Acidente

Experiência do piloto evita tragédia em queda de monomotor

Ao perceber que o motor do avião parou, Mário Flávio Gomes Berto, 76 anos, procurou um descampado para fazer o pouso forçado e descarregou o combustível da aeronave, uma vez que haveria risco de explosão. Vítima teve ferimentos na cabeça

Adriana Bernardes
Jéssica Moura
postado em 30/01/2021 06:00
 (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) vai investigar as causas do acidente envolvendo um avião de pequeno porte, que caiu, na manhã de ontem, em uma propriedade rural, em Sobradinho. O piloto, de 76 anos, era o único ocupante da aeronave. Ele sofreu uma fratura na cabeça, mas não corre risco de morte. A perícia da Polícia Civil também vai apurar o caso.

Logo cedo, o piloto aposentado da Força Aérea Brasileira (FAB) Mário Flávio Gomes Berto deixou o aeródromo do Botelho, em São Sebastião, para mais um voo de lazer. Enquanto sobrevoava a região de Sobradinho, percebeu que o motor do avião, modelo P-56C, parou de funcionar.

“Não pensei em nada. Em caso de emergência, você pensa no lugar mais provável para pousar, que não tenha problema de trânsito, de poste, de casa”, conta Mario. O local ideal para o pouso forçado, naquele instante, era uma chácara na Rota do Cavalo, onde há um grande descampado.

No chão, o agricultor Roberto da Cunha, 49, cuidava dos porcos na fazenda vizinha. “Ele (o avião) estava silencioso, parece que o motor já tinha desligado. Gritei: ‘Olha, esse avião vai cair!’”. Não deu outra: depois de esvaziar o tanque de combustível, para evitar uma explosão, Mario aterrizou. “Quando dei fé, (o avião) estava, lá, dentro do mato”, comenta Roberto.

Contudo, como a grama estava alta, o mato se prendeu às rodas, o que fez a o monomotor capotar. “Pensei que ele tinha morrido”, lembra Roberto, que chamou o sobrinho e o cunhado para socorrer a vítima. Eles largaram as ferramentas e correram em direção ao acidente, distante 200 metros.

O avião estava de cabeça para baixo e o piloto havia conseguido sair da aeronave. De pé, ele tentava conter o sangramento com a máscara de pano. Mario havia sofrido um corte ao longo da testa até a altura dos olhos. “É a primeira vez que nós vemos essa situação aqui. Chegamos lá, ele estava consciente, conversando e desligou a aeronave”, relata Jeferson Cruz, 28, sobrinho de Roberto, que avisou o patrão do tio sobre o acidente.

Em casa, na fazenda vizinha à propriedade, o pecuarista Fabiano Braga, 53, estava lavando louça quando recebeu a ligação. Ele olhou pela janela, viu a aeronave tombado e acionou o Corpo de Bombeiros. “É muito estranho você ver um avião cair, podia ter sido aqui (em casa), mas não ouvi nada”. Sete minutos depois, às 9h17, o socorro chegou ao local para transportar a vítima ao Hospital Regional de Sobradinho (HRS), onde foi atendido. “Velho fazendo estripulia dá nisso”, brincou Mario.

30 anos no ar

Mario Gomes acumula mais de 6 mil horas de voo, além de ter passado mais de 30 anos na FAB. Ele nunca havia sofrido um acidente como esse. “É como carro, dá problema. Foi só o susto, acontece”, tranquiliza-se o piloto. Para a tenente-coronel Daniela Ferreira, do Corpo de Bombeiros, a experiência dele foi essencial para evitar que o acidente fosse mais grave. “Escapou bem”. Mesmo com a queda, Mario não pretende parar: “O que eu mais gosto de fazer é voar. Agora, é que eu vou voar mais ainda”, assegura.

A aeronave, adquirida em 1999 pelo piloto, possui registro na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para voos privados, mas não pode transportar pessoas ou bens com fins lucrativos. Ela tem autorização para voos experimentais. Isso significa que foi construída de forma amadora. Segundo a Anac, esse tipo de aeronave pode voar, apenas, em áreas pouco povoadas.

Um balanço do Cenipa aponta que, nos últimos 10 anos, ocorreram 135 acidentes e incidentes envolvendo aeronaves no Distrito Federal. No ano passado, foram duas ocorrências.

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