Psicanalistas celebraram 50 anos da prática na capital com atendimento gratuito

Profissionais da Sociedade de Psicanálise de Brasília reuniram-se, em celebração aos 50 anos da prática na capital federal, para promover atendimento gratuito às pessoas em razão do isolamento social e das perdas causadas pela covid-19

Jéssica Cardoso*
postado em 21/12/2020 06:00
 (crédito: Acervo SBPsb)
(crédito: Acervo SBPsb)

Em meio à pandemia do novo coronavírus, a psicanálise completa 50 anos de existência em Brasília. O método, criado pelo médico neurologista e psiquiatra Sigmund Freud, investiga as características psicológicas do indivíduo ao fazê-lo reviver os processos, sentimentos e afetos. A psicoterapia trabalha com a técnica de associação livre, em que o paciente é incentivado a falar livremente, inclusive sobre os sonhos que teve.

Devido ao cenário atual de isolamento e pouco contato social para evitar o contágio do novo coronavírus, a Federação Brasileira de Psicanálise (Febrapsi) recomendou às sociedades e a grupos da área a promoverem, virtualmente, atendimentos gratuitos para as pessoas. No Distrito Federal, profissionais da Sociedade de Psicanálise de Brasília (SBPsb) reuniram-se para formar uma rede solidária de atendimento. A iniciativa deu origem ao projeto Psicanálise Solidária.

“Nós convidamos os membros da Sociedade e do Instituto de Psicanálise em Brasília a oferecer horários para realizar o atendimento gratuito. Boa parte dos colegas aderiu e cada um ficou atendendo cerca de duas pessoas”, explicou a organizadora do projeto e diretora científica da SBPsb, Daniela Prieto, de 48 anos. As vagas foram disponibilizadas no site da Sociedade em meados de junho e esta teve a adesão, inclusive, de pessoas de outros lugares do Brasil.

Daniela conta que o isolamento social deixou as pessoas mais angustiadas e, com isso, os casos de ansiedade, de depressão e de sofrimento pela falta de contato aumentaram. “Com o aumento da demanda por atendimento, a gente buscou acolher essas pessoas para ajudá-las a superar não só os sintomas em si, mas a desenvolver recursos para que elas possam lidar com a vida de uma melhor maneira”, disse. A psicanalista estima que cerca de 200 a 300 pessoas foram atendidas até o momento.

Para Beth Mori, atual coordenadora do projeto e diretora de comunidade e cultura da SBPsb, a ação solidária corresponde às clínicas públicas, desenvolvidas por Freud, em 1920. “A psicanálise faz parte do processo de reconstrução da sociedade, e é importante que a cidade tenha acesso a esse recurso. Os governos federais, estaduais e municipais deveriam apostar na saúde mental e aumentar a oferta. Com isso, a gente promoveria uma saúde coletiva muito melhor para aproveitar a vida, a cidade, os bares”, avaliou Beth.

No momento, o “Psicanálise Solidária” não está disponibilizando novas vagas para atendimento, mas, de acordo com Beth, o projeto continuará. “O grupo está animado porque o que nós fizemos valeu super a pena. Tivemos um retorno muito bom e muitos de nós continuaram com os pacientes. A ideia, agora, é conversar com os profissionais voluntários sobre as futuras vagas”, explicou a diretora.

Além do Psicanálise Solidária, a Sociedade de Psicanálise do DF oferece consultas com preços mais acessíveis no Centro de Atendimento e Pesquisa em Psicanálise (Cenapp). As informações sobre a possibilidade de novos atendimentos nas duas iniciativas podem ser encontradas no site da SBPsb: www.spbsb.org.br/.

 

Psicanálise no DF

Em 1970, o primeiro grupo de psicanálise foi criado em Brasília com a chegada da psicanalista negra Virgínia Leone Bicudo à cidade. Nos anos seguintes, diversos especialistas, a maioria de São Paulo, vieram à capital federal para realizar discussões, análises e desenvolver um novo núcleo psicanalítico. Assim, surgiu a Sede-Brasília do Instituto de Psicanálise da SBPsp que, em dezembro de 1994, foi oficialmente reconhecido pela International Psychoanalytical Association (IPA) como Grupo de Estudos de Psicanálise de Brasília (GEPB). Desde então, a metodologia vem atuando com o objetivo de acolher e dar o suporte necessário para que as pessoas possam viver da melhor forma possível.

Atualmente, segundo a presidente da Sociedade de Psicanálise de Brasília (SBPsb), Lúcia Passarinho, “os problemas sociais e a crise que vivemos produzem efeitos em todos, mas a SPBsb tem conseguido acompanhar e participar de modo a contribuir com a sociedade e tentar diminuir o sofrimento das pessoas. Existe uma preocupação social muito grande e nós acreditamos em uma psicanálise comprometida com a área social”, disse.

A presidente afirma que a Sociedade de Brasília é referência no Brasil e espera, para o futuro, que a instituição esteja cada vez mais aberta. “As pessoas estão vivendo um momento de muito sofrimento com a pandemia. A procura pelo atendimento social tem sido intensa. Para os próximos anos, eu espero que possamos estar cada vez mais abertos e contribuindo com e para a sociedade, porque nós acreditamos que onde há um ambiente de escuta, há uma pessoa que pode ser ajudada”, acredita.

* Estagiária sob a supervisão de Adson Boaventura

 

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