Coronavírus

DF aguarda estratégia de vacinação enquanto vê taxa de ocupação de leitos aumentar

Governador Ibaneis Rocha (MDB) sanciona lei que prevê a elaboração de uma estratégia de vacinação contra a covid-19 em 30 dias. Enquanto o planejamento é feito, especialistas alertam para taxa de ocupação de leitos de UTI, que chega a 82% no DF

Alan Rios
postado em 15/12/2020 06:00
 (crédito: Ana Rayssa/CB/D.A Press)
(crédito: Ana Rayssa/CB/D.A Press)

O governador Ibaneis Rocha (MDB) sancionou projeto de lei aprovado pela Câmara Legislativa que solicita um plano de vacinação contra a covid-19, no Distrito Federal, dentro de 30 dias. O texto foi publicado ontem, em edição extra do Diário Oficial do DF. No mesmo dia, a capital registrou 1.036 casos de infecção pelo novo coronavírus e 20 óbitos em decorrência da doença, somando 240.132 infectados e 4.086 mortos. Embora os números mostrem a situação ainda é muito grave, o comportamento de parte da população é negacionista, uma vez que festas e aglomerações são mais frequentes a cada fim de semana. Entre a última sexta-feira e domingo, por exemplo, a Secretaria DF Legal teve que intervir em 78 estabelecimentos por descumprimento às normas sanitárias. O Índice de Isolamento Social, medido pela empresa Inloco, mostra que 46,44% das pessoas na capital mantêm o distanciamento, o sexto menor do país. O não cumprimento das recomendações médicas preocupa especialistas. Atualmente, dos 155 leitos públicos de unidade de terapia intensiva (UTI) com suporte de ventilação mecânica para tratamento de covid-19 no DF, 26 estão disponíveis, o que corresponde a 82% de ocupação. Em julho, o total de leitos oferecidos na rede pública era de 510.

A Secretaria de Saúde informou, em nota oficial, que a taxa de ocupação dos leitos com suporte de ventilação mecânica para atender pacientes com a covid-19 ficou, na tarde de ontem, em 64,86%. O número é a média de ocupação de leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) e unidade de cuidado intermediário (UCI). A pasta afirmou que “está concluindo seu plano da vacina para a covid-19”, e que “assim que estiver pronto, será amplamente divulgado”.

Ana Helena Germoglio, infectologista do Hospital Águas Claras, avalia que o cenário visto em outras regiões do mundo pode chegar ao DF, caso haja relaxamento nas medidas de prevenção ao coronavírus. “A gente vê esse aumento de casos e ocupação de leitos em países da Europa, em regiões como o Nordeste, o Sudeste, e em estados como Minas Gerais. Aqui, sentimos o efeito de forma mais retardada, talvez porque não tivemos o movimento das eleições, mas um novo aumento é quase inevitável”, pontua. Para a especialista, o comportamento da população jovem é um fator que vem preocupando. Atualmente, 42,9 mil moradores do DF entre 20 e 29 anos tiveram exame positivo para o vírus, enquanto 29,5 mil pessoas acima de 60 anos foram infectadas. “Os jovens estão nas ruas e, cada vez mais, desrespeitando aquelas regras básicas de convivência e de prevenção para não adquirir e transmitir a doença. E, estamos observando uma demanda alta dessa população aos serviços de saúde, buscando mais o pronto socorro e a internação. Quem teve covid-19, precisa lembrar, também, que ele pode ser um veículo de transmissão”, alerta a médica.

Ana Helena ressalta que pessoas com comorbidades têm maior risco de desenvolver o caso mais grave da covid-19, no entanto isso não significa que uma pessoa sem problemas de saúde preexistes não possa ter complicações. “A gente vê casos de pacientes jovens evoluindo para graves”. Embora fique cada vez mais perto do país ter uma vacina aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) — como, por exemplo, Coronavac, produzida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan—, a infectologista explica que o imunizador não será uma solução imediata para a pandemia. “Mesmo quando a vacina chegar, vai demorar até que a gente possa vacinar a população inteira. Temos 3 milhões de habitantes no DF. Então, os cuidados devem continuar durante o próximo ano. Nós sabemos que quem tem mais risco de pegar e transmitir a covid-19 são as pessoas que mais se expõem e que mais agem de forma inadequada. Ou seja, não podemos ter medo, mas temos que ter respeito pelo momento da pandemia”, destaca a infectologista.

