Feminicídio

Espancada e morta pelo marido

A dona de casa Luciane Simão Silva, 42 anos, foi agredida por Rondinele Ferreira, 34, na quarta-feira, na Fercal. Após ser internada e ter melhora, a vítima tornou a passar mal. Ela não resistiu aos ferimentos e morreu ontem, no Hospital de Base

Darcianne Diogo
postado em 21/12/2020 21:15 / atualizado em 21/12/2020 22:14
 (crédito: Reprodução/Redes Sociais)
(crédito: Reprodução/Redes Sociais)

Em menos de um mês, quatro mulheres foram vítimas de feminicídio no Distrito Federal. Na madrugada de ontem, a dona de casa Luciane Simão Silva, de 42 anos, morreu, no Hospital de Base, em decorrência de agressoções do marido, o mecânico Rondinele Ferreira, 34. A vítima lutava pela vida havia quatro dias, mas não resistiu aos ferimentos. O homem está preso e responderá por feminicídio.

O crime foi na noite de quarta-feira, na Praça da Fercal. Segundo as investigações conduzidas pela 13ª Delegacia de Polícia (Sobradinho), o casal estava na praça, e o autor do crime estaria sob efeito de drogas. Luciane o teria questionado a respeito do uso de entorpecentes. Irritado, Rondinele começou a desferir diversos socos contra o rosto da vítima, que teve a face deformada pelas agressões. Ela caiu no chão, desmaiou e bateu com a cabeça em um banco de concreto.

Desacordada, a dona de casa foi socorrida e encaminhada ao Hospital Regional de Sobradinho (HRS). Luciane apresentou melhora no quadro clínico e recebeu alta médica. No final de semana, ela voltou a passar mal, queixou-se de falta de ar e foi ao Hospital de Base, onde ficou internada até a madrugada de ontem. “Mesmo durante a recuperação, o autor continuou a persegui-la, enviando mensagens perturbadoras e dificultando a estabilidade do estado de saúde da vítima”, detalhou a delegada-adjunta da 13ª DP, Ágatha Braga.

Quem procurou a delegacia para relatar o caso foi o irmão da vítima. Como consta no boletim de ocorrência, na quinta-feira, o familiar disse aos investigadores sobre as agressões que a irmã havia sofrido. Após diligências, agentes capturaram o acusado no domingo, em Sobradinho. A princípio, a polícia colhia elementos para apurar se o crime seria investigado como lesão corporal seguida de morte ou feminicídio. A primeira hipótese, no entanto, foi descartada, visto que Luciane morreu pelo fato de ser mulher, o que caracteriza o feminicídio. “Não concluímos o inquérito porque estão pendentes os laudos, mas, o que colhemos até agora, não deixa dúvidas que o fato em si tratou-se de um feminicídio”, frisou a investigadora.

Violência constante
Durante o depoimento, o irmão de Luciane contou que a vítima era agredida constantemente pelo companheiro. O casal mantinha união estável havia oito anos e tinha um filho de 7 anos. Luciane deixa, também, uma filha mais nova, fruto de outro relacionamento.

O Correio apurou que Luciane registrou boletim de ocorrência de violência doméstica contra o agressor, em 2017, e teve medida protetiva decretada. Mas, o casal reatou o relacionamento, e a determinação não estava em vigor na Justiça. Nas redes sociais, a dona de casa fazia questão de publicar fotos com dizeres contrários à violência contra a mulher. “Pelo fim da violência doméstica. Basta”, escreveu em uma publicação.

Amigos lamentaram a morte de Luciane: “Não estou acreditando que você nos deixou, minha amiga linda. Como tá doendo, a saudade é muito grande. Descanse em paz”, lamentou uma colega da vítima. Em publicação no Facebook, outra pessoa comentou: “Nossa, nem acredito nisso. Que o Senhor Jesus conforte toda a família. Fiquei sabendo agora disso, que triste notícia, uma pessoa maravilhosa. Que Deus a receba de coração, vá em paz.”

