O mundo parou e (eu também) para ver a tentativa de golpe insuflada por Donald Trump, com a invasão do Capitólio, o congresso nacional dos Estados Unidos, por milicianos e extremistas apoiadores do republicano. Era uma crônica do golpe anunciado, Trump percebeu que podia perder as eleições para presidente e começou a preparar o clima para negar a vitória de Biden, a partir de meados do ano passado.
A imprensa americana colaborou muito para a ascensão do palhaço sinistro, ao apoiar diretamente ou indiretamente às sandices de Trump. Somente durante a pandemia algumas emissoras de tevê resolveram dizer abertamente que ele mentia.
Segundo cálculos da imprensa americana, Trump proferiu mais de 40 mil mentiras durante o mandato. Como pode governar um presidente que funda seu governo em cima de terreno tão pantanoso? A imprensa americana ajudou a criar o monstro. E, agora, ele se revelou sem máscaras ao incitar a invasão do Congresso por vândalos, armados de pistolas e de bombas, em uma cena digna das repúblicas de banana.
Trump é palhaço sinistro, narcisista, infantil e desequilibrado. Não admite perder, ser um “loser”. Mas o fato é que ele perdeu todas: a presidência da República, a câmara e o senado. Moveu mais de 60 ações na justiça, sem apresentar provas, em que aparece na condição de suposta vítima de fraudes nas eleições e foi derrotado em todas as instâncias. É um mentiroso de carteirinha e tem acólitos por aqui.
Não aguentou a derrota e adotou a estratégia de Goebbels, o ministro da propaganda nazista, que proclamava: uma mentira repetida mil vezes se torna verdade. Se os fatos desmentiam Trump, pior para os fatos. É o mais patético tipo de perdedor: aquele que não aceita a derrota. Para ele e seus acólitos, o único regime possível é a ditadura, pois a democracia pressupõe a alternância no poder.
A verdade é que o sistema eleitoral norte-americano é confuso e favorece a golpistas da linhagem de Trump. Enquanto no Brasil, quem ganha nas urnas é proclamado vencedor, nos EUA é preciso que seja certificado pelo colégio eleitoral, pela câmara e pelo senado. Quer dizer, é uma democracia tutelada, que restringe a soberania popular do voto.
Alguns analistas se desesperam: é um abalo irreparável para a democracia. É justamente o que Trump quer. Mas ainda é possível aplicar um contragolpe democrático, com o respeito estrito à Constituição. O primeiro passo foi dado: o senado e a câmara resistiram à violência do assalto à democracia, se reuniram no parlamento e ratificaram a eleição de Biden à presidência.
O segundo passo é investigar e punir a horda de vândalos e seus mentores de maneira exemplar. O facebook bloqueou a conta de Trump até a posse de Biden. É um pouco tarde, mas indica um caminho na democracia. O vírus da mentira é tão nefasto quanto o novo coronavírus.
O que aconteceu nos EUA é um alerta para o Brasil. Mas, apesar do abalo, Biden conquistou maioria na câmara e no senado, está com a faca e o queijo na mão para promover uma virada democrática, com impactos em todos os países, e, principalmente, no Brasil.
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