Vista como um alento ao setor do audiovisual, com geração de emprego e renda para profissionais de Brasília, durante o período crítico da pandemia, a série Como nascem os heróis? dará continuidade, com 10 episódios, ao núcleo criativo da produtora Pá Virada. Destacados no Livro de Aço, disposto no Panteão da Pátria e da Liberdade, estão heróis e heroínas do Brasil, personagens da série. “Queremos observar a serventia dos personagens e o que definiu o conceito de herói, além de recapitular dados da biografia de alguns. Mas de forma crítica. Na construção da identidade de Nação, eles são elementos constituintes, ao lado do Hino Nacional, o território reconhecido e a bandeira”, destaca Iberê Carvalho, codiretor da série, em função dividida com o cineasta e roteirista Marcelo Díaz.
Amparado no passado atuante da Agência Nacional do Cinema (Ancine), o projeto tem produção apoiada pelo Fundo de Apoio à Cultura (FAC), a ser viabilizado por R$ 900 mil. Com filmagens previstas para junho, cinco episódios estarão prontos em setembro de 2021. Aspectos didáticos e dinâmicos norteiam a equipe que buscou referência no formato da série Guerras do Brasil.doc (Netflix). "Teremos episódios de 26 minutos, tudo muito ágil, com animação, depoimentos e reconstituição histórica", sublinha o também produtor Iberê.
Sepé Tiaraju, Getúlio Vargas, Deodoro da Fonseca, Padre José de Anchieta e Leonel Brizola terão espaço. “Vivemos um momento bem interessante para discutir heroísmo. O grande lance é o entendimento dos heróis como pessoas de carne e osso, com relações políticas e ideológicas. O espