Retrospectiva

Naja, Kyara, maconha e, claro, pandemia... Veja a retrospectiva 2020 de Brasília

Como no resto do mundo, a história do DF este ano foi marcada pela covid-19. Mas Brasília viveu muitos outros fatos marcantes em 2020. Lembre os principais

Cibele Moreira
Darcianne Diogo
Samara Schwingel
postado em 31/12/2020 06:00
 (crédito: Arquivo pessoal, Marcelo Ferreira/CB/D.A Press e Ivan Mattos/Divulgação)
(crédito: Arquivo pessoal, Marcelo Ferreira/CB/D.A Press e Ivan Mattos/Divulgação)

O ano que se encerra deixa rastros de tristeza e de dor, mas também lições sobre resiliência e solidariedade. A pandemia da covid-19 obrigou a distância dos abraços e das comemorações. Aprendemos a sair de casa protegidos com máscaras e o álcool em gel virou munição contra um inimigo invisível. O Distrito Federal viu seus hospitais operarem no limite e os profissionais de saúde, trabalharem à exaustão. Os brasilienses atravessaram a pior fase da pandemia da covid-19 e se prepararam para virar o ano e enfrentar uma nova onda de contaminações pelo coronavírus.

As histórias de superação da doença se unem a algumas de alegria, como os estudantes da rede pública reconhecidos internacionalmente, os bebês que tiveram acesso a medicamentos caros que podem salvar-lhes a vida e os milionários que acertaram as dezenas premiadas da Mega-Sena.

A dor das famílias de mulheres assassinadas em razão do gênero e dos motoristas de aplicativo mortos enquanto trabalhavam também grita pelas ruas da cidade. Delegado preso por manter plantação de maconha em casa e estudante de veterinária integrando esquema internacional de tráfico de animais também estão entre os casos de polícia que chocaram o Distrito Federal. Confira esses e outros dos destaques de 2020 na retrospectiva do Correio.

Assolados pela covid-19

Brasília registrou os primeiros casos suspeitos da covid-19 em fevereiro. No início de março, a primeira confirmação: uma moradora do Lago Sul, de 52 anos, estava infectada. A advogada deu entrada em um hospital particular, em 4 de março. Passaram-se quase 80 dias de internação em unidade de terapia intensiva e, em 9 de abril, estava curada.

Primeira unidade da Federação a decretar medidas mais abrangentes de isolamento social, o DF suspendeu, em 11 de março, as aulas nas redes pública e privada de ensino, proibiu eventos como shows e competições esportivas e determinou medidas de distanciamento em bares e restaurantes. Itens de higiene e de proteção como álcool em gel e máscaras começaram a faltar nos estoques de farmácias e supermercados. Uma semana mais tarde, ações ainda mais rigorosas foram colocadas em prática: comércio não essencial e shopping centers fechados, missas e cultos suspensos. Em 29 de março, foi registrada a primeira morte pela doença no DF, uma enfermeira de 61 anos.

Considerada uma das mais eficazes maneiras de diminuir o contágio, o uso de máscara facial tornou-se obrigatório em todo o espaço público e privado em 11 de maio, com a possibilidade de aplicação de multa para quem desobedecer a norma. Em 24 de abril, a Secretaria de Saúde iniciou os testes em massa por meio de pontos de drive-thru pela cidade. O processo de reabertura dos estabelecimentos ocorreu de forma escalonada. Decisões judiciais impediram a liberação de algumas das atividades no pico da pandemia.

Em julho, a Operação Falso Negativo levou à prisão integrantes da cúpula da Saúde, entre eles, o ex-secretário Francisco Araújo Filho, e outros seis gestores da pasta. Denúncia do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) apontava para suposto envolvimento em organização criminosa montada para fraudar contratos superfaturados de compra, sem licitação, de testes de covid-19. Todos os acusados perderam os cargos após a prisão preventiva. Em 16 de novembro, a Justiça liberou os suspeitos sob monitoramento eletrônico.

O DF conta com centros de teste para vacinas contra a covid-19, mas o governo local adotará o calendário de vacinação nacional. Em 18 de dezembro, a Secretaria de Saúde definiu o plano de vacinação, que deve começar no ano que vem.

Outras epidemias no caminho

Em meio à pandemia da covid-19, os casos de dengue também apresentaram alta na capital federal. Até 12 de dezembro, a Secretaria de Saúde registrou 47.224 casos prováveis da doença. O índice é 22,8% maior que o registrado no mesmo período de 2019, quando foram contabilizados 38.455 notificações prováveis, o pior cenário na história do DF. A pasta também notificou 44 mortes pela doença neste ano. Em janeiro, o GDF chegou a decretar estado de emergência para o combate ao Aedes aegypti. Casos de sarampo também despertaram alerta. A campanha de vacinação foi reforçada para conscientizar a população sobre a importância da imunização contra a doença que, até então, estava erradicada no país.

