Depois de um ano conturbado e tomado pelo debate sobre a pandemia do novo coronavírus, 2021 deve ser a chave para o começo das articulações para as eleições de 2022. A disputa pelo Palácio do Buriti esquentará os bastidores políticos, e grupos que desejem chegar ao comando do Distrito Federal devem dar início às costuras e acordos para viabilizar candidaturas.
Para o atual governador Ibaneis Rocha (MDB), 2021 será preponderante para a construção de uma possível trajetória para a reeleição. Depois do impacto da pandemia no orçamento e na economia local, a expectativa é de que, no ano que vem, o GDF priorize obras e grandes entregas que podem contribuir para consolidar uma candidatura do emedebista.
Ibaneis trabalha com a perspectiva de tentar a reeleição, mas isso não está definido. Aliados do emedebista avaliam que ele não entraria na disputa sem chances concretas de vitória. Por isso, 2021 é tão importante. O resultado das pesquisas de avaliação do governo devem nortear a decisão final do governador. Foi com base nesse tipo de consulta que o advogado lançou-se ao Buriti em 2018 e defendeu, mesmo quando números mostravam cenário adverso, que tinha possibilidade de vencer, o que, realmente, concretizou-se.
Nos bastidores, um nome forte caso o atual governador desista da reeleição é o do atual presidente da Câmara Legislativa, Rafael Prudente (MDB). Hoje, a tendência é de que ele tente uma vaga para deputado federal, mas, sem Ibaneis, o cenário seria diferente.
Oposição
Entre os que devem desafiar o grupo político de Ibaneis, em 2022, um dos nomes mais claros é do senador Izalci Lucas (PSDB), em campanha praticamente aberta ao Buriti desde 2019. Há o início de conversas para uma possível aliança dele com o ex-governador e ex-senador Cristovam Buarque (Cidadania). Pesa para a possibilidade de Izalci lançar-se o fato de que, mesmo que perdesse as eleições, teria ainda quatro anos garantidos pela frente no Senado.
Para tentar se fortalecer, Izalci tem feito críticas e se posicionado contra a gestão atual. Foi um dos defensores, por exemplo, da instalação da CPI da Pandemia na Câmara Legislativa, após a prisão da cúpula da Secretaria de Saúde por suspeitas de irregularidades na compra de testes rápidos. Outra alternativa no grupo contrário ao governador é a deputada federal Paula Belmonte (Cidadania), que, como Izalci, fez duras críticas a pontos da gestão do emedebista nestes primeiros dois anos de mandato.
O senador José Antônio Reguffe (Podemos) também é um dos cotados para a disputa. O mandato dele no Congresso se encerra em 2022, e o político tem sido incluído nas pesquisas de opinião encomendadas por adversários. Discreto, entretanto, ele ainda não se manifestou publicamente sobre qual será o caminho seguido nas próximas eleições.
Faltando ainda cerca de dois anos para o pleito, a tendência é de que o cenário passe por muitas mudanças até as urnas. Sem articulações fortes até agora para o Buriti, outros personagens carimbados da política local, como Alberto Fraga (DEM), Rodrigo Rollemberg (PSB) e Rogério Rosso (PSD), podem, também, aparecer como possibilidades a depender das mudanças do próximo ano.
Ano vitrine
O ano pré-eleitoral é a última oportunidade que os futuros candidatos têm de fazer vitrine para as campanhas. A tendência, agora, será de colher o que se plantou nos últimos dois anos, e, ainda, lançar novos projetos para mostrar aos eleitores o potencial de governança de cada um. O cientista político e diretor da Dominium Consultoria, Leandro Gabiati, explica que a tendência é de que, aqueles que queiram comandar o Buriti a partir de 2023, foquem em apresentar resultados. “Será um ano de produzir muito. As eleições de 2022 estão antecipadas, até porque, no cenário nacional, o próprio presidente sempre comenta o assunto.”
