Crônica da Cidade

por Severino Francisco severinofrancisco.df@dabr.com.br (cartas: SIG, Quadra 2, Lote 340 / CEP 70.610-901)

Correio Braziliense
postado em 20/01/2021 20:22

Redação do Enem

Fiquei curioso para saber o tema escolhido pelo Enem para a redação deste ano. A questão selecionada foi O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira. O problema emergiu com força na pandemia, pois o isolamento social produz muito sofrimento psíquico. E, neste sentido, em maio de 2020, a OMS chegou a fazer um alerta sobre o risco global de uma crise de saúde mental durante esse período.

Nada tenho contra o tema, pois sempre foi alvo de minhas leituras e pesquisas. Mas, apesar disso, entendo que o grande tema para esse momento no qual estamos mergulhados é o negacionismo. Ele afeta a nossa vida diretamente. Os principais problemas que temos no momento são a escassez de vacina e as dificuldades para obtê-la, causadas pelas desinteligências diplomáticas. Ambas são decorrentes da mesma causa.

Nós lutamos contra dois vírus: o coronavírus e o vírus do negacionismo. Em nosso país, os dois estão misturados e, ao se confundirem, produzem efeitos nefastos. Se combater a pandemia já é uma missão titânica para qualquer governo, a situação se complica ainda mais quando a negação impera.

Obscurecido pelo fanatismo ideológico, o governo federal não comprou a vacina, a única solução para combater a doença, e nos empurrou para o final da fila. As tratativas diplomáticas foram na mesma linha negacionista e deram com os burros n’água. Hostilizaram a China e desconsideraram a Índia, precisamente os dois fornecedores de insumos para a vacina, em favor não dos Estados Unidos, mas de Trump.

Trump era uma espécie de “centrão” em que o governo se escorava no plano internacional. Já foi tarde. Como sempre, o negacionista se recusa a assumir a responsabilidade por qualquer ato. A culpa é sempre dos outros. O negacionista é um irresponsável nato. No caso, a culpa do fracasso em conseguir vacinas foi atribuída por suas excelências ao embaixador da China no Brasil.

Mas o negacionismo é inviável sem a máquina de mentiras das redes sociais. Segundo pesquisa da empresa Zignal Leds, de 9 a 15 deste mês, depois que Trump foi bloqueado no twitter, o índice das notícias falsas sobre fraudes das eleições americanas nas redes sociais caiu 73%. Nos EUA, morreram cinco pessoas na invasão do Capitólio, sob a incitação de Trump.

No Brasil, as vacinas são escassas, a falta de oxigênio mata as pessoas, excelências continuam receitando cloroquina e as grandes corporações virtuais não fazem nada. Sem vacinas suficientes, a crise tende a se agravar e elas também serão responsabilizadas pela tragédia humanitária por crime de omissão. Não é possível falar em liberdade de expressão quando a desinformação provoca a morte das pessoas.

Um dos sintomas clínicos de desequilíbrio psíquico é a negação da realidade. De nada adiantou renegar o vírus, as leis do mercado ou as regras que regem a política internacional. O choque de realidade chega em algum momento.

Existem loucuras mansas, divertidas e até criativas. Mas, quando o negacionismo se investe da forma de política pública, ele se torna perigoso e criminoso, precisa ser barrado pelas instituições, pois pode resultar na morte em massa das pessoas.

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