MARCAS DA VIOLÊNCIA

Tentativas de feminicídio nas primeiras horas de 2021 alertam para o problema

Duas mulheres sofreram tentativas de feminicídios nas primeiras horas de 2021 no DF. Uma delas ficou sob a ameaça de uma faca até a chegada da polícia. A outra foi alvo de quatro disparos de arma de fogo, que não a atingiram

Em menos de 24 horas, duas mulheres foram vítimas de tentativa de feminicídio durante a virada do ano no Distrito Federal. Na madrugada de ontem, uma venezuelana foi feita refém e ameaçada com uma faca no pescoço pelo companheiro na QE 40 do Guará 2. Pela manhã, um homem tentou matar a tiros a namorada, na Estrutural. Elas não se feriram e os dois agressores foram presos em flagrante.

A agressão contra a jovem de 22 anos no Guará causou revolta entre os moradores da região. Por volta de 1h, pessoas que passavam pelo local avistaram um casal discutindo em via pública, próximo a um posto de combustível. Testemunhas relataram que o homem, também de 22 anos, teria desferido um soco no rosto da companheira no meio da rua, voltado em casa para buscar uma faca e, em seguida, a ameaçado e mantido como refém. Militares do Grupo Tático Operacional (Gtop 24) foram acionados para a ocorrência.

Vídeo registrado pelos moradores mostra a ação do criminoso. Ele coloca uma faca sobre o pescoço da mulher e ameaça matá-la. Um homem que aparece na filmagem tenta acalmar o agressor e identifica-se como advogado. “Eu sou advogado e posso te ajudar. Vamos conversar? Tira a faca e vamos conversar só nós dois, na paz”, disse. Mesmo assim, ele continua as ameaças.

Policiais militares chegaram ao local poucos minutos depois e deram início às negociações, que duraram menos de uma hora. Depois que o jovem se rendeu, as pessoas que presenciaram a situação tentaram agredi-lo, mas foram impedidas pela guarnição. Ele foi detido e encaminhado à Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam).

Disparos

Poucas horas depois, por volta das 4h30 de ontem, outra mulher, de 39 anos, foi vítima de tentativa de feminicídio na Estrutural. Ela e o namorado, de 43, comemoravam a virada de ano na casa dela. Após o término do evento, ele seguiu para o local onde mora, a uma quadra de distância.

Pela manhã, a vítima foi até o imóvel do companheiro. O homem, no entanto, estava com outra pessoa e se negou a abrir o portão. “Após a negativa do homem em abrir a porta, a companheira quebrou dois vidros do carro dele. Logo em seguida, ele foi atrás da mulher na tentativa de cometer o feminicídio, pegou uma arma e foi até a casa dela, onde disparou duas vezes contra o portão e, depois, deu mais dois tiros dentro de casa. Felizmente, a mulher e a filha não foram atingidas”, detalhou, ao Correio, o sargento da PMDF Manoel Carvalho, do 15º Batalhão.

Policiais militares foram acionados via rádio e seguiram em busca do suspeito. O homem foi capturado na mesma quadra onde mora, sentado em uma calçada. “De início, ele negou ter efetuado os disparos, mas estava muito nervoso”, completou o sargento. Durante a busca na residência dele, os militares encontraram a arma supostamente usada no crime, aproximadamente 400 pinos de cocaína, além de R$ 3,9 mil em espécie, 600 gramas de cocaína pura e balança de precisão. Ele foi encaminhado à Deam.

Medidas

Levantamento mais recente da Secretaria de Segurança Pública do DF aponta para a redução de 35,7% nos registros de tentativa de feminicídio ocorridos em todo o DF 2020, em comparação aos primeiros 11 meses de 2019. Foram 54 ocorrências no ano passado, contra 84 no anterior.

Segundo a pasta, entre as ações de combate à violência doméstica está a criação da nova Deam, em Ceilândia e a criação do aplicativo Viva Flor, direcionado a mulheres vítimas de violência doméstica e familiar. A ferramenta permite acionar os serviços de emergência policiais do DF e funciona 24 horas. Por ele, a mulher tem o acompanhamento das forças de segurança e pode acioná-lo a qualquer situação de ameaça.

Outra estratégia de prevenção, segundo a SSP-DF, é a campanha #MetaaColher, que busca conscientizar o cidadão sobre o papel no combate ao feminicídio e à violência contra a mulher.