UTIs lotadas e protesto contra lockdown

Sistema de saúde público chega próximo ao colapso no DF e governo promete mobilizar novos leitos a partir de hoje. Situação na rede particular também é crítica. Empresários mantêm reclamações e protestam contra lockdown

CIBELE MOREIRA - ROBERTA PINHEIRO
postado em 28/02/2021 22:32
 (crédito: Carlos Vieira/CB/D.A Press)
(crédito: Carlos Vieira/CB/D.A Press)

O avanço da pandemia da covid-19 ameaça os sistemas de saúde do Distrito Federal. Assim como em outras unidades da Federação, a situação é crítica na capital federal, tanto na rede pública quanto na particular. As taxas de ocupação dos leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) disponíveis para pacientes com a doença chegou próximo a quase 97% e 87%, respectivamente. As vagas liberadas são ocupadas em menos de 24 horas.

Até a noite de ontem, o DF tinha apenas sete leitos de UTI disponíveis para pacientes com a covid-19 na rede pública. Ao todo, 86 pacientes aguardavam na fila para serem internados, 29 deles casos suspeitos ou confirmados do novo coronavírus. De acordo com informações da Sala de Situação da Secretaria de Saúde, a taxa de ocupação total, incluindo leitos do tipo adulto, pediátrico e neonatal, era de 96,45%. Eram quatro vagas no Hospital de Base, uma no Hospital de Campanha da Polícia Militar, outra no Hospital Regional da Asa Norte e mais uma no Hospital São Mateus (leito contratado pela secretaria).

Na rede privada, o cenário é similar. Dos 216 leitos de UTI para covid-19, 185 estão ocupados, 26, disponíveis, e cinco, bloqueados. Em grandes hospitais, como o Hospital Brasília, o Df Star e o Santa Helena, não há mais vagas. A taxa de ocupação total é de 87,56%.

Para diminuir a pressão sobre a rede pública, a secretaria anunciou a suspensão de cirurgias eletivas até 15 de março — prazo estipulado para o fim do lockdown no DF. Apenas os procedimentos cardiovasculares, oncológicos, transplantes e judicializados serão feitos. O governo espera liberar, de hoje até quarta-feira, mais 40 leitos de UTI para covid-19: 20 no Hospital e Campanha de Ceilândia e outros 20 no da Polícia Militar. O objetivo é contar, ao todo, com mais 100 leitos até o fim da semana, segundo informou no sábado o governador Ibaneis Rocha. Na próxima semana, mais 50 serão mobilizados.

Dados do boletim diário da Saúde, de ontem, mostram que o DF registrou 1.079 novos casos da doença em 24 horas e sete pessoas perderam a vida para a covid-19. Ao todo, a capital teve 4.838 mortes pela doença.

Revolta de empresários

Descontentes com o lockdown decretado por Ibaneis, empresários de Brasília se reuniram, ontem, em frente à casa do chefe do Executivo local, no Lago Sul, para protestar. Com cartazes, faixas e camisetas, representantes de diferentes setores produtivos pediam o fim do decreto. À frente do movimento #lockdownnodfnão, o empresário Tiago Oziel de Paiva pontua que os setores da economia estão sendo muito afetados pela nova medida, sobretudo, as empresas pequenas. “Também trabalho com outros empresários da cidade e já vi muitos quebrarem com o primeiro fechamento. Não aceitamos essas medidas. Não aceitamos que qualquer tipo de estabelecimento seja fechado. Não existe comprovação científica da eficácia do lockdown e exigimos outras medidas por parte do governador”, afirma.

Participaram do protesto ambulantes, representantes das academias, do setor de transporte, de eventos, das escolas, além de membros do comércio de um modo geral. “O que vi ali foi o desespero de muitos empresários, de empresas familiares. No lockdown do ano passado, quem tinha economia gastou e, quem não tinha, quebrou. Agora, todos estão estarrecidos com o que está acontecendo e querem trabalhar. Todo mundo fez investimentos para cumprir as normas exigidas, se preparou para abrir. Precisamos matar o vírus da pandemia, mas também matar o vírus do desemprego. Como sempre falo, saúde e economia andam juntos”, declara o vice-presidente do Sindivarejista, Sebastião Abritta.

“Como mobilização, avaliamos que foi bem positiva”, comenta Thaís Yeleni, presidente do Sindicato das Academias (Sindac). “A maioria dos estabelecimentos ficou fechada de cinco a seis meses. Agora, que estava começando a conseguir pagar o que precisa, de repente, fecha tudo”, acrescenta. Ela comenta que vários participantes da mobilização relataram dificuldade para fechar a folha de pagamento deste mês e avistam um cenário negativo para os próximos dias.

Apesar das orientações sanitárias contra a disseminação do novo coronavírus, os manifestantes estavam aglomerados e alguns não usavam corretamente a máscara de proteção. “Infelizmente, é muito difícil manter uma ordem quando há um número maior de pessoas. Mas a todo momento alguém lembrava do uso da máscara e pedia o distanciamento. Sabemos que a situação não é o que convém, mas é uma questão de sobrevivência das empresas, dos empregos e do sustento das famílias”, argumenta Thaís.

Viés político

Entoando palavras de ordem e, inclusive, pedindo a troca de governo, os manifestantes questionaram o processo e a verba gasta para aquisição de novos leitos de UTI, além do fechamento do Hospital de Campanha do Mané Garrincha.

Estiveram presentes no protesto a deputada federal bolsonarista Bia Kicis (PSL) e a distrital Júlia Lucy (Novo). A deputada Paula Belmonte (Cidadania-DF) também compareceu, assim como o marido, Luís Felipe Belmonte, vice-presidente do Aliança pelo Brasil, partido que o presidente Jair Bolsonaro, até hoje não filiado a qualquer legenda, tenta criar. Bolsonaro compartilhou vídeo do protesto em frente a casa de Ibaneis na conta do Twitter.

O senador Izalci Lucas (PSDB-DF) engrossou o coro das críticas. Em vídeo compartilhado nas redes sociais, disse que o lockdown é ato “irresponsável e inconsequente” do chefe do Executivo local.

 

 

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