Coronavírus

No segundo dia da restrição de atividades, comerciantes tentam driblar decreto

Em cidades visitadas pelo Correio, a reportagem flagrou movimentação em centros comerciais, apesar das normas recém-publicadas que suspenderam atividades. Vendedores relataram que continuaram trabalhando para garantir o sustento

Darcianne Diogo
postado em 02/03/2021 06:00
Em Ceilândia Centro, ambulantes mantiveram as vendas em feiras e nas ruas da região administrativa -  (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)
Em Ceilândia Centro, ambulantes mantiveram as vendas em feiras e nas ruas da região administrativa - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)

Depois da publicação do decreto que estabeleceu a suspensão de atividades não essenciais, muitas das regiões administrativas do Distrito Federal amanheceram, na segunda-feira (1º/3), com pouco movimento nas ruas, além de lojas fechadas. A medida, que começou a valer no domingo (28/3), visa frear a disseminação do novo coronavírus, em meio ao aumento do número de casos e das altas taxas de ocupação dos leitos em unidades de terapia intensiva (UTIs). Apesar das restrições, em cidades como Ceilândia e Taguatinga, o Correio encontrou lojas abertas e aglomerações.

Em Ceilândia Centro, a maioria dos lojistas respeitou as medidas definidas pelo decreto, mas a reportagem flagrou estabelecimentos como salões de beleza e barbearias receberem clientes às escondidas, com as portas fechadas pela metade, para não chamar a atenção dos fiscais. Nas calçadas, ambulantes continuavam a vender mercadorias e, na Feira do Rolo, também houve aglomeração — com a maioria das pessoas sem usar máscaras de proteção. Com 32.568 infectados pela doença e 828 mortes, a cidade lidera o ranking de casos e vítimas no DF.

Raimundo Lima da Silva, 53 anos, trabalha como ambulante em Ceilândia Centro há três décadas. Em março último, quando o governador Ibaneis Rocha (MDB) assinou decreto que proibia o funcionamento de comércios não essenciais, o vendedor ficou mais de um mês sem trabalhar. As contas apertaram, e o dinheiro ficou escasso. “Ninguém escolheu estar em uma situação dessas. Acho que o governo deveria pegar pesado nas fiscalizações. Tenho certeza que nós, trabalhadores, não somos os principais agentes de contaminação, mas, sim, aqueles que ficam se aglomerando nas festas clandestinas e nos bares”, criticou Raimundo.

Fiscalização

Balanço da Subsecretaria de Proteção à Ordem Urbanística do Distrito Federal (DF Legal) mostrou que, entre as 8h de domingo (28/3) e as 2h de segunda-feira (1º/3), as equipes fizeram 1.324 vistorias em comércios de diversas regiões administrativas. Os responsáveis por 168 estabelecimentos receberam orientações sobre como proceder em relação às medidas sanitárias previstas nos decretos vigentes. Outros 123 locais foram fechados, e um, interditado. Também passaram por fiscalização 79 quiosques, dos quais 14 foram fechados. Nenhuma pessoa recebeu multa, pois, segundo a pasta, nestes primeiros dias, elas têm sido orientadas sobre a suspensão das atividades.

Viviane Augusto, 46, e o marido, Pedro Gomes, 46, vendem bolsas e capas para celular em Ceilândia. Os dois continuaram trabalhando ontem, apesar das proibições. Eles são pais de duas meninas, de 2 e 10 anos, e precisam garantir o sustento da família. Mesmo assim, o casal fica dividido entre o dilema de conseguir dinheiro ou proteger as filhas de uma possível infecção. “Mesmo correndo o risco, temos necessidade de trabalhar. Temos contas para pagar. Da última vez em que ficamos em casa por mais de 15 dias, tivemos uma perda de mais de R$ 1 mil, sendo que conseguimos tirar R$ 2,5 mil (por mês, em média)”, relatou Viviane.

Em Taguatinga, a situação não foi diferente. Na Feira dos Goianos, vendedores se disfarçavam para conseguir manter as lojas abertas. No momento em que a reportagem esteve no local, equipes da Polícia Militar (PMDF) e fiscais da DF Legal monitoravam a região. Um dos fiscais informou que, por volta das 15h, mais de 15 comerciantes receberam advertências por descumprirem a ordem do decreto. No centro da cidade, outros estabelecimentos considerados não essenciais também continuavam a funcionar, como lanchonetes e salões de beleza.

Vanusa Soares, 42, mora no Recanto das Emas e trabalha há cinco anos como vendedora em uma loja de bolsas na Feira dos Goianos. À época do primeiro decreto de fechamento, das oito lojas administradas pela chefe dela, apenas três resistiram à crise. E, dos 19 funcionários contratados, cinco permaneceram nas atividades e 14 foram demitidos. “Em dias normais, conseguiríamos vender entre R$ 5 mil e R$ 6 mil, mas, até agora (na segunda-feira à tarde), não saiu uma bolsa. Ganhamos mais por comissão, mas, agora, não tem. Minha preocupação é de ser a próxima funcionária mandada embora”, desabafou Vanusa.

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