8 DE MARÇO

Dia da Mulher: educação social auxilia no combate à violência de gênero

As vítimas de violência, muitas vezes, não conseguem escapar dos relacionamentos abusivos. Para piorar, a pandemia fortificou as amarras que as prendem na insegurança do próprio lar

Sarah Peres
Edis Henrique Peres
postado em 08/03/2021 06:00
 (crédito: Cristiano Gomes/CB/D.A Press)
(crédito: Cristiano Gomes/CB/D.A Press)

No Dia da Mulher, os números mostram a realidade cruel de relacionamentos amorosos que, com o tempo, caminharam para a violência. Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF), de janeiro a fevereiro deste ano, 2.534 vítimas de violência doméstica procuraram a polícia para denunciar os agressores. Embora os casos apresentem redução superior a 10% em relação a igual período de 2020, especialistas analisam a necessidade de uma educação social para mudar essa realidade.

“O que eu passei não desejo para ninguém. Enquanto era espancada e chutada naquele chão, pensei que ia morrer.” Esse é o desabafo de Simone*, 29 anos, uma das 11 vítimas de tentativa de feminicídio deste ano. Depois do crime, o homem, 30 anos, fugiu e, até o fechamento desta edição, não havia sido preso.

Simone iniciou um relacionamento com Sérgio*, em 2016, marcado por momentos de carinho. Apaixonada, a jovem casou-se, mas, debaixo do mesmo teto, o comportamento do companheiro passou a ser abusivo.
“Eu não podia ver minha família, não tinha direito nenhum. Passei a ser afastada do convívio com minhas amigas e até da minha filha, fruto de um relacionamento anterior”, lembra.

O primeiro episódio de agressão física ocorreu em 2018. “Em meio a uma discussão por ciúmes, ele me bateu. Não procurei a polícia. Estava apaixonada e cega. Não escutei os alertas da minha família e decidi reatar, com a promessa de que ele mudaria”, conta.

Mas Sérgio não mudou. “E a violência só aumentou. No segundo episódio, em 2019, eu estava grávida de dois meses. Precisava de repouso absoluto, era uma gestação de risco. Mas o Sérgio não respeitava e me estressava diariamente, até que, um dia, tive um sangramento. Ele não quis me levar ao hospital e me empurrou. Perdi o meu neném”, conta.

Na última agressão, em fevereiro deste ano, Simone tinha uma medida protetiva. Mesmo assim, o criminoso foi à residência da vítima, arrebentou o portão e ordenou que lhe desse R$ 300 para pagar uma dívida de drogas. “Ele trancou a porta e passou a me espancar. Consegui contar até o terceiro soco, depois perdi as forças”, relata a vítima. A agressão só parou após Simone receber a ajuda de vizinhos, mas o agressor fugiu.

Professora do serviço social da Universidade Católica de Brasília (UCB), Adelina Almeida de Araújo explica que sair de um quadro de violência, em geral, dura de 10 a 12 anos. “Essa situação acorrenta as mulheres. Geralmente, depois das agressões, o homem pede perdão, faz juras, justifica que não acontecerá novamente. Isso se repete até que o tempo de uma agressão a outra se torne cada vez mais curto e essa violência, mais grave”, explica.

Para Adelina, é essencial melhorar as políticas de proteção e auxílio à mulher, além de incentivar que novas ações. “A questão emblemática na nossa sociedade é o machismo estrutural. É preciso quebrar o silêncio que encobre a sociedade e o Estado”, diz.

Roberta de Ávila, responsável pela Subsecretaria de Atividade Psicossocial (Suap), defende que é necessário grupos reflexivos para homens autores de violência com o objetivo de diminuir a reincidência desses casos. “É necessário também um estudo da masculinidade e de reflexão para os homens, para ser avaliada essa questão estruturante dos estereótipos de gêneros”, pontua.

Os grupos reflexivos abordam assuntos importantes para reestruturar e modificar o pensamento do homem. “Os homens que participam desse grupo geralmente não reincidem em casos de violência, e a maioria multiplica isso nos seus espaços de convivência”, frisa.

Este mês, a Secretaria de Segurança Pública lança o Dispositivo de Monitoramento de Pessoas Protegidas (DMPP) para vigiar autores de violência doméstica e garantir a segurança das vítimas. O projeto piloto conta com cinco mulheres, que terão à disposição, inclusive, um novo Centro Especializado de Atendimento à Mulher (Ceam), localizado no Centro Integrado de Operações de Brasília (Ciob). “A ideia é que a vítima não receba apenas a proteção do dispositivo, mas o atendimento psicossocial específico para o tratamento desse momento de vulnerabilidade”, explica Éricka Filippelli, secretária de Estado da Mulher.

*Nomes fictícios para resguardar a identidade da vítima

» Onde pedir ajuda?

Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência
Telefone: 180 (disque-denúncia)

Disque 100 — Ministério dos Direitos Humanos
Telefone: 100

Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam)
» Entrequadra 204/205 Sul
(61) 3207-6172

Centro de Atendimento à Mulher (Ceam)
» De segunda a sexta-feira,das 8h às 18h
» Locais: 102 Sul (Estação do Metrô), Ceilândia, Planaltina

Programa de Prevenção à Violência Doméstica (Provid)
Telefones: (61) 3910-1349/1350

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