PANDEMIA

Pesquisadores da UnB sequenciam genoma do coronavírus em busca de novas variantes

Pesquisadores da UnB trabalham em parceria com o Lacen-DF e rede nacional de estudiosos para fortalecer a vigilância epidemiológica no DF e no país, a fim de evitar que novas variantes se disseminem e comprometam até mesmo a eficácia das vacinas

Mariana Niederauer
Samara Schwingel
postado em 15/02/2021 06:00
 (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
(crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

A constatação de que a variante britânica do coronavírus está em circulação a menos de 40km do Distrito Federal, em cidades do Entorno, reforça a importância não só da vigilância epidemiológica, mas também do trabalho científico de sequenciamento do genoma do vírus. Na Universidade de Brasília (UnB), grupo composto por mais de 30 pesquisadores de seis programas de pós-graduação estuda o Sars-Cov-2 desde o início da pandemia e faz parte de força-tarefa nacional para desvendar diferentes faces do patógeno — de tratamentos eficazes à possibilidade do surgimento de novas epidemias.

O sequenciamento é o que indica, por exemplo, se existe nova cepa em circulação no país. A agilidade, portanto, representa elemento chave nesse processo, para que as pessoas infectadas sejam isoladas e acompanhadas por equipes de vigilância epidemiológica e não contagiem mais habitantes. “Em Brasília, poucas cepas foram sequenciadas até agora. Mas, como o transporte não parou, muito provavelmente essas cepas que estão circulando no Amazonas, no Rio de Janeiro e em outros estados circulam aqui também. É questão de ir atrás”, avalia o virologista Bergmann Morais Ribeiro, professor titular do Instituto de Ciências Biológicas da UnB, à frente do Laboratório de Bacilovírus, responsável pelo sequenciamento.

“Por isso é importante esse projeto, para descobrirmos o mais rápido possível o que está acontecendo aqui e sermos autônomos. Estamos tentando transferir essa tecnologia para o sistema público, com o objetivo de termos essa resposta mais rapidamente”, resume o pesquisador. Ele reforça, ainda, que há possibilidade de a covid-19 se tornar uma doença endêmica, ou seja, que provoca novos casos com frequência ao longo do tempo, como ocorreu com o vírus HIV e os causadores da dengue, zika e chikungunya.

Em parceria com o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen-DF), a partir de financiamento da Fundação de Apoio à Pesquisa (FAP-DF), a equipe do pesquisador pretende sequenciar, pelo menos, 150 genomas do coronavírus (leia Cinco perguntas para). Apesar de o laboratório conseguir identificar as novas cepas, a confirmação só ocorre após processamento pelos institutos de referência, conforme define o Ministério da Saúde. Entre eles, estão o Adolfo Lutz, em São Paulo, e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro. Para esta última, foram enviadas, por exemplo, amostras de três casos suspeitos de reinfecção no DF, em análise.

Vigilância
O sequenciamento de genomas faz parte do trabalho laboratorial da vigilância epidemiológica. Segundo o professor de epidemiologia da UnB Mauro Sanchez, essa vigilância é uma vertente da Secretaria de Saúde do DF responsável pelo monitoramento e fornecimento de dados sobre a pandemia. “É uma área muito importante, pois permite que as autoridades saibam como e onde colocar recursos humanos, financeiros e materiais para combater o avanço do vírus na cidade. Além de calcular o número absoluto de casos, a vigilância epidemiológica demonstra qual a incidência da doença, ou seja, qual o risco de se adoecer, por meio do cálculo de casos a cada 100 mil habitantes”, diz.

Além disso, Sanchez afirma que o trabalho da vigilância epidemiológica, em parceria com outras vertentes da Saúde, também é essencial para o monitoramento de novas cepas da covid-19 que, possivelmente, já estão em circulação no DF. “Por meio do acompanhamento dos casos, as autoridades e os profissionais de saúde podem identificar o surgimento de novas infecções e, por meio do rastreamento de contatos, cortar a cadeia de transmissão da nova cepa”, esclarece.

Para isso, é necessário que, quem teve contato com um infectado ou esteja com suspeita, fique em isolamento por cerca de duas semanas, até que a infecção se confirme ou seja totalmente descartada. Todos que tiveram contato com essa pessoa por alguns dias antes do início dos sintomas também devem ser isolados. “Assim, evitamos que o vírus continue se espalhando”, completa Sanchez.

Testes

Até as 23h do último sábado, o Lacen-DF havia realizado 191.881 testes de RT-PCR — exame para detecção do novo coronavírus — desde o início da pandemia. Durante este período, 124.228 foram negativados; 62.577 apresentaram resultado positivo e 5.076, inconclusivo.

Apenas este mês, foram mais de 6 mil amostras recebidas, sendo 1.970 positivas; 4.212, negativas; e 389, inconclusivas. O prazo médio em que o Lacen-DF tem divulgado os resultados é de um dia. Até a meia-noite de ontem, o laboratório estava aguardando o processamento de 252 exames.

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