O biólogo e professor de imunologia, patologia e anatomia do Centro Universitário Iesb Alexandre Soares explica o que significa o percentual de eficácia da CoronaVac — vacina produzida, no Brasil, pelo Instituto Butantan (SP) em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac. “O que acontece é que a vacina aumenta em 50% as chances de um indivíduo não ser infectado pelo vírus”, disse ao programa CB.Poder — parceria do Correio com a TV Brasília. Durante a entrevista conduzida pela jornalista Jéssica Eufrásio, o especialista alerta para a intensificação do uso de máscaras, devido ao aparecimento de novas cepas do novo coronavírus, mais contagiosas.
O que as porcentagens de eficácia da CoronaVac significam?
Muitos, quando ouvem sobre a eficácia de 50%, acreditam que só funciona em metade das pessoas, mas não é verdade. O que acontece é que a vacina aumenta em 50% as chances de um indivíduo não ser infectado pelo vírus e, se ocorrer, não sofrer sintomas graves. As pessoas pegam a informação real da eficácia e a deturpam. E, caso você tenha o vírus, serão sintomas leves, em 81% até 90% dos casos. Ninguém, quando vai comprar um antibiótico na farmácia, questiona qual é a eficácia do fármaco, apenas se sabe que será um remédio útil. Agora, usam a vacina como desculpa para inventar histórias com base em fake news. Para cada tratamento, há anos de pesquisa. No caso da rapidez da vacina, usou-se bilhões de dólares para adiantar esse processo, porque a pandemia paralisou o mundo. A vacina não foi inventada de repente, usou-se outros modelos para fazê-la. Temos que lutar pelo conhecimento científico.
Quando começaremos a ver os efeitos da vacinação?
Inicialmente, iremos ver, em questão de meses, uma situação mais normalizada. Há um prazo para imunização, da primeira dose para segunda são 14 dias, e, assim, haverá essa população vacinada criando anticorpos. Um dos grupos prioritários, como profissionais de saúde que atuam em unidades de terapia intensiva (UTIs), por exemplo, não passarão o vírus para os familiares se estiverem imunizados, porque já criaram anticorpos. Então, é importante que chegue primeiro aos profissionais de saúde, depois da população idosa. As pessoas não devem tomar a vacina e achar que podem ir para festas sem máscara, deve-se haver um intervalo, passamos um ano usando máscara, mais alguns meses não vai matar ninguém.
Quais são as diferenças entre os planos de vacinação do Ministério da Saúde e do DF?
Ambos estão seguindo o mesmo padrão, inicialmente, imunizando as pessoas em contato direto com pacientes, ou seja, enfermeiros, médicos, técnicos de enfermagem, seguidas por pessoas como bombeiros, profissionais do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência). Depois, as equipes das UBS (unidade básica de saúde), idosos, a população que possui comorbidades e a população em geral. É uma espécie de sequência, porque não dá para imunizar todo mundo ao mesmo tempo. Assim, deve-se começar com as pessoas mais expostas, que são os profissionais de saúde.
Variações do novo coronavírus significam possíveis reinfecções?
São dados mais recentes, não há informações conclusivas. Houve o caso de uma pessoa que foi reinfectada pela nova cepa, mas, como são poucos casos, não se pode afirmar que a pessoa pegará a outra cepa. O que se sabe é que a vacinação protege contra essas variações que ocorrem na proteína do vírus, isto faz o vírus ficar mais contagioso, mas não mais grave. Assim, é importante reforçar o uso da máscara para evitar a disseminação da doença.
O que influencia o surgimento de novos surtos de doenças?
Tem uma ligação com a invasão do homem na natureza, nas áreas de floresta. A maioria desses vírus, como a febre amarela e a dengue, tem origem em animais e é transmitido para o ser humano, então acaba tendo essa origem animal. Os vírus vão sofrendo mutações, logo, o vírus presente no animal não é o mesmo que se aloja no ser humano. O vírus quer se disseminar no maior número de hospedeiros possíveis. Inclusive, os vírus não fazem questão de matar. Então, já era esperado um surto, mas não tão grave como este, as pessoas pensaram que o surto seria com baixa transmissibilidade, que não fosse passar de pessoa a pessoa.
* Estagiária sob a supervisão de Guilherme Marinho
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