Crime

"Queria pedir para a galera tomar cuidado com esses aplicativos", diz genro de motorista assassinado

Corpo de Geraldo Iris Gontijo foi encontrado no porta-malas do próprio carro, após atender uma corrida na madrugada de ontem, em Santa Maria. "Não sei se ele reagiu ou não, mas eles deram um tiro na nuca do meu sogro", relatou genro da vítima 

Darcianne Diogo
postado em 13/01/2021 06:00
 (crédito: arquivo pessoal )
(crédito: arquivo pessoal )

Após pouco mais de um mês da morte de um motorista de aplicativo, que perdeu a vida enquanto trabalhava no Distrito Federal, Geraldo Iris Gontijo, de 51 anos, foi executado com um tiro na nuca e teve o corpo jogado no porta-malas do próprio carro. O crime ocorreu depois que ele atendeu uma corrida na madrugada desta terça-feira (12/1), no Condomínio Porto Rico, em Santa Maria. Dados mais recentes da Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP-DF) indicam que, entre janeiro e julho de 2020, cinco trabalhadores dessa categoria foram vítimas de latrocínio. Até a última atualização dessa reportagem, ninguém havia sido preso.

O genro da vítima, que preferiu não se identificar, narrou a situação e alertou os trabalhadores. “Queria pedir para a galera tomar cuidado com esses aplicativos. Quando deu 1h [terça-feira], meu sogro recebeu uma chamada pelo 99, aqui em Porto Rico. Ele foi lá atender e os caras entraram no carro. Não sei se ele reagiu ou não, mas eles deram um tiro na nuca do meu sogro, mataram ele e o colocaram dentro do porta-malas.” Em entrevista ao Correio, ele define o sogro como uma pessoa “tranquila” e “sossegada”. “Estava sempre disposto a ajudar, tratava a todos bem e era pai de família. Infelizmente, o perdemos para a criminalidade. Nunca teve desavenças com ninguém e trabalhava à noite e pela madrugada, pois achava mais tranquilo devido ao trânsito”, completou.

Geraldo prestava serviços havia cerca de dois anos para empresas de transporte por aplicativo. Como o motorista tinha o costume de sair para trabalhar durante a madrugada, a família não estranhou. O genro conta que a vítima entrou no WhatsApp pela última vez por volta da 1h30 de terça-feira (12/1). “Não conseguimos mais contato. Acreditamos que esse tenha sido o horário que os bandidos o abordaram”, disse.

Investigação

A polícia colhe informações para descobrir se Geraldo foi assassinado ainda no DF ou em Valparaíso (GO), o que definirá se o caso ficará a cargo da 33ª Delegacia de Polícia (Santa Maria) ou da delegacia do município goiano. Como consta na ocorrência, com Geraldo no carro, os criminosos dirigiram até Valparaíso 2, à procura de um rival, identificado como Dyego de França, 31. Após localizarem o rapaz, os suspeitos o colocaram à força no carro e o levaram até a Quadra 37, Anhanguera B. Lá, o balearam diversas vezes, fugindo em seguida.

Horas depois, três pessoas passaram pelo local e avistaram o carro abandonado. Ao aproximarem-se do veículo, o trio constatou que havia um homem sangrando no banco interior do automóvel. Sem ainda saber que o corpo do motorista de app estava no porta-malas, as testemunhas levaram o rapaz, com o carro de Geraldo Gontijo, até o Centro de Atendimento Integrado à Saúde (Cais) de Valparaíso, mas, segundo relataram à polícia, não havia cirurgiões disponíveis e, por isso, seguiram até o Hospital Regional de Santa Maria (HRSM). O estado de saúde do rapaz não foi divulgado.

Somente no HRSM, os socorristas do hospital perceberam que havia outro corpo dentro do porta-malas, mas inconsciente e sem sinais vitais. Policiais militares, então, conduziram as testemunhas e o veículo até Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops) de Valparaíso, mas, chegando lá, foram orientados que o caso era atribuição do DF e seguiram até a 20ª DP (Gama). Contudo, o caso foi transferido à 33ª DP, onde está sendo investigado como homicídio em apuração e localização ou remoção de cadáver. No entanto, a tipificação pode mudar no decorrer das diligências policiais.

Medidas

Procurada pelo Correio, a 99 lamentou a morte de Geraldo e diz apurar o caso para saber se o crime ocorreu durante corrida pelo aplicativo. “Nos solidarizamos com a dor dos familiares e estamos buscando contato com eles para oferecer o suporte necessário. A plataforma se coloca à disposição da polícia para compartilhar informações que possam ajudar a esclarecer os fatos e a punir os responsáveis”, garantiu a empresa.

Questionada pela reportagem sobre as medidas adotadas para combater crimes desse tipo, a 99 afirmou que investe “continuamente em segurança antes, durante e depois das corridas”. Esclareceu, ainda, que, como formas de prevenção antes das chamadas, “a companhia mostra aos motoristas informações sobre o destino final, a nota do passageiro e se ele é frequente, além de exigir que todos os passageiros incluam CPF ou cartão de crédito”.

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