Impotência

Quem teve um familiar ou amigo internado em um leito hospitalar enxerga com mais clareza a letalidade do vírus. Ana Paula Medeiros, 35 anos, viu o marido, um educador físico sem comorbidades, ser hospitalizado em setembro. Alexandre Ceniz, 39, ficou quatro dias na UTI. “Em poucos dias, o quadro dele mudou bastante. Ele sentiu dores, fraqueza, foi internado para se recuperar e chegou a ter 70% de comprometimento pulmonar. O sentimento, nessa hora, é de impotência. A gente não tem como fazer nada diante de uma doença tão nova. A preocupação era ele sair do hospital com vida, mas não sabíamos os medicamentos que seriam utilizados, não sabíamos se ele podia ter sequelas”, conta a fonoaudióloga.

O marido sobreviveu, e a família lembra que estar saudável não quer dizer estar livre da doença. “O coronavírus existe, é real. As pessoas precisam se proteger, ter autocuidado e cuidado com o outro. Nós passamos por um período bem difícil, observando uma pessoa que não tinha fator de risco, sem comorbidades, ser internada. Foi muito assustador”, relata Ana Paula. Atualmente, dez pacientes estão na lista de espera por um leito de UTI no DF, com pessoas que aguardam vaga há até três dias.

Lucas Vargas, clínico geral e coordenador da Clínica Médica do Hospital Santa Lúcia Norte e Gama, avalia que a volta de pessoas aos trabalhos e aulas de forma presencial facilita a circulação do vírus e que elas devem seguir as orientações de distanciamento ao máximo. “A população tem que se conscientizar que o vírus está aí. Ainda não temos a população imunizada e precisamos respeitar o isolamento, evitando aglomeração ou festas de fim de ano, que podem dar um ‘boom’ de casos, agravando bastante. Temos visto aulas, trabalhos voltando, e isso nos coloca em maior risco. Mas, na questão recreativa, pelo menos, temos que tomar um cuidado maior”, diz. Ele lembra que a alta taxa de ocupação de leitos de UTI está, diretamente, ligada à questão comportamental. “Estamos vendo um aumento significativo do número de infecções aqui, no DF. A gente espera que não sejam tantos casos graves quanto na primeira onda, mas isso pode acontecer”, adianta Lucas Vargas.

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Fiscalização

A Secretaria DF Legal vistoriou 262 estabelecimentos entre 11 e 13 de dezembro. Ao todo, 23 foram locais foram interditados, 40 fechados e 15 multados por descumprimentos de normas sanitárias, com irregularidades como: aglomerações, não uso de máscaras, falta de álcool em gel, distanciamento, entre outros. As fiscalizações ocorreram em Samambaia, Asa Sul, Sudoeste, Sobradinho, Guará, Lago Sul, Asa Norte, Sol Nascente, Ceilândia, Águas Claras, Recanto das Emas, Paranoá, Gama, São Sebastião, Planaltina e Taguatinga.

Plano distrital

A lei que obriga o DF a apresentar um plano de vacinação em 30 dias foi aprovada pela Câmara Legislativa na semana passada. O texto, de autoria de deputados tanto da base quando da oposição — como o presidente da Casa, Rafael Prudente (MDB), e Arlete Sampaio (PT) — prevê que “nos casos em que seja, oficialmente, declarada pelas autoridades da União ou do Distrito Federal situação de pandemia ou epidemia, o Poder Executivo deve adotar todas as providências necessárias, em caráter de urgência, para vacinar a população residente do Distrito Federal”, diz o documento. A norma determina que a vacinação deve ser precedida de plano distrital, com ampla divulgação, contendo todos os elementos necessários à sua efetivação.

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