cânceres diagnosticados são de pele aqui no Brasil. Então, é um câncer de alta incidência, apesar da baixa mortalidade, dependendo do tipo que o paciente desenvolver. Por ser um número grande, a gente tem que criar esse hábito (de usar protetor solar) principalmente nos trabalhadores que estão muito expostos ao sol durante o dia.
Em relação às crianças, a partir de que idade é indicado o uso do protetor e qual é a recomendação que a senhora dá para os pais?
Primeiramente, as crianças se espelham muito nos pais. Então, é importante que eles já tenham esse hábito para que a criança crie essa rotina desde pequena. A partir dos seis meses, já é recomendado o uso de protetor solar. Nós temos protetores que são mais adequados para cada fase da infância e os pais têm de ficar atentos, porque, dependendo do protetor solar, pode causar irritação na pele da criança.
Qual é a mortalidade?
Dos 180 mil, 8 mil casos são do tipo melanoma, que é um câncer que tem uma maior taxa de mortalidade, por ser mais agressivo. Porém, com o diagnóstico precoce, nós temos uma alta taxa de cura. O paciente que demora muito a ter um diagnóstico acaba tendo deformidades, como uma cicatriz no rosto.
Como podemos identificar o câncer de pele?
O câncer de pele é divido entre o tipo melanoma e não melanoma. O melanoma, que é mais agressivo, se parece com uma pinta, um sinal escuro. Geralmente tem formato assimétrico e as bordas são irregulares. Tem mais de uma cor em sua composição, como marrom, preto e cinza, e é uma lesão que tem um crescimento rápido. Normalmente, não há dor associada, mas pode ter sangramento e formar uma ferida que não cicatriza.
O SUS está preparado para atender as pessoas que têm câncer de pele?
Infelizmente, a gente vê que a demanda é muito alta para uma pequena quantidade de profissionais contratados na área. Nós precisamos realmente de um número maior. Eu fiz a minha residência no Hospital Universitário de Brasília e, lá, nós tínhamos filas imensas de pacientes aguardando a cirurgia para a remoção do câncer de pele.
Além do protetor solar, existem outros mecanismos de proteção?
Sim. Há as barreiras físicas. Usar roupas que cobrem mais pele, chapéu e guarda-sol é importante para ajudar na proteção. Uma roupa de algodão auxilia muito a barrar a radiação solar. E, para quem quiser olhar roupas que têm proteção ultravioleta, existem lojas especializadas que o paciente pode procurar.
Por causa da pandemia, muitas pessoas abandonaram o tratamento. Qual é o risco disso?
Realmente, a gente acabou adiando as cirurgias dos tipos não melanoma por não ter tanta emergência de operar. No entanto, é importante que eles voltem assim que for possível, porque, quanto mais tempo passar, mais a doença vai avançando.
Os tratamentos realizados no Brasil podem se equiparar com os realizados em países desenvolvidos?
No Brasil, a maior dificuldade continua sendo o acesso às cirurgias. Nós temos técnicas, como a cirurgia micrográfica de Mohs, em que nós não precisamos tirar a lesão com uma margem de pele tão grande como a gente faz na cirurgia tradicional. Na questão da estética, esse tipo de técnica é ideal. No entanto, esse tipo de cirurgia é mais cara, o plano de saúde normalmente não cobre e a rede pública de saúde não realiza esse tipo de procedimento.
* Estagiária sob a supervisão
de Mariana Niederauer
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