A destruição de uma horta comunitária, no Setor Comercial Sul (SCS), cuidada por moradores de rua virou motivo de polêmica. O espaço, que possuía árvores frutíferas, leguminosas, hortaliças e ervas medicinais, era mantido com a ajuda de voluntários do Coletivo Aroeira e do Instituto No Setor. Após pedido feito pela Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), as plantas foram retiradas, na quarta-feira, pela Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap). Em nota divulgada ontem, a companhia confirmou que atendeu a uma solicitação da PMDF.
O espaço, que recebia manutenção todas as terças-feiras, ficava em frente ao Centro de Atenção Psicossocial (CAPs). A retirada foi feita sob justificativa de que o espaço estava sendo utilizado para esconder drogas, facas e outros materiais para o cometimento de crimes. “Dessa forma, dentre outros fundamentos, a solicitação da PMDF foi para que se evitasse o cometimento de crimes no local, a fim de resguardar o interesse coletivo, preservando vidas e garantindo a segurança de todos que frequentam o local”, explica a corporação.
De acordo com o sargento do 1º Batalhão Diógenes Veloso, responsável pelo monitoramento do SCS, um relatório técnico foi preparado e encaminhado para a Novacap. “O mato aqui foi retirado e abriu visão para a correta vigilância desse setor. Nesse canteiro, eles negociavam drogas e guardavam facas. Aqui, temos estupro, negociações de entorpecentes e objetos roubados”, menciona o militar.
Para a moradora de rua Jeruza Campos dos Santos, 53 anos, que mora no SCS desde 2018, a ação foi violenta. “Eles justificaram dizendo que o pessoal esconde droga e faca. Se eles tiram foto ou gravam alguém fazendo isso, tudo bem. Mas não era motivo pra destruir tudo. Disseram que a Novacap é responsável pelos jardins do DF. Esse aqui está abandonado há anos”, diz.
Jeruza lamenta a ação. “Não precisava ter derrubado os pés de mamão, banana. Não precisava destruir tudo”. Apesar da destruição, Jeruza conseguiu resgatar alguns frutos e hortaliças. “Eu consegui pegar um pouco de açafrão, pé de abacaxi e mamão que vão ser plantados na outra horta, mesmo que o rapaz da Novacap tenha dito que se receber a ordem para destruir a outra horta, fará”, menciona a moradora de rua. “Se a pessoa quebra e ameaça jogar fora ou queimar as roupas, não é diálogo e segurança pública, mas sim destruição”, complementa.
Conflito social
A representante da Associação dos Comerciantes e Empresários do SCS, Flor Menezes, diz que a horta não foi bem recebida pelos comerciantes. “Ela acaba influenciando no tráfico. Além disso, nada impede que isso se torne uma arma contra eles, porque eles brigam muito, então existe a chance até de derramarem um veneno na horta”, pondera. De acordo com a representante, não existe um controle sob o canteiro de plantas. “Não tem fiscalização de colheita, de limpeza. É algo que não tem nada a ver para um cartão-postal como esse. Foge da realidade do SCS”, frisa.
O diretor-executivo do Instituto No Setor, Caio Dutra, explica que, além de incentivar a proteção ambiental, as hortas também promovem a convivência e o fortalecimento de vínculos entre a comunidade em situação de vulnerabilidade social do Setor Comercial Sul, uma vez que há grandes conflitos sociais entre comerciantes e moradores de rua. “Estamos, neste momento, desenhando e desenvolvendo projetos para promover a integração e a harmonia entre o comércio e as pessoas em situação de vulnerabilidade social do SCS, e esperamos presenciar uma sinergia entre todas as pessoas que moram, trabalham ou passam no Setor”, acrescenta o diretor-executivo do instituto.
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