CULTURA

Projeto de voluntários de Sobradinho leva arte para pontos de ônibus da cidade

Grupo de artistas brasilienses criou um projeto voluntário para revitalizar paradas de ônibus em Sobradinho. Mesmo com poucos recursos, trabalho dos profissionais transforma a região administrativa e leva a beleza das pinturas a moradores e visitantes

Edis Henrique Peres
postado em 08/03/2021 06:00
Karol Narvaez (camisa estampada), Mel Alves (camisa verde), Emily Alves (camisa branca) e Paulo Roberto Nunes fazem parte do projeto Arte no Trânsito. Juntos, eles transformam, com traços e cores, pontos de ônibus em diferentes quadras de Sobradinho 1 e 2 -  (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
Karol Narvaez (camisa estampada), Mel Alves (camisa verde), Emily Alves (camisa branca) e Paulo Roberto Nunes fazem parte do projeto Arte no Trânsito. Juntos, eles transformam, com traços e cores, pontos de ônibus em diferentes quadras de Sobradinho 1 e 2 - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Quem visita a Quadra 10 de Sobradinho 1, em frente a um supermercado da região, quase de imediato tem a visão atraída pelas cores vibrantes da parada de ônibus em frente ao estabelecimento. As pessoas que passam pelo local não deixam de notar o projeto criado pela equipe Arte em Trânsito, que se dedica — inclusive em fins de semana — a dar mais vida às ruas da cidade. A Quadra 10 não é a única. Há pinturas na Quadra 6, na Central e em frente ao Hospital Regional de Sobradinho (HRS). O trabalho ajudou a revitalizar oito pontos de espera da cidade: sete em Sobradinho 1 e um em Sobradinho 2.

O projeto começou em janeiro, idealizado por Paulo Roberto Nunes, 33 anos, educador e morador da região administrativa. “Esse trabalho tem a parte artística, mas, também, fala sobre preservação e cuidado com a natureza. Ele educa”, descreve. A iniciativa tem o objetivo de levar cultura para os moradores, além, claro, de deixar a cidade mais bonita. “O grafite é voltado para os muros, mas decidimos, nesse projeto, trazê-lo para as paradas, justamente porque as galerias de arte estão fechadas e não são todas as pessoas que têm acesso a elas”, explica Paulo Roberto.

E, desse jeito colorido, as paradas se tornaram o ponto de encontro de outras artes, como a poesia. Paulo Roberto, que é escritor e autor do livro Pôr dos Sonhos, traduz a capital do país em versos. Um deles ganhou espaço na pintura da parada de ônibus na Quadra 4: “O céu de Brasília, além de pássaros e aviões, é todo poesia”.

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    Com o nome de Arte no Trânsito, iniciativa leva pinturas e grafite aos pontos de espera Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
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    Karol Narvaez (camisa estampada), Mel Alves (camisa verde), Emily Alves (camisa branca) e Paulo Roberto Nunes fazem parte do projeto Arte no Trânsito. Juntos, eles transformam, com traços e cores, pontos de ônibus em diferentes quadras de Sobradinho 1 e 2 Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
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    Karol Narvaez (camisa estampada), Mel Alves (camisa verde), Emily Alves (camisa branca) e Paulo Roberto Nunes fazem parte do projeto Arte no Trânsito. Juntos, eles transformam, com traços e cores, pontos de ônibus em diferentes quadras de Sobradinho 1 e 2 Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
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    Com o nome de Arte no Trânsito, iniciativa leva pinturas e grafite aos pontos de espera Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
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    Com o nome de Arte no Trânsito, iniciativa leva pinturas e grafite aos pontos de espera Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  • Karol Narvaez (camisa estampada), Mel Alves (camisa verde), Emily Alves (camisa branca) e Paulo 
Roberto Nunes fazem parte do projeto Arte no Trânsito. Juntos, eles transformam, com traços e cores, pontos de ônibus em diferentes quadras de Sobradinho 1 e 2
    Com o nome de Arte no Trânsito, iniciativa leva pinturas e grafite aos pontos de espera LUIS TAJES

Dedicação

O Arte em Trânsito conseguiu formar uma rede de solidariedade e apoio. Os integrantes do projeto não recebem qualquer tipo de pagamento, mas doam o trabalho para a cidade. A artista plástica Carol Narvaez, 37, conhecida como Kalnarvaez, deixou o Jardim Botânico e se mudou para Sobradinho com a amiga, e também artista plástica, Michelle Cunha, 38. As duas passaram a fazer parte da iniciativa. “Nossa recompensa é a alegria de ver a parada transformada. Antes, ela estava suja, destruída. Nós a limpamos e alegramos o local. Quando terminamos a da Quadra 10, o pessoal do supermercado em frente veio nos dizer que o local estava totalmente diferente, que tínhamos levado vida para lá. E esse é o melhor retorno que podemos receber”, diz Carol.

