Cerca de 30 pessoas, entre familiares e amigos, reuniram-se, ontem, na Capela 1 do Cemitério Campo da Esperança de Taguatinga para prestar as últimas homenagens à Maria Jaqueline de Souza, 34 anos, assassinada pelo namorado na sexta-feira passada. Entre os presentes, além da dor pela perda, predominava também o sentimento de revolta pelo feminicídio.
Helena Caetano, 66, ex-vizinha e amiga de Jaqueline, se impressionou com a brutalidade do assassinato. “Foi uma tragédia nessa família. O sentimento da gente é de querer justiça. Eu fiquei chocada quando soube”.
Para os familiares, além da saudade, restam perguntas sem respostas. “Nunca, ninguém imaginou que isso ia acontecer. Ela tinha ido falar com ele para terminar (o relacionamento), mas não deu tempo. Não sabemos como ela foi parar lá”, afirma o irmão de Jaqueline, Fabiano Machado, 38. “Ele foi muito covarde, nem um bicho merece morrer dessa forma”, complementou.
Ricardo Silva Sousa foi preso em flagrante por policiais militares acionados por um vizinho, que registrou o momento em que o homem atacou Jaqueline com uma faca. Mesmo com a abordagem e os choques de taser, ele só parou de agredi-la depois que levou dois tiros. O crime ocorreu na casa de Ricardo, no Sol Nascente. A mulher chegou a ser socorrida, mas não resistiu.
Segundo parentes próximos, Jaqueline e Ricardo se conheceram enquanto ela trabalhava como garçonete, e estavam juntos há cerca de três meses. Contudo, nas últimas semanas, ela teria relatado à família que queria deixar o homem, mas ele insistia em manter o relacionamento. Jaqueline deixa quatro filhos de 15, 11, 6 e 4 anos.
De acordo com amigos e familiares, a lembrança que fica dela é a da alegria de viver. “Ela era uma mãezona, lutadora, gostava demais dos filhos”, conta Fátima de Morais, 54, que conheceu Jaqueline ainda criança. “É bem difícil. Quando veio a pandemia, a gente parou um pouco de se ver, mas éramos bem próximas. Era um amor de pessoa, simples, brincalhona, sorridente”, lembra a sobrinha Jennifer Moreira, 22.
Jaqueline veio do interior do Rio Grande do Norte para Brasília aos 9 anos, acompanhando a irmã, que havia se casado. O casamento não deu certo, mas Jaqueline continuou na casa, e foi criada pela família do ex-cunhado. A mãe de criação passou mal e não conseguiu ir ao sepultamento.
Prisão
Ricardo foi preso em flagrante e passou por audiência de custódia. O magistrado Frederico Ernesto Cardoso Maciel manteve a medida. Com isso, a prisão em flagrante foi convertida em preventiva, que não tem prazo para expirar. Na decisão, o juiz ressalta que as imagens do fato deixam evidente “uma brutalidade fora do comum”.
Ele reconheceu que o suspeito foi atingido por disparos de arma de fogo desferidos pelos militares, mas que “considerando ainda a exiguidade do prazo entre a prisão em flagrante e a audiência de custódia, não se pode exigir neste momento o exame de corpo de delito da vítima, o qual, diante da complexidade, demanda algum tempo até ser elaborado”.
Femicídios no DF
O assassinato de Jaqueline soma-se ao de outras 29 mulheres que foram mortas no Distrito Federal neste ano, cujos crimes foram classificados como homicídio e femimicídio. Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública, em 53,8% dos casos, o companheiro foi o responsável pela morte. Além disso, em 69% dos registros, o crime ocorreu dentro da casa das vítimas. Desde a edição da lei que tipificou o assassinato de mulheres como feminicídio, em 2015, 117 perderam a vida no DF.
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