A mineira Maria de Lourdes Gonçalves da Silva, 92 anos, também comemorou a vacina. “Estou na esperança de estar protegida da doença, de poder tão logo reunir a família. Gosto muito de gente, de ver a casa cheia”, conta a dona de casa que veio para a capital, em 20 de dezembro de 1959, de caminhão, acompanhando o marido que trabalhou na construção de Brasília, com oito filhos pequenos. “Cheguei aqui e era tudo barro e terra, fomos morar no acampamento na Vila Planalto. Os meus filhos estudaram na primeira turma do Elefante Branco (Asa Sul)”, relembra ela, que trabalhou como costureira para complementar a renda familiar. Ao longo das nove décadas vividas, ela nunca imaginou que pudesse passar por uma pandemia como esta. Para este ano, um único desejo: “Que todo mundo fique bem”. Além de reunir a família novamente, ela almeja voltar a viajar assim que for seguro.
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Homenagem em cordel
Aos 102 anos, Arnaldo Júlio Barbosa se emocionou ao receber a primeira dose do imunizante. O pioneiro, que saiu do município de Pedro Avelino (RN) para vir trabalhar como pedreiro na construção de Brasília, em 1959, não conteve as lágrimas na última quinta-feira, ao ser vacinado na Praça dos Direitos, em Ceilândia. “Vim tranquilo porque quis respeitar o meu tempo”, afirmou. Ao terminar a aplicação, resolveu recitar um poema para as profissionais da saúde que estavam no local e que também se emocionaram com o gesto. Apaixonado por repente e pela literatura em cordel, ele cria versos para toda a situação. “Sempre fui muito ligado à leitura. Agora, principalmente, estou parado. O que mais me diverte é ler e escrever. Sou técnico de músicas e repentista”, destaca. A arte tem salvado a saúde dele nesta pandemia. “Tenho muitas histórias, falo sobre tudo, natureza, situações cotidianas”, enumera. Para 2021, ele espera que a crise sanitária passe logo. “O conselho que dou é que todos devem tomar a dose da vacina porque é o que vai sustentar os dias felizes. Não ter medo, se conforma, porque tudo é feito dentro da medida”, ressalta. Com 14 filhos — 10 deles vivos—, sete tataranetos, 30 bisnetos e tantos netos que até perdeu a conta, ele vive um dia de cada vez, aproveitando cada momento. Pelas ruas da capital, relembra a época da construção. “Parece que nunca saí de lá. Isso é gostoso de sentir”, relata ele, que trabalhou na construção da Escola Parque na 508 Sul.
Respeito à ciência
Pioneiro, o proprietário da Banca da Árvore, na 108 Sul, Lourivaldo Marques, 83 anos, tomou a primeira dose da vacina contra a covid-19 na quarta-feira. “A gente tem que cumprir as ações sociais”, afirma. Com 10 filhos, 18 netos e nove bisnetos, ele diz que não perdeu nenhum parente por conta do vírus. “Nunca tive medo, mas tenho muita fé. Fui vacinar por uma questão social, de respeitar as normas das autoridades de saúde. E não tive gripe nenhuma vez. A minha alimentação com vitamina com couve, água de coco, mel e limão não me faltou no meu dia a dia”, brinca. “Meu ponto de vista é que ainda existem pessoas com sensibilidade para lutar contra o novo coronavírus. Acredito muito nas autoridades de saúde que estão aí para nos proteger neste momento”, diz. Ele deixa ainda um aviso para os clientes sobre as regras de segurança adotadas no estabelecimento caso queiram visitar a banca durante a crise sanitária. “Sem máscara, não entra na banca. Se sentar à mesa, onde coloco álcool em gel em cada uma, tem que ter 2 metros de distância entre as pessoas. A primeira coisa que faço é colocar o álcool em gel na mão do cliente. Zelando pelo cliente, estou zelando pela minha freguesia, mostrando que tenho educação. E a sociedade precisa de educação, porque significa respeito, amor ao próximo”, conclui o dono da primeira banca de Brasília, fundada em 13 de fevereiro de 1960.
Por dias melhores
Natural de Belém do Pará, o comerciante Galvani Torres Cuoco, 81, torce para a imunização em massa e que a pandemia passe logo. Para ele, o último ano foi difícil, principalmente no negócio. Ele, que veio para a capital para trabalhar como funcionário público no Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) – atual Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) —, aposentou-se em 1992 e, desde 1996, tem uma lanchonete na 105 Sul. “Só o salário de aposentado não dá”, ressalta. Após receber a primeira dose do imunizante, conta que fez a parte dele para evitar a doença e não passar para as outras pessoas. “Esse vírus é perigoso”, pontua. Apaixonado por viver em Brasília, Galvani Torres afirma que não tem vontade de morar em outro lugar. “Não deixaria Brasília por nada no mundo. Gosto muito daqui”, ressalta ele, que está na capital há 52 anos. Além da lanchonete, ele tocou o negócio como vendedor de banca de revista na 110 Sul. O trato com as pessoas é algo que faz parte do dia a dia. Para 2021, Galvani espera que a situação melhore e que o negócio retome com mais fôlego e mais clientes. Mesmo durante a pandemia, ele não deixou de trabalhar e, com a receita mais baixa, segurou as pontas para não fechar a lanchonete.