Ao atuar no projeto, muitos artistas usaram o fim de semana de folga para pintar os pontos de ônibus. A arte feita por Michelle Cunha e Carol Narvaez levou mais de sete horas para ficar pronta. Isso porque os profissionais precisam raspar a parada, tirar papéis colados ou tinta velha. Em média, o gasto é de metade de uma lata de tinta, além de seis de spray para cada parada. Além disso, há o uso de bisnagas ou outros utensílios, a depender da técnica escolhida. O tempo de produção também pode variar se o grafite precisar de muitas camadas de pintura, mas a média é de cinco horas para concluir cada projeto.

O Arte em Trânsito emprega diferentes temas, como meio ambiente, saúde, esporte e educação. No ponto de ônibus da parada do HRS, Vinícius Rodrigues, conhecido como Lapixa, 37, decidiu fazer uma homenagem aos profissionais de saúde. “Quando recebi o convite do Paulo, de imediato aceitei. Só depois parei para pensar a respeito da relevância do projeto e do impacto dele na comunidade e no dia a dia das pessoas. Acredito que os abrigos, como estavam antes, depredados, com infiltração e sujos, traziam uma certa angústia a quem precisava esperar o transporte. A revitalização, a limpeza e a pintura do espaço torna-o mais acolhedor, mais agradável. E isso, em meio a uma realidade pandêmica, com certeza, faz diferença no cotidiano das pessoas”, opina o grafiteiro, morador de Sobradinho 2.

Todas as vozes

Outro destaque do Arte em Trânsito é o talento de jovens artistas. Mel Alves Oliveira, 13, e Emily Angel Alves, 12, são irmãs e moradoras de Planaltina (GO). Apaixonadas por arte desde cedo, elas não perderam a chance de fazer parte da iniciativa. “Começamos a pintar desde que pegamos em um lápis. Desenhávamos nas paredes de casa e sempre tivemos interesse em cultura. Com esse projeto estamos levando alegria para a praça”, opina Mel. A irmã mais nova concorda: “É a primeira vez que participamos de um projeto desse tipo, e acho que traz uma boa visibilidade. Geralmente, o Paulo nos passa algum tema específico, e podemos usar nossa criatividade para compor. Por exemplo, em nossa parada, o tema era meio ambiente e educação”, complementa Emily.

As meninas trabalham sempre juntas. A tia delas Francilene Alves da Silva, 40, não nega o orgulho que sente das sobrinhas. “Sou tia coruja”, confessa a professora. Mas, além da alegria por Mel e Emily, há a felicidade de ver a arte nas ruas da região administrativa. “Morei aqui por 27 anos. Mudei (para Planaltina de Goiás) há menos de um mês. Aqui (em Sobradinho) é difícil ter esse tipo de projeto. Ficamos muito jogados. Agora, as pessoas que saem para trabalhar e precisam pegar ônibus ao menos tem um lugar mais alegre e bonito para ficar”, observa Francilene.

A proposta não agradou apenas a quem vive na cidade. Tatiane Pereira de Souza, 38, mora em Ceilândia e estava em Sobradinho a passeio. Ao encontrar as paradas, ela elogiou o trabalho. “Dá uma alegria, uma satisfação. O ponto de ônibus está muito bonito, bem mais interessante do que os que vemos por aí”, comenta Tatiane. A monitora Jéssica Neiva, 32, mora em Planaltina e também apreciou o resultado do projeto. “Há uma diferença enorme em comparação a paradas bagunçadas e sujas de outros locais. Assim, a região fica mais valorizada”, diz Jéssica.

» Como ajudar

É possível patrocinar e doar materiais para a equipe do Arte em Trânsito, como tintas spray, em bisnaga ou em lata. Para saber como ajudar, basta entrar em contato com o idealizador do projeto, Paulo Roberto Nunes, pelo WhatsApp: 992-533-671.

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