PANDEMIA

Lockdown no DF é a melhor saída num cenário de UTIs superlotadas, diz infectologista

Para pesquisador comportamental, casos de covid-19 podem começar a cair na próxima sexta com a medida, mas melhora significativa será percebida apenas em 14 dias

Ana Isabel Mansur
Larissa Passos
postado em 28/02/2021 07:00
 (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press                      )
(crédito: Ed Alves/CB/D.A Press )

Frente a um cenário de aumento de casos e mortes por covid-19 e de superlotação de Unidades de Terapia Intensiva (UTI), um lockdown se tornou inevitável e a melhor alternativa para o DF no momento. A análise é da infectologista do Hospital Regional da Asa Norte (Hran) Joana Darc Gonçalves.

Ela descreve a medida como um “remédio amargo”, mas disponível para lidar com este contexto. “Pouquíssimas pessoas se vacinaram. Ainda temos uma grande circulação viral com cepas de atenção que podem elevar a falha vacinal ou essa gravidade. É ruim, ninguém gostaria de uma medida como o lockdown, mas é o mais acertado”, analisa.

Joana Darc explica que, em outros países, a medida restritiva é chamada de “martelada na onda de crescimento da pandemia” por se constituir de ações drásticas de isolamento social, mas que podem diminuir o número de pessoas infectadas. “Muita gente está fazendo tudo correto, mantendo as medidas de segurança, mas sabemos que, no Brasil e em qualquer lugar do mundo, as pessoas tendem a se aglomerar”, diz.

Por isso, uma ação mais radical ajuda a frear os casos num momento crítico. No entanto, a médica ressalta que o controle da pandemia não se resume a decreto ou a comportamentos isolados de algumas pessoas. “É algo que tem que ser realizado de forma conjunta, deve partir de fiscalização e também do próprio cidadão”, sugere.

Enquanto a vacinação em massa não acontece e a imunidade de rebanho não é alcançada, a recomendação é seguir as já conhecidas medidas de prevenção: distanciamento social, uso de máscara, higienização das mãos, ficar em casa quando estiver com sintoma da doença.

Joana Darc alerta que as pessoas que já se vacinaram precisam manter os mesmos cuidados com a doença. A eficácia da vacina não é de 100%, além disso, mesmo quem se imunizou pode adoecer. “Quem se vacinou está mais protegido, mas também pode transmitir a doença e ter infecção leve. Então, é preciso se cuidar tanto por si mesmo quanto pelos outros”, ensina.

Efeitos da restrição

O professor Breno Adaid, pesquisador do Centro Universitário Iesb, doutor em administração e pós-doutor em ciência do comportamento pela Universidade de Brasília (UnB), trabalha com diferentes cenários para os próximos 14 dias.

Na projeção otimista, ele espera que os casos da doença comecem a cair a partir da próxima sexta-feira (5), dia em que o registro do primeiro caso de covid-19 no DF completa um ano. Até 12 de março, nesse cenário, a média móvel de casos por dia pode ficar entre 515 e 520. A mediana de infectados alcançaria em torno de 1.450 em 5 de março e bateria na casa dos 1.930 uma semana depois.

Na projeção pessimista, descrita pelo professor como catastrófica, a média móvel de casos ultrapassaria 2 mil na próxima sexta (5) e se aproximaria de 3,5 mil em 12 de março. Em relação aos óbitos, os cálculos do professor projetam que, em 5 de março, no cenário otimista, haveria um total de 4.880 mortes acumuladas e, no quadro pessimista, 4,9 mil.

Uma semana depois, nos três cenários, o número de mortos pela covid-19 no DF estaria acima de ambos os números. “Devemos fechar a próxima quinzena esbarrando em 5 mil mortos”, prevê o pesquisador.

Adaid explica que o pico de mortes por causa das aglomerações durante o carnaval tende a acontecer entre 30 e 40 dias após o feriado. “É o tempo de a pessoa se contaminar, eventualmente ter piora no quadro, vir a ser intubada e, infelizmente, morrer”, elenca.

Questionado sobre se as projeções seriam menos drásticas caso o distanciamento social tivesse sido mantido durante o carnaval, o professor afirmou que as médias de infecções estariam próximas aos valores observados antes do feriado, em torno de 600. “O número não teria subido 50%, como temos observado. Estaríamos com cerca de 35% menos casos por dia do que o observado hoje”, analisa.

Imunização

Para que o cenário de aumento no número de casos e de mortes comece a se inverter, pelo menos 40% da população precisa ser imunizada, conforme previsões do professor. “Com 70% dos brasilienses vacinados, e supondo que as vacinas disponíveis segurem as novas cepas, o contágio cairia francamente em questão de semanas”, ponderou Adaid. Com o lockdown, iniciado hoje, ele calculou que o cenário atual tende a migrar para melhor só daqui a 14 dias.

 

 

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A educação e o lockdown

 (crédito: Reprodução)
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Com todas as aulas presenciais suspensas pelo lockdown no DF, a comunidade escolar compreende os motivos para as medidas mais restritivas com o objetivo de frear a disseminação do vírus. No entanto, as regras mais severas dividem opiniões.

O diretor do Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro-DF) Samuel Fernandes avalia que a volta presencial às salas de aula só deve ocorrer após a vacinação. “As aulas na rede pública de ensino devem iniciar em 8 de março de forma remota e o retorno presencial só deverá acontecer após a vacinação de todos”, afirma.

Para a advogada e vice-presidente da Associação de Pais e Alunos das Instituições de Ensino do DF (Aspa-DF), Anapaula Carreira, a situação da pandemia é bastante delicada. A associação reconhece a necessidade de se adequar às novas medidas e entende o cuidado com a população escolar de um modo geral.

Contudo, a questão financeira que afeta os responsáveis pelos estudantes também aflige o segmento escolar. “Nosso desejo é que estudassem outras formas para evitar o fechamento e que se adotassem ideias para o retorno das aulas de maneira a evitar as aglomerações. O governo tem estrutura e profissionais capacitados para estudar essas estratégias”, sugere.

Logo após o decreto, a presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do DF (Sinepe-DF), Ana Elisa Dumont, disse que as escolas particulares têm demonstrado cuidado e responsabilidade com professores, funcionários e alunos desde a retomada presencial. Observou ainda que as escolas são fundamentais para o desenvolvimento emocional e cognitivo dos alunos e espera que as unidades de ensino possam retomar as atividades em breve.

Seleções

Na educação, o lockdown e o agravamento da pandemia trazem efeitos que vão além da suspensão das aulas presenciais e pode afetar também provas e seleções. O teste objetivo do 22º Exame de Ordem Unificado, marcado para 7 de março, foi suspenso por tempo indeterminado pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

A decisão levou em conta o estudo de viabilidade feito pela Fundação Getulio Vargas (FGV), responsável pela banca do exame. Além do aumento do número de casos e mortes pela covid-19, o fato de governadores e prefeitos decretarem lockdown afetou a suspensão.

A prova da 3ª etapa do Programa de Avaliação Seriada da Universidade de Brasília (PAS/UnB) também está marcada para 7 de março e, por enquanto, ainda não há informação sobre se a universidade manterá o teste nesta data. Os locais de prova foram divulgados na sexta-feira. A UnB informa que fará uma criteriosa análise antes de decidir o que fazer sobre as provas.

Apesar de estar funcionando com ensino remoto, a universidade anunciou que restringirá ainda mais as atividades a partir do novo decreto.

 

 

 

 

 

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