A agressão de um militar do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal evidenciou ódio e covardia nas ruas de Taguatinga. Vídeos que circularam nas redes sociais, ontem, mostram o sargento Guilherme Marques Filho dando tapas em Jair Akson Reis Canhête, 25 anos, com uma arma em punho. O caso aconteceu na última sexta-feira e, segundo relatos dos envolvidos, teria ocorrido após o militar assediar uma mulher no metrô e não gostar de ser repreendido. Nas redes sociais, a discussão ganhou cunho político, pois o bombeiro aparece nas imagens com uma camisa estampando o rosto do presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido). A vítima das agressões contou ao Correio que não se arrependeu de defender a mulher: “Lembrei da minha irmã, que já sofreu abuso no metrô”.
O relato de Jair Akson retrata uma discussão por conta do assédio e momentos de tensão. “Estava saindo do vagão, na Praça do Relógio, indo para casa, e me deparei com aquela cena. Ele cometendo esse ato horrível. Começou a acariciar a cabeça da menina e depois olhou para trás, com aquela expressão maliciosa, com um sorriso bem nojento. Isso me revoltou e eu tomei uma atitude. Fui tirar satisfação, perguntar por que ele estava fazendo aquilo com uma moça que nem conhecia”, lembra-se. O bombeiro teria ameaçado sacar a arma ainda dentro da estação. Segundo a delegada-adjunta da 12ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Centro) Elizabeth Frade, um segurança do metrô interveio neste momento.
Jair conta que esperou um pouco para sair do local, mas que encontrou Guilherme do lado de fora e começou a correr, quando foi perseguido. Ele entrou em uma loja para se proteger, e lá foi agredido, ameaçado e xingado de termos como “vagabundo”. Mesmo após o desfecho do caso, o jovem afirma que “faria tudo de novo”. “Primeiro, porque a defesa não é só quando você conhece ou não a pessoa. Vivemos em um mundo muito conturbado, tudo meio revirado e banalizado. Minha mãe usa o metrô, tenho muitas amigas mulheres, também. Converso com elas, sei o que elas passam, isso me deixa muito triste”, disse. A delegada Elizabeth afirmou que a Polícia Civil vai colher o depoimento dos envolvidos. “O caso é apurado e, nesta semana, todos os envolvidos serão acionados para prestar depoimento e esclarecer os fatos”.
Corregedoria
O caso motivou o Corpo de Bombeiros do Distrito Federal a abrir um procedimento de investigação administrativo contra o sargento Guilherme Marques. “A Corregedoria instaurará o devido processo para apurar os fatos. A corporação manifesta-se contrária a qualquer forma de agressão e defende de forma contumaz o respeito a todo cidadão, ratificando seu compromisso com o dever de proteger a sociedade”, pontuou, em nota. Procurada, a Companhia do Metropolitano (Metrô) informou que “vai instaurar sindicância para averiguar os fatos que ocorreram nas dependências da estação”, mas ressaltou que “a agressão em questão ocorreu fora do Metrô-DF”. O Correio tentou contato com o militar, porém não obteve retorno até o fechamento desta edição. Nas redes sociais, o deputado Fábio Felix (Psol), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Legislativa do DF, repudiu as imagens que registraram a agressão. “O vídeo mostra um apoiador com camiseta do Bolsonaro armado e agredindo um homem aqui no DF. Coagindo com uma arma de fogo para que ele não se intrometa em um caso de assédio contra uma mulher. Os trinta segundos de vídeo mostram o horror que estamos enfrentando”, declarou, na publicação.
*Colaborou Caroline Cintra
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