Ele avalia que Ibaneis Rocha sai em vantagem para se manter como chefe do Executivo. “A reeleição do presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), Rafael Prudente (MDB), é positiva para o governo, que se articulou bem e não teve entraves”, afirma. “Além disso, o desempenho dele frente à pandemia, tendo sido um dos primeiros a reagir, ainda em março e abril, vai ser reconhecido.”
Mas, o especialista acredita que há, também, fortes nomes na disputa, como os senadores Reguffe (Podemos) e Leila Barros (PSB). “Será que Reguffe finalmente vai deixar o Legislativo e tentar uma vaga no Executivo? A senadora Leila pode ser uma importante opositora, visto a boa campanha que fez.”
Outro ponto relevante será a forma como a esquerda se apresentará, o que, para Leandro, vai depender do que o Partido dos Trabalhadores decidir. “O PT é o maior partido e, por isso, sempre quer ser cabeça de chapa e impor um candidato. Em termos de ação coletiva, a lógica seria a união. Mas, quando se entra na lógica partidária, é difícil, por causa dos interesses dentro do partido e disputa de poder.” Uma divisão entre as legendas pode ser algo positivo para Ibaneis. “É como diz Maquiavel: dividir para conquistar”, lembra Gabiati.
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Três perguntas / Rócio Barreto, cientista e analista político
Você avalia a possibilidade dos partidos de esquerda se unirem para lançar um único candidato ao GDF?
Não vejo essa possibilidade. Possivelmente, o PT vai ter um candidato. Outro partido de esquerda que ganhou força no Distrito Federal é o Psol, que pode vir com outro candidato. Eu não vejo, nesse primeiro momento, a união da esquerda. Não se tem conversado para uma frente única, e acredito que se vierem, terão pouquíssimas chances de lograr êxito nessas condições. Nesse momento, a esquerda está fragilizada e sem união para a disputa do governo aqui no DF, e, consequentemente, para a Presidência da República.
Nesse momento de ano pré-eleitoral, qual a tendência observada no comportamento dos políticos? É um momento de estar mais na rua, fazer mais propaganda, investir em redes sociais?
Não é o momento adequado de estar nas ruas. Tirando como exemplo as eleições de 2020, as pessoas optaram pelos candidatos que respeitaram as medidas de distanciamento social e os protocolos do Ministério da Saúde. Porém, é necessário ter grupos. Investir em redes sociais sempre é importante, mas elas devem ser via de mão dupla: não apenas postar e achar que as pessoas vão observar aquilo. Tem que conversar com as pessoas, respeitar, dar ouvidos ao que estão pleiteando e, consequentemente, criar condições e exemplos para que acreditem na possibilidade de que aquilo que você está falando pode se tornar uma política pública viável passível e possível de ser realizada. Os candidatos que optarem por respeitar as medidas de segurança e os protocolos do Ministério da Saúde terão mais êxito do que aqueles que saírem para bares, para tentar fazer política em ambientes desfavoráveis para a saúde das pessoas e favoráveis para proliferação do vírus.
Qual pode ser a melhor tática para o governador, se quiser tentar uma reeleição? E para a oposição que quiser se destacar?
O governador deve se preocupar um pouco mais com a saúde e casos de possível corrupção dentro do governo dele. Afastar as pessoas que são possíveis autores de corrupção e dar mais condição e uma certa transparência na saúde, nos gastos do governo, e fortalecer a relação com a CLDF. O governador precisa ouvir as pessoas e, desse diálogo, tentar fazer políticas públicas pelo que as pessoas estão pleiteando. O governador precisa mudar alguns secretários para dar respostas imediatas à população, para que não haja nenhum tipo de suspeita de que seu governo esteja tentando esconder alguma coisa, ou passando o pano na mão de algum secretário de qualquer área. É necessário atitude imediata, principalmente na saúde e educação.
A oposição está um pouco quieta e fragilizada, perdendo oportunidades, pois as falhas, o vácuo e o espaço que o governo tem deixado, principalmente em relação ao atendimento com as pessoas, devem ser mais bem aproveitados. A oposição deve se fazer valer e, no mesmo momento que criticar um deslize do governador ou dos secretários, oferecer propostas que sejam passíveis de serem concretizadas.