Feminicídio

Feminicídio: sem dinheiro para transportar corpo ao Maranhão, família velará vítima no DF

Isabel Ferreira Alves, 37 anos, foi morta na noite de sexta-feira (8/1), em Ceilândia, pelo marido. O valor para levar o corpo até o Maranhão, estado natal da vítima, custaria mais de R$ 15 mil

Darcianne Diogo
postado em 10/01/2021 18:57
 (crédito: Material cedido ao Correio)
(crédito: Material cedido ao Correio)

Sem condições de transportar o corpo para o Maranhão, a família de Isabel Ferreira Alves, de 37 anos, velará o corpo da vítima de feminicídio no Cemitério Campo da Esperança de Taguatinga, na tarde desta segunda-feira (11/1). A auxiliar de serviços gerais morreu na noite de sexta-feira (8/1), assassinada pelo marido, Marcos Soares Pereira, 36, preso em flagrante um dia depois do crime. Isabel deixa três filhos.

Ao saber da morte da irmã, Ana Maria Ferreira, 35, saiu de Santa Inês (MA), na sexta-feira, e chegou na manhã deste domingo (10/1) a Brasília. A intenção, segundo ela, era levar o corpo da familiar até a cidade natal para ser sepultado. “Como o seguro não cobriu, o valor para o translado ficaria em mais de R$ 15 mil. Não temos essa condição de jeito nenhum”, contou, em entrevista ao Correio.

O sepultamento ocorrerá às 14h30 desta segunda-feira, no Cemitério de Taguatinga, e terá duração de 30 minutos. Isabel chegou a Brasília há 12 anos, onde teve três filhos, fruto de outro relacionamento. O velório não contará com a presença da mãe dela. “Só vim eu do Maranhão. Minha mãe e minhas outras irmãs não tinham o dinheiro da passagem. Como vem? Tudo isso é muito triste”, lamentou.


O crime


Isabel foi morta com uma facada no tronco pelo companheiro dentro de casa, na QNN 3 de Ceilândia Norte. O filho caçula da vítima, de 15 anos, presenciou o crime e precisou correr e esconder-se em um cômodo da casa para não ser atingido. O homem foi preso no sábado (9/1). Ele estava escondido na casa de um parente na região.

Em depoimento prestado na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam 2), unidade  policial que investiga o caso, o agressor contou que queria sair de casa e os dois tiveram uma discussão. “Ele teria pedido dinheiro a ela, mas a vítima falou que não tinha o valor e cogitou pedir aos vizinhos. Depois disso, ele disse que a matou com, ao menos, uma facada”, detalhou a delegada-adjunta da Deam 2, Karina Duarte. Apenas o laudo cadavérico poderá precisar a quantidade de facadas e o local exato do ferimento.

A irmã da vítima detalhou ao Correio como era o relacionamento do casal. Segundo ela, Marcos proibia a mulher de se comunicar com os parentes e rastreava o celular dela. Em agosto de 2019, o homem foi preso em crime previsto na Lei Maria da Penha, mas Isabel retirou a queixa e o marido recebeu alvará de soltura em abril do ano passado, quando deixou o Complexo Penitenciário da Papuda.

O Correio teve acesso à ocorrência da época. O registro mostra que policiais receberam uma denúncia de violência doméstica. Ao chegarem ao endereço da mulher, os PMs depararam-se com a porta da residência trancada e ouviram gritos do acusado, dizendo que iria matá-la.

Os policiais deram ordem para que ele abrisse a porta, mas o homem desobedeceu e impediu que Isabel deixasse a residência. No chão, havia respingos de sangue. A violência só teve fim no momento em que a dona do imóvel chegou ao local com a chave e abriu a porta. Isabel foi ferida na mão e encaminhada ao Hospital Regional de Ceilândia (HRG). Durante o interrogatório, ela disse que estava sendo mantida em cárcere privado pelo marido e havia levado três facadas há anos.

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