A pandemia do novo coronavírus afetou diversos setores de forma negativa. Outros, no entanto, tiveram melhora nos resultados, como é o caso do mercado de bicicletas. Devido ao fechamento das academias e à suspensão das atividades em grupo, o ciclismo tornou-se aliado dos que amam esportes, principalmente pela possibilidade da prática individual e ao ar livre. Além disso, para evitar aglomerações nos transportes públicos, muitos brasilienses aderiram à bike como meio de transporte diário. Com a alta na procura, lojas de peças, acessórios e de manutenção têm lucrado mais.
O aumento nas vendas e na manutenção de bicicletas ocorreu em todo o país no ano passado, mas o volume da produção industrial apresentou queda. Dados da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo) mostram que, em 2020, as fabricantes de bikes instaladas no Polo Industrial de Manaus produziram 665.186 unidades. O volume foi 27,7% menor do que o de 2019.
No Distrito Federal, apesar da falta de peças, os empresários do setor seguem otimistas, principalmente pelo resultado das vendas do ano passado. Dono da Bike Tech Brasília, na Asa Sul, o empresário João Paulo de Luca Ribeiro, 53 anos, conta que, em abril, devido ao fechamento das academias decretado pelo Executivo local, muitas pessoas migraram para o ciclismo. “Aquelas que não o conheciam começaram a conhecer. Com isso, veio o boom nas vendas. Não só aqui, mas no mundo inteiro. Pedalar é uma atividade lúdica, você vai conhecendo outros lugares, é prazeroso”, diz João Paulo.
Muitos clientes com idade acima de 55 anos aderiram à bicicleta, segundo o empresário, por medo de voltarem às academias. “Esse público me surpreendeu. Em Brasília, tem muita ciclovia, então dá para aproveitar bastante. Ano passado, tivemos um saldo muito positivo. Chegamos a um aumento de 200% nas vendas. Agora que tudo voltou a funcionar, o mercado estabilizou, mas ainda está bom”, completa.
Novos caminhos
Em Samambaia Sul, a Fênix Bike Shop também lucrou durante a pandemia. Dono da loja, Paulo Roberto Gomes Terra, 28, contou que, no início, com o fechamento do comércio, houve insegurança para manter o negócio. Porém, com a reabertura, a procura ficou acima do normal. “Ao passarem os meses, foi só evoluindo. Vários fatores contribuíram para esse aumento. Como também fazemos manutenção, os entregadores de comida por aplicativo, que não pararam de trabalhar em nenhum momento, precisavam dos nossos serviços”, destaca.
Entre fevereiro e dezembro, a loja teve aumento de 40% a 60% nas vendas. A porcentagem variou de acordo com cada fase da pandemia. “Agosto foi o melhor mês. As vendas mais do que dobraram, chegaram a 110%. Agora, começou a normalizar, mas janeiro último, por exemplo, foi melhor que janeiro do ano passado”, calcula Paulo Roberto. Entre as principais procuras dos clientes destacaram-se, também, manutenção e compra de bicicletas.
Morador de Samambaia Norte, o comerciante Fabiano Resende, 30, começou a ir ao trabalho, em Taguatinga Sul, de bicicleta. O hábito surgiu no início da pandemia. Mesmo com um automóvel, ele prefere deixar o veículo na garagem. “Gerou mais economia, porque meu carro consome muita gasolina, ainda que o caminho seja curto entre minha casa e a loja (onde atua). Como faço academia e elas fecharam no ano passado, precisei dar um jeito para me exercitar. Essa foi uma forma de me movimentar. Gostei tanto que mantenho até hoje. Exceto nos dias de chuva intensa”, conta Fabiano.
Para 2021, as expectativas são positivas, pois a Abraciclo projeta um crescimento de 12,8% na produção, com 750 mil bikes a mais no país. “A demanda por bicicletas continua alta, e a tendência é de que ela siga dessa forma ao longo do ano. As associadas estão se esforçando para atender ao mercado, apesar de ainda estarmos limitados pelo desabastecimento de peças e de componentes, o que gera dificuldade na montagem e, consequentemente, a falta de alguns modelos no mercado”, afirma o vice-presidente do segmento de bicicletas da Abraciclo, Cyro Gazola.
Cozinheiro em um hospital, Isaque Moura, 35, gostava de pedalar antes da pandemia. Mas praticava a atividade esporadicamente. Como depende de transporte coletivo para ir de casa — em Samambaia Norte — para o trabalho — em Taguatinga Norte —, comprou uma bicicleta melhor quando as lojas voltaram a abrir. A decisão o ajudou, inclusive, a evitar a aglomeração nos ônibus. “Eu tinha uma bike simples, mas comprei outra, mais equipada para ir seguro. Comprei equipamentos de segurança também. Devo ter gastado uns R$3,5 mil com tudo. Mas valeu a pena. Eu me protejo e me exercito de uma só vez”, comemora Isaque.
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