Caso naja e o tráfico internacional de animais

Era 7 de julho de 2020 quando Pedro Henrique Krambeck, 22 anos, sofreu um acidente no apartamento onde mora, no Guará 2. O estudante de medicina veterinária foi mordido no braço por uma naja kaouthia, originária do sudeste da Ásia e levado ao Hospital Maria Auxiliadora, no Gama. Ficou entre a vida e a morte. A criação desse tipo de serpente é proibida no Brasil, o que levou a Polícia Civil a iniciar investigação que revelou uma rede de tráfico internacional de animais. Agentes da 14ª Delegacia de Polícia (Gama) constataram que o estudante mantinha outras 22 cobras em casa.

No dia em que foi picado, amigos e o padrasto dele, o tenente-coronel da PMDF Clóvis Eduardo Condi, e a mãe, a advogada Rose Meire dos Santos, tentaram esconder outras 16 serpentes, que foram localizadas dois dias depois pelo Batalhão de Polícia Militar Ambiental (BPMA), em um terreno do núcleo rural Taquara, em Planaltina. Um dos amigos de Pedro, Gabriel Ribeiro Moura, foi o responsável por ficar com a naja após o incidente. Ele deixou a cobra, um dia depois, próximo ao shopping Pier 21, numa caixa, para ser resgatada pela Polícia Militar.

As investigações concluíram que Pedro traficava cobras por, pelo menos, cinco anos. Ele responde 23 vezes por tráfico de animais, associação criminosa e exercício ilegal da medicina. Ao todo, onze pessoas foram indiciadas e o Ministério Público do DF e Territórios pediu a condenação de Pedro, Rose, Clóvis e Gabriel, que se tornaram réus no processo.Agora, a decisão está nas mãos do juiz Manoel Franklin, da Vara Criminal do Gama, que decretará as sentenças.

Desafios na educação

Em julho, o Executivo local permitiu a volta às aulas presencial de alunos de instituições particulares. Ação dp Ministério Público do Trabalho (MPT), no entanto, adiou o retorno, que só ocorreu, de forma, escalonada, a partir de 21 de setembro, após audiência de conciliação com o Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinepe).

Na rede pública, a secretaria optou pelo ensino remoto até o fim do ano letivo. Com a suspensão das aulas em março, o recesso do meio do ano foi antecipado para o período de 16 a 31 de março. Em junho, os estudantes de todos os anos dos ensinos infantil ao médio e a educação de jovens e adultos começaram as aulas on-line pela plataforma Google Sala de Aula. A previsão é de que o ano letivo se encerre em 28 de janeiro de 2021. A Universidade de Brasília (UnB) também manteve o ensino a distância.

Inovação

Estudantes do Centro de Ensino Médio 2 do Gama ganharam prêmio internacional por desenvolver plástico biodegradável com casca de laranja. A iniciativa surgiu durante um trabalho de ciências desenvolvido na escola, ganhou o mundo, e ficou em segundo lugar no campeonato World Invention Competition and Exhibition (Wice), na Malásia. O Distrito Federal ficou entre os três premiados do mundo todo.

Vidas das mulheres em risco

Primeira vítima de feminicídio de 2020, Larissa Francisco Maciel, 23 anos, foi encontrada morta em 6 de janeiro, em uma igreja na Candangolândia. O assassino confesso, um jovem de 20 anos que conhecia a vítima, foi preso nove dias depois do crime. Como ela, ao menos outras 12 mulheres foram mortas por causa do gênero no DF.

Também em janeiro, Gabrielly Miranda, 18, morreu com um tiro na cabeça, disparado pelo marido, em Samambaia. Em 14 de setembro, Shirley Rúbia, 39, estava em um hospital particular de Ceilândia, em consulta com a filha de 4 anos, quando foi assassinada a facadas pelo ex-companheiro, Rafael Rodrigues Manoel, 35, que cometeu suicídio em seguida.

Este mês, no dia 10, Giane Cristina Alexandre e a mãe dela, Maria Madalena Cordeiro Neto, foram mortas. Josimar Benedito de Paiva, ex-companheiro de Giane, é acusado do duplo feminicídio e está preso. Um dia depois, Maria Jaqueline de Souza, 34 anos, foi morta a facadas pelo namorado, Ricardo Silva Souza, 34, na casa dele, no Sol Nascente. O homem também foi detido.

Motoristas de aplicativo como alvo da violência

Aldenys da Silva, 29, foi o primeiro integrante da categoria a ser encontrado morto, em 18 de janeiro, às margens da BR-070, em Brazlândia. O corpo estava em um saco plástico. Dois jovens, um de 19 e outro de 23 anos, foram presos suspeitos de cometer o crime. Em 23 de janeiro, o corpo do motorista de aplicativo Maurício Cuquejo Sodré, 29, foi encontrado, em uma área rural da Granja do Torto, dentro de uma vala de contenção de água da chuva. A Polícia Civil prendeu três homens e apreendeu um adolescente suspeitos de envolvimento no crime. Em 2 de dezembro, outro trabalhador foi morto a tiros. O corpo de Roosevelt Albuquerque da Silva, 31, estava em Sobradinho. Um homem de 22 anos foi preso e um adolescente de 17, apreendido. No dia do crime, a vítima avisou à mulher que trabalharia até mais tarde para comprar o bolo de aniversário do filho de 5 anos.

Morte no pré-carnaval

O que era para ser folia, acabou em tragédia. Matheus Barbosa Magalhães, 18, foi esfaqueado na noite de 8 de fevereiro, na área externa do Museu Nacional da República, enquanto participava do bloco de pré-carnaval Quem chupou vai chupar mais. Ele foi levado ao hospital, mas não resistiu. Dois suspeitos foram condenados pela Justiça do DF. Yhorran Brunner Rodrigues Dias pegou 29 anos e oito meses de prisão e Maikon Soares, 28 anos e quatro meses. O juiz do caso determinou que o GDF arcasse com as despesas de funeral e cemitério, no valor de R$ 6.097,88.

Maconha na chácara de delegado

O delegado da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) Marcelo Marinho de Noronha, 54 anos, foi preso em flagrante, em 4 de dezembro, pelos crimes de tráfico de drogas e associação para a produção e tráfico. Investigações coordenadas pela Corregedoria Geral da corporação encontraram uma plantação de maconha em uma chácara ligada à família dele, em São Sebastião. Denúncia anônima apontava que Marcelo atuava em esquema de tráfico de drogas com os dois filhos — Marcos Rubenich Marinho de Noronha, 20, e Ana Flávia Rubenich Marinho de Noronha, 25. A chácara pertencia à mulher dele, Teresa Cristina Cavalcante Lopes, 39. Os três também foram presos, mas tiveram a liberação oito dias depois. Marcelo foi exonerado do cargo que ocupava na Comissão Permanente de Disciplina, da Direção-Geral da PCDF, em 11 de dezembro. A defesa alega que a plantação é para consumo terapêutico próprio.

Presos fogem pelo teto da Papuda

Falhas no sistema prisional da capital da República foram expostas quando, na madrugada de 14 de outubro de 2020, 17 detentos escaparam do Centro de Detenção Provisória I (CDP I), no Complexo Penitenciário da Papuda, por um buraco no teto. Por quatro dias, os internos cavaram um buraco no telhado com o auxílio de uma faca artesanal. Um dia depois da fuga, a juíza titular da Vara de Execuções Penais (VEP), Leila Cury, determinou a interdição da Ala C para que a administração penitenciária providenciasse reparos com urgência. Até ontem, três custodiados permanecem foragidos. Forças de segurança do DF trabalham com serviços de inteligência para recapturá-los.

CEB vai leilão e é vendida por R$ 2,515 bi

Após batalha judicial, a Companhia Energética de Brasília (CEB) foi a leilão da Bolsa de Valores de São Paulo, em 4 de dezembro, durante disputa acirrada. Venceu a Bahia Geração de Energia, do grupo Neoenergia, por R$ 2,515 bilhões, um ágio de 76,63% em relação ao valor inicial de R$ 1,4 bilhão. Houve ainda uma concorrência com a CPFL Comercialização de Energia Cone Sul, que ofereceu R$ 2,508 bilhões, e da Equatorial Participações e Investimentos, com o lance inicial, de R$ 1,4 bilhão. O objetivo da privatização, segundo o Governo do Distrito Federal, é aumentar os recursos do caixa da empresa, que passa por dificuldades há anos.

Batalha contra doença degenerativa mobiliza a capital

O ano também foi marcado pela luta de famílias de crianças diagnosticadas com atrofia muscular espinhal (AME) — doença degenerativa que interfere na produção de proteínas essenciais para a sobrevivência dos neurônios motores. É o caso de Kyara Lis, Helena Gabrielle e Gabriel Alves, o Biel. Um dos maiores desafios enfrentados foi a busca pela medicação que pode conter a doença, o Zolgensma. O remédio, que custa cerca de R$ 12 milhões, é considerado o mais caro do mundo e não está disponível no Sistema Único de Saúde. Correndo contra o tempo para garantir qualidade de vida às crianças, familiares acionaram a Justiça e também mobilizaram correntes de solidariedade para arrecadar dinheiro. Em outubro, após decisão judicial, Kyara Lis recebeu, do Ministério da Saúde, a complementação para comprar o remédio, aplicado em dose única em 19 de novembro. Em dezembro, a União também foi condenada a pagar pela medicação de Helena. A família de Biel apresentará recurso, pois, devido à falta de um laudo, a Justiça indeferiu o pedido da família.

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