Para 620 mulheres de baixa renda de Ceilândia, Estrutural, Riacho Fundo, Samambaia, São Sebastião e Sobradinho, o ano de 2020 ganhou um significado especial. Mesmo com todos os desafios de saúde física, emocional e financeira enfrentados na pandemia da covid-19, elas foram presenteadas com uma oportunidade única: tiveram seus talentos valorizados, se desenvolveram pessoal e profissionalmente para crescerem na vida como empreendedoras, donas de seus negócios, garantindo o sustento de suas famílias. O programa Todas Elas, desenvolvido pela Fundação Assis Chateaubriand, com apoio do Sebrae-DF e da Secretaria de Esporte e Lazer do Distrito Federal, proporcionou uma verdadeira transformação em meio à pandemia.
A proposta do Todas Elas foi oferecer uma experiência de aprendizado 100% on-line, gratuita e prática, sobre empoderamento feminino e estruturação de negócios para geração de renda, com linguagem simples, em uma plataforma conhecida e acessível a todas, que foi o Facebook. Além das aulas on-line gravadas e outras ao vivo, as participantes contaram com a ajuda de mobilizadoras sociais em cada região atendida para tirar dúvidas e estimular, via WhatsApp, aquelas que estivessem com dificuldades de seguir em frente no curso.
Para a mobilizadora de Ceilândia, Diana Maria da Costa, que também é mãe de sete filhos, avó de três netos, assistente social, educadora popular e agente comunitária, o convívio com essas mulheres foi um grande diferencial para o sucesso do curso. “São histórias de superação incríveis. Você gerar nessas mulheres uma relação de confiança a ponto de falarem que não estavam legais, que queriam morrer, que não viam como melhorar sua vida, e depois conseguir, por meio de uma boa conversa, colocar essas mulheres para cima e mantê-las ativas no curso é muito gratificante. Uma pessoa que trabalha fora, cuida da casa e dos filhos, presta serviço e ainda estuda para melhorar nos negócios só pode ser uma superpoderosa.”
Impacto do trabalho
Pesquisa realizada ao final do curso Todas Elas, em novembro, com uma amostra de 213 participantes, mostrou que 74% das mulheres são pretas e pardas, 65% não têm empresa formalizada, 68% estão na faixa etária de 26 a 45 anos e apenas 32% tiveram acesso ao ensino superior. Do total de entrevistadas, 61% declararam sair do curso com autoestima e autoconfiança elevadas; 96% aplicaram os novos conhecimentos para melhoria dos negócios; 66% tiveram um aumento de renda em relação aos meses anteriores às atividades e, dessas, 96% acreditam que o aumento das vendas se deve aos conhecimentos adquiridos nas aulas. Além disso, 73% disponibilizam seus produtos ou serviços para venda on-line, um aumento de 12% em relação ao início do programa de formação.
“Isso é uma grande vitória, porque a gente sabe o quanto a autonomia financeira pode ser libertadora para essas mulheres”, destaca Mariana Borges, superintendente-executiva da Fundação Assis Chateaubriand.
Superação
Aos 59 anos, Luzia Neves, mãe de três filhos e moradora de Riacho Fundo 2, viu-se em um momento de tensão este ano, com o medo de sair às ruas e a necessidade de ter uma renda, que vinha das vendas no quiosque que administra. Foi então que ela se inscreveu no Todas Elas e foi selecionada entre mais de mil mulheres interessadas na oportunidade. “Eu estava entrando em pânico por causa do novo coronavírus, não podia sair de casa, aí fiz esse curso e foi muito bom para mim. Mesmo tomando todos os cuidados, tinha medo de sair na rua oferecendo as minhas coisas. Depois do curso, minha mente se abriu. Hoje, eu saio, levo meu álcool em gel, minha máscara e vou conseguindo. Passei a dar mais atenção aos clientes no meu quiosque, procuro agradar mais, aprendi a fazer as contas dos meus gastos, fazer anotações que eu não fazia e aprendi a mexer mais no celular. Eu nunca tinha feito um curso on-line e pude ouvir muitas histórias bacanas e coisas que eu nunca imaginei que poderia saber”, comenta Luzia, que vende, em um quiosque, doces, bolos, salgados, sucos. Segundo ela, o movimento já melhorou e os clientes estão satisfeitos com o serviço.
Moradora de São Sebastião e mãe de quatro filhos, a empreendedora Ana Márcia Batista, 38 anos, também foi beneficiada pelo programa. “Foram experiências muito diferentes e positivas. Consegui abrir meu leque com novos produtos na área da confeitaria, pude contar um pouco do meu trabalho para conseguir fornecedores e patrocinadores. Só tenho a agradecer por terem me dado essa oportunidade de entender realmente a pessoa que sou. Não sou só a Ana Márcia, dona de casa, mãe, esposa. Eu sou uma mulher empreendedora, eu tenho um negócio, não é só um hobby. E tenho de saber administrar esse trabalho. Para mim, foi muito importante aprender a lidar com o cliente e a vender os meus produtos.”
Parcerias
A experiência, que começou como um curso on-line de empreendedorismo, ultrapassou as fronteiras do mundo digital e ganhou força com formação de um ecossistema, que contou com a parceria de dezenas de empresas e organizações de várias regiões administrativas do DF, que contribuíram de diversas formas: seja com doações financeiras, brindes, palestras, workshops, apoio psicossocial, assistência jurídica, acesso a microcrédito, entre outros benefícios.
Segundo Mariana Borges, a meta para 2021 é impactar 6 mil mulheres, levar o programa Todas Elas para outros estados e fortalecer a estrutura de dados para ampliar o conhecimento sobre o público e para medir o efeito desse trabalho. “Queremos fazer isso com outras organizações do terceiro setor, empresas privadas e governo. Parceiros que possam não só viabilizar a participação de mais mulheres no programa, mas também (disponibilizar) capital semente para investir em negócios durante o curso, proporcionar acesso à internet de melhor qualidade, apoio psicossocial, mentoria. O Todas Elas é um programa que gera inclusão social, inclusão digital, inclusão financeira e inclusão produtiva. A gente convida todas as empresas alinhadas com essas estratégias de impacto social que se juntem a nós em 2021”, ressalta.
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