Economia

Setor de automóveis novos e seminovos registra crescimento nas vendas

Apesar da pandemia, o setor teve aumento em novembro, na comparação com outubro. Pagamento de 13º, juros menores e compras de motos puxaram resultados para cima

Jéssica Eufrásio
postado em 14/12/2020 06:02
 (crédito: Pacífico/CB/D.A Press)
(crédito: Pacífico/CB/D.A Press)

Com prejuízos acumulados desde abril, na comparação com 2019, o mercado automotivo do Distrito Federal tem apresentado bons resultados nos últimos meses. A expectativa de quem trabalha no setor é de que o 13º salário dê fôlego para novas altas nas vendas antes do fim de 2020. No caso de veículos seminovos e usados, 30% dos mais de 21,4 mil consumidores que compraram carros ou motos em novembro usaram recursos do abono, segundo levantamento da Associação das Empresas Revendedoras de Veículos do DF (Agenciauto). Na média histórica da entidade, essa taxa fica em torno de 12%.

O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) estima que, neste ano, o pagamento do 13º no DF chegue a R$ 6,63 bilhões, com valor médio de R$ 4,3 mil por trabalhador, incluindo aposentados e pensionistas. Para representantes do setor de vendas de automóveis seminovos e usados, o depósito do abono teve peso para a alta de 8% nas vendas em novembro, na comparação com outubro. O aumento foi o maior desde abril, quando começaram os impactos da pandemia da covid-19.

As finanças do gerente comercial Cloves Ricardo Araujo, 46 anos, passaram por momentos de aperto, especialmente no início da crise. Ele trabalha em uma malharia e viu as vendas sofrerem quedas consideráveis. Mesmo assim, manteve a expectativa de trocar o veículo antigo e usou o 13º para dar entrada em um seminovo. “Minha prioridade era essa, porque uso o carro para tudo no dia a dia. Pegaram meu automóvel antigo na troca, avaliaram e mostraram todas as opções de parcela. A taxa de juros acabou ficando abaixo do que eu imaginava”, diz o morador do Guará 2.

Cloves Ricardo Araujo, gerente comercial
Cloves Ricardo Araujo, gerente comercial (foto: Minervino Júnior/CB/D.A Press)

As taxas de juros para financiamento de veículos têm caído desde abril, segundo dados da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). No fim de novembro, a menor — considerados bancos e financeiras — as alíquotas variaram entre 0,77% e 3,52% ao mês (a.m.), segundo o Banco Central (BC). Em média, o crédito oferecido por bancos a pessoas físicas diminuiu de 1,44% a.m., em janeiro, para 1,31% a.m., em outubro, de acordo com levantamentos da Anefac. Por outro lado, o prazo de pagamento tem se mantido desde janeiro de 2019: máximo de 72 meses, com média de 32.

Esse cenário contribuiu para aquecer a procura por automóveis mesmo durante a pandemia, segundo representantes do setor. Também teve impacto para o aumento das vendas a preocupação com a segurança sanitária em transportes coletivos, por aplicativo ou até em aviões, de acordo com a Agenciauto e do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos (Sincodiv-DF).

Delivery

Em relação a outubro, a procura por motocicletas teve destaque em novembro e puxou as vendas para cima. No setor de novos, a compra de motos subiu 7,3%, atrás apenas de automóveis comerciais leves (9,25%), como picapes e vans. No ramo de seminovos e usados, a comercialização dos veículos de duas rodas teve alta de 15%, a maior entre todas as categorias.

Para o representante da Agenciauto, José Rodrigues Neto, o resultado tem relação com o aumento da procura por trabalho no ramo de entregas. “Tenho conversado com alguns profissionais de revendas de motos. A expectativa deles é em cima da venda de motocicleta para delivery. Nunca vi aumentar tanto. Mas, muita gente perdeu o emprego e foi trabalhar nesse ramo. A demanda está grande”, comenta José Rodrigues Neto. “Outro fator que impulsionou foi o crescimento dos financiamentos. Subiu o que chamamos de troca com troco: você tem um carro com taxas de juros de dois anos atrás e consegue trocar por um mais novo, pagando uma taxa menor”, acrescenta.

O presidente do Sincodiv-DF, Arcélio Junior, considera que o mercado das concessionárias tem apresentado rápida recuperação. E, para ele, o interesse por um meio de locomoção individual teve mais peso do que o recebimento do 13º salário. “No caso de Brasília, o perfil de consumidor que sustentou (as vendas durante a pandemia) foi o de funcionários públicos. Eles são bastante representativos e, nas concessionárias, representam cerca de 50% das vendas. A queda no DF, mesmo no acumulado do ano, foi muito menor do que a nacional, e a recuperação foi melhor”, avalia o presidente do sindicato.

Dívidas

Professor de finanças do Ibmec-DF, William Baghdassarian observa que, com a pandemia, houve aumento do endividamento e, diante de condições econômicas desfavoráveis para o ano que vem, seria prudente poupar o 13º ou parte dele. “Grande parte das pessoas que vão receber o abono no fim do ano tem uma situação de endividamento. Muitas estão com dívidas atrasadas. Para essas pessoas, a recomendação mais útil é que elas quitem essas dívidas. Isso abre espaço para que tenham uma vida melhor. Você acaba liberando espaço para voltar a consumir, principalmente bens duráveis”, comenta.

O especialista aconselha que, se o veículo for indispensável, é importante buscar condições mais favoráveis de financiamento, não necessariamente a mesma linha de crédito oferecida pelas lojas. “Comprar à vista é melhor, porque é possível conseguir descontos. Mas, para compras a prazo, com um pouco de pesquisa, dá para pagar taxas de juros bem razoáveis”, ressalta. “Os veículos subiram muito de preço. Essa é mais uma razão para as pessoas tomarem muito cuidado na decisão de compra”, complementa William.

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