Eu, estudante

Aglomerações marcam o primeiro dia do Enem

Estudantes reclamam da falta de organização, principalmente, nas salas de aula, onde o distanciamento entre os candidatos foi desrespeitado. Confusão com endereços de aplicação do exame foi outro complicador

» LUANA PATRIOLINO » RENATA RUSKY
postado em 17/01/2021 23:36
 (crédito: Carlos Vieira/CB/D.A Press)
(crédito: Carlos Vieira/CB/D.A Press)

Se dia de prova é naturalmente motivo de ansiedade, com a pandemia do novo coronavírus, fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) Impresso 2020, ontem, foi ainda mais tenso. Tanto na abertura dos portões, às 11h30, quanto na saída das provas, a partir das 18h30, os estudantes enfrentaram aglomerações. Além disso, eles reclamaram que muitas salas não respeitavam o distanciamento entre as pessoas.

No Distrito Federal, foram mais de 113 mil inscritos, de acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Entre eles, Karina Esther Miranda, 17 anos, que quer cursar enfermagem, e Gabriel Nery, 18, que ainda não tem certeza de que área seguir. Ambos estudaram em escolas públicas e pensaram em não fazer a prova, por conta da pandemia. Na opinião deles, o exame deveria ter sido adiado. “As nossas salas não estavam com distanciamento”, reclama Gabriel. “Tinha uma menina colada em mim”, conclui Karina.

Marina Godoy, 18, saiu da prova, por volta de 18h30. “Achei que tinha muita gente, muita muvuca. Vou chegar em casa e tomar um banho”, conta. Ela relata que os corredores estavam cheios, mas a sala onde fez o exame tinha 15 pessoas, porque muitos candidatos faltaram.

Isabela Pires, 19, e Rayssa Canedo, 18, estudaram juntas durante 2020, mas cada uma em sua casa. As amigas pretendem fazer o mesmo curso: direito. “Peguei todo conteúdo na internet mesmo. É difícil estudar on-line, mas a gente aprende a ter disciplina. Foi bem diferente”, ressalta Isabela.

Além do conteúdo, Rayssa confessa que ainda se preocupava com a aglomeração. “Estou com medo do vírus. É muita gente fazendo prova. Mas, como não sou do grupo de risco e suspenderam o vestibular, vim fazer”, diz.

Matheus Conde Serra, 17, mora com duas pessoas que estão no grupo de risco, então decidiu se proteger mais. Usou duas máscaras, uma em cima da outra, e um faceshield. “Eu pensei em não vir. A circulação de pessoas é muito grande. Minha sala só não estava cheia porque muitos faltaram, mas não podia perder a chance”, lamenta.

No país, 5,7 milhões de alunos se inscreveram para fazer a prova do Enem. No sábado, a Defensoria Pública da União (DPU) tentou, novamente, adiar a prova, sem sucesso. Ponderou à Justiça que o Inep, órgão ligado ao Ministério da Educação (MEC), mentiu sobre a ocupação de salas do Enem. Os planos de aplicação da prova incluem salas com até 80% de ocupação, enquanto o governo federal promete 50%. A DPU sustenta que o Inep sabia que o plano de ocupação das salas ultrapassava a capacidade de 50%.

A prova

Matheus quer estudar odontologia e fez o Enem pela primeira vez. Para ele, a prova foi muito diferente das que estava mais acostumado, como a do Programa de Avaliação Seriada (PAS), da Universidade de Brasília (UnB). “Achei menos objetivo. Tem que reler várias vezes as questões para entender o que elas querem”, avalia.

Fabiana Viana dos Santos, 19, quer estudar enfermagem. Ela fez a prova pela segunda vez e teve altos e baixos, com algumas partes mais complicadas, outras menos. Mas concorda com Matheus em um ponto: “Precisa ler muito”.

Ela considerou a prova de geografia bem extensa, em especial, comparada com a do ano passado. Segundo o professor da disciplina Robson Lucas, do Colégio Sigma, a prova anterior havia deixado a desejar. “Foi mais polida, conteudista, com muitos conceitos da ciência, uma prova de dificuldade média que exigia cuidado”, avalia.

De acordo com Rodrigo Noronha, professor de redação do sistema COC by Pearson, a prova não foi complicada, nem trouxe textos complexos para leitura e elaboração das respostas. Nem mesmo a proposta temática da redação — Estigmas associado a doenças mentais — fugiu do que se esperava. “Trouxe um tema corriqueiro, tendo em vista toda a complexidade do ano de 2020 em relação à pandemia, com questões que substanciaram causas de possíveis doenças mentais. O que me chamou a atenção, e isso pode gerar dúvida no aluno na composição dos argumentos, foi que o aluno não podia confundir doença mental com saúde mental e a coletânea trabalhou essa distinção”, afirma.

Choro e desinformação

Na UDF, houve reclamações em relação ao aplicativo do Enem, no qual não constava a entrada correta pela qual os estudantes deveriam entrar. A universidade tem duas entradas distantes entre si: campus sede (704/904 Sul) e campus Reitor Rezende (903 Sul).

Emocionada, a estudante Teane Limeira, 22 anos, conta que perdeu o Enem, justamente, por causa da falta de informação. Ela afirma ter esperado um ônibus na Granja do Torto por mais de uma hora e entrou no campus errado. A jovem cursa enfermagem em uma universidade particular e faria a prova para tentar uma bolsa de estudos.

“Agora, nem sei o que fazer mais. Eu acho muito injusto para quem estava dentro da sala, com o saquinho que entregaram, falarem que não poderia mais fazer a prova. Isso é uma falta de respeito muito grande com quem está esperando para fazer o Enem”, revoltou-se Teane.

A servidora pública Caroline Alvarenga, 32, é engenheira ambiental e está grávida de nove meses. Ela faz o Enem todos os anos, como hobby. Caso passe nesta edição, pretende cursar educação física. “Faço com os conhecimentos que tenho, porque gosto de tentar. Em 2018, fiz e passei para educação física, mas não me inscrevi. Me arrependi”, afirma.

Dessa vez, Caroline precisou enfrentar um empecilho a mais. Foi parar no prédio errado e teve que caminhar por 10 minutos em meio à multidão de alunos e pessoas correndo para os locais corretos de prova. “Estou achando confuso. As informações eram completas no site. Eu usei o aplicativo neste ano e achei bem pior”, avalia.

No próximo domingo, ocorre a segunda etapa do Enem Impresso, com aplicação de questões de matemática e de ciências da natureza.

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  • Locais onde ocorreram a aplicação do Enem registraram movimento intenso de pessoas sem distanciamento, na entrada e na saída da prova
    Locais onde ocorreram a aplicação do Enem registraram movimento intenso de pessoas sem distanciamento, na entrada e na saída da prova Foto: Carlos Vieira/CB/D.A Press
  • "Achei que tinha muita gente, muita muvuca. Vou chegar em casa e tomar um banho" Marina Godoy, 18 anos Foto: Renata Rusky/CB/D.A Press

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