ENTREVISTA

'Perspectivas para 2021 são as melhores', diz presidente do Sinduscon-DF

Em dois anos, o período nunca esteve tão favorável para investir no setor imobiliário, avalia Dionyzio Klavdianos. Home office e obras públicas impulsionaram o bom momento do setor, mesmo em meio às incertezas causadas pela crise sanitária

O crescimento econômico da construção civil em meio à pandemia surpreendeu o setor, que está otimista para o próximo ano. Em entrevista ao CB.Poder — parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília — ontem, o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon-DF), Dionyzio Klavdianos, comentou as possíveis razões para o balanço positivo no ramo, como os juros baixos, a adesão ao home office e o número das obras públicas no Distrito Federal. “Teremos que esperar um pouco para sabermos os motivos. Mas o fato concreto é que a procura por imóveis aumentou e o incorporador continuou a construir”, avaliou. Já o investimento em imóveis comerciais, acredita, deve ser visto com mais cautela, devido ao grande estoque de áreas vazias, principalmente na região central da capital. Confira a entrevista.

Em meio aos desafios de 2020, qual foi o balanço para a construção civil neste ano?
O setor cresceu bastante, em todos os segmentos. Fomos desafiados a continuar a operar durante a pandemia e os resultados, na nossa opinião, não poderiam ser melhores. Em primeiro lugar, nós instalamos rapidamente cartilhas de profilaxia e combate à covid-19. Fizemos um trabalho de conscientização muito grande com as empresas e funcionários. Passados alguns meses da pandemia, um número de óbitos e problemas graves envolvendo canteiros e operários ficou irrisório, ou seja, estamos vencendo com a questão de saúde e de segurança do trabalhador.

Vários setores tiveram uma queda brutal de demandas, mas, na construção civil, aconteceu exatamente o contrário. É possível explicar isso?
Teremos que esperar um pouco para sabermos os motivos. Mas o fato concreto é que a procura por imóveis aumentou e o incorporador continuou a construir. O setor vinha em um movimento bom em 2019, o governo local, desde que assumiu o mandato, investiu muito em obras públicas. E, ainda, com a pandemia e as mudanças de hábitos, pessoas que estavam querendo construir canalizaram o dinheiro para algum tipo de investimento, viram que juros baixos eram interessantes para investir em imóveis. Além disso, ficar em casa faz as pessoas repensarem sobre o próprio ambiente. Por exemplo, uma pessoa que possui um imóvel pequeno, pode ver a necessidade de ampliá-lo. Outro que decidiu usar home office como forma de trabalho daqui para a frente, pensa em fazer reforma.

O setor se mostrou resiliente diante do cenário atual?
Não tínhamos expectativas nenhuma do que poderia acontecer. Apenas sabíamos que tínhamos um desafio a cumprir, que era continuar operando, e nós conseguimos.

Quais são as perspectivas para 2021?
São as melhores. Historicamente, estamos passando por um período em que nunca se viu taxas de juros tão baixas, isto é muito bom, porque imóvel é um investimento de longo prazo. Com essa situação de economia permanecendo, a ideia é de que o setor continue a crescer. É um ótimo momento para comprar imóvel. Nós já batemos as vendas, mas teremos lançamentos. Imaginamos que bateremos o número de lançamentos em relação a 2019. A Terracap tem colocado diversos terrenos à venda que têm sido adquiridos rapidamente.

Como avalia as mudanças nos imóveis comerciais?
Hoje, não é uma boa ideia. Existe um grande estoque de áreas vazias, principalmente na região central. Tem-se muita oferta, com pouca gente demandando. Então, há um número muito alto de vacância nesses negócios. Tanto para construir quanto para investir, o imóvel comercial talvez não seja a melhor opção. Apesar de cada pessoa ter sua peculiaridade do que vai fazer, o imóvel comercial como investimento, de forma geral, não é uma boa escolha. Hoje, a administração pública, que é um grande contratante, está enxugando a máquina, e isso faz com que mais áreas sejam desocupadas. Toda essa questão que envolve a pandemia como o home office afeta, assim, não tem como saber o que acontecerá no futuro.

Quais áreas do Distrito Federal têm grande potencial de desenvolvimento?
Neste ano, tivemos boas vendas no Noroeste, no Park Sul e em Samambaia, ou seja, está muito espraiado esse movimento e isso é muito bom. Contudo, Brasília terá um problema importante em áreas legalizadas, como o aparecimento de gargalos nos próximos anos nas áreas que atendem às classes média e alta.