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13 vítimas

 Levantamento mais recente produzido pela Secretaria de Segurança Pública do DF mostra que, entre janeiro e novembro desse ano, aconteceram 13 casos de feminicídio. No mesmo período do ano passado, foram 30. A pasta atribui a redução às ações implementadas pelas forças de segurança, como a ampliação do atendimento da Delegacia Eletrônica para casos de violência doméstica; e a ampliação do número de visitas à vítimas de violência doméstica pelo programa Prevenção Orientado à Violência Doméstica e Familiar (Provid), da Polícia Militar da DF (PMDF).

Tragédias recentes

 

» 10 de dezembro: a aposentada Maria Madalena Cordeiro Neto, 60 anos, e a filha Giane Cristina Alexandre, 36, foram encontradas mortas pela Polícia Militar, em 10 de dezembro, no setor Arapoanga, em Planaltina. O homem indiciado por duplo feminicídio é Josimar Benedito Paiva, ex-companheiro de Giane. Segundo as investigações, ele não aceitava o término do relacionamento e planejou o crime como se fosse um roubo.

» 11 de dezembro: Maria Jaqueline de Souza, de 34 anos, foi assassinada a facadas pelo namorado, Ricardo Silva Souza, 35, quando o visitava pela primeira vez, no Sol Nascente. Mãe de quatro filhos, a vítima morava no Setor O, em Ceilândia, e conheceu o homem havia menos de um mês. O crime bárbaro foi gravado por um vizinho, que tentou socorrer Maria, mas foi ameaçado. O autor está preso no Complexo Penitenciário da Papuda.

Saiba como pedir ajuda

» Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência; Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República
Telefone: 180 (disque-denúncia)

» Centro de Atendimento à Mulher (Ceam)
De segunda a sexta-feira, das 8h às 18h
Locais: estações do Metrô da 102 Sul, Ceilândia e Planaltina

» Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam)
Local: Entrequadra 204/205 Sul — Asa Sul
Telefone: (61) 3207-6172

» Disque 100 — Ministério dos Direitos Humanos

» Prevenção à Violência Doméstica (Provid) da Polícia Militar
Telefones: (61) 3910-1349 e (61) 3910-1350

Irmãs assassinadas

Outro crime chocou os moradores de Cristalina (GO) no domingo. Duas irmãs foram assassinadas dentro de casa, no bairro Marajó, a poucas horas de São Sebastião, no Distrito Federal, durante a madrugada. As vítimas são Maria Gonçalves, 28 anos, e Cleide Aparecida Gomes, 34. O principal suspeito de tê-las matado é o ex-companheiro de Maria, Gisleno Xavier Souza que, segundo relataram familiares, não aceitava o fim do relacionamento. O homem está foragido.

Maria mantinha união estável com Gisleno havia cerca de sete anos. Parentes contaram ao Correio que a relação do casal era conturbada e marcada por brigas. Um dia antes do crime, no sábado, a vítima e o autor discutiram e Maria decidiu que sairia de casa e passaria um tempo com a irmã Cleide, que mora a poucos metros dela. “Depois disso, ele começou a ameaçá-la, dizendo que iria matá-la”, contou um dos primos das irmãs, que conversou com a reportagem sob a condição de anonimato.

Cleide também era casada, mãe três filhos. Na noite do crime, o marido dela estava viajando a trabalho para São Paulo e os filhos dormiram na casa de Rose. Maria estava com as três crianças. Os parentes contam que, por volta das 2h de domingo, Gisleno pulou o muro da residência, arrebentou a porta e efetuou um disparo de arma de fogo contra a mulher. Cleide foi atingida no peito e também morreu.

“As crianças estão muito abaladas. A filha mais velha da Maria, de 7 anos, dormia com ela no mesmo colchão e viu a mãe ser assassinada. Ela não para de falar que tentou proteger a mãe. Isso dói muito. A única coisa que queremos é justiça”, frisou o familiar.

Procurada pela reportagem, a Polícia Civil do Estado de Goiás (PCGO) informou, por meio de nota oficial, que “acerca dos homicídios ocorridos no distrito de Marajó na cidade de Cristalina (GO), a autoridade policial esteve no local do crime e iniciou imediatamente a investigação. Por se tratar de procedimento sigiloso, não serão fornecidas mais informações”. (DD)

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