A construção civil vê o projeto habitacional com otimismo?
Vemos com um otimismo muito grande. O Brasil é um país que possui uma carência de mais de oito milhões de imóveis e a construção de caráter social é muito importante. No país como um todo, 75% dos imóveis vendidos eram relacionados ao programa Minha Casa Minha Vida em 2019.

Qual é a importância de manter os empregos na construção civil, especialmente nesse momento de pandemia?
A construção civil é bastante intensiva. No caso do Brasil, é uma indústria que usa bastante de processos artesanais, como alvenaria, e tudo isso faz com que ela seja um grande empregador da mão de obra que tem menos qualificação, advindas de classes menos abastadas. Então, ela tem esse importante papel social. Em Brasília, hoje, devemos estar com cerca de 77 mil operários contratados. A propósito, a construção informal, responsável por mais de 50% da mão de obra brasileira, é, em maior parte, oriunda das classes mais desfavorecidas.

A concorrência presente no setor faz um ambiente saudável em relação às incorporadoras?
Nós temos um ambiente saudável para todos. Nesse sentido, é muito importante o papel das entidades, de elas cuidarem das demandas de todos para que o incorporador cuide da sua labuta, que é construir bem, com qualidade e preço acessível.

Quais são as perspectivas do setor em relação a obras públicas no DF?
O governo local, desde o primeiro dia de mandato, tem investido bastante em obras públicas, e as perspectivas para 2021 são as melhores possíveis. Então, construções de viadutos como o da Epig, Recanto das Emas e o recapeamento da via Estrutural, com pavimento de concreto, são obras grandes e emblemáticas. Portanto, quanto maior a condição que se dá para que boas empresas sejam contratadas, economicamente firmadas e que tenham compromisso com a qualidade da obra, melhor.

Qual é o impacto da atualização da lei de ordenamento no setor da construção civil?
Essas mudanças são muito importantes para ordenar a ocupação dos centros urbanos, sem esse tipo de lei, aprovadas e bem realizadas, há margem para que a ocupação ilegal continue a tomar conta da cidade. O setor de indústria do Gama, por exemplo, a redação da Lei de Ocupação e Uso de Solo antigamente não permitiria uma unidade de saúde naquela área, mas isso foi corrigido.

É um momento positivo em relação a crédito?
Hoje, há uma situação que até dois anos atrás ninguém esperaria. O BRB, por exemplo, é parceiro da construção, conseguiu bater os concorrentes e é quem mais atua e fornece crédito. No entanto, outros bancos também possuem interesse de contribuir para o setor.

Em Brasília, o senhor vê construções nobres e populares em situações muito delicadas?
Eu as vejo com muita preocupação. Infelizmente, no Brasil, a cultura de manutenção não é enraizada. Mesmo o privado, como condomínios, não se cuida disso, se vê isso como despesa, e não é. Uma obra não termina com a entrega da chave. Ela vai durar 50 anos se malcuidada e, se bem-cuidada, dura uma eternidade. Há obras pelo mundo com dois, três mil anos. Qual a dificuldade que as nossas têm? Você, quando recebe a chave, está começando uma nova etapa da obra. A gente tem muita preocupação com isso. Os problemas que tivemos com manutenção de pontes e de viadutos, por exemplo. E esse governo está até cuidando disso, com as reformas da tesourinhas e das entrequadras. Recentemente, foi aprovado um PL de manutenção de pontes e viadutos, e inclusive membros da Secretaria de Obras trabalharam em conjunto para a redação desse projeto. Achei isso um marco importante, porque são diversas entidades tratando do tema e os deputados do projeto acataram as nossas sugestões. Nós praticamente fizemos o conteúdo do PL. Outro exemplo muito importante de preservação foi esse selo do Conselho de Arquitetura e Urbanismo na semana passada. Eles começaram a premiar os oito prédios mais bem conservados. Nós principalmente, que gostamos muito de obra, ficamos muito chateados com o que acontece no Plano Piloto. As pessoas fecham condomínio, trocam revestimentos que não precisavam ser trocados, mal aconselhados. Precisa fazer um trabalho no sentido de sensibilizar os condôminos dessa importância.

* Estagiária sob supervisão de Mariana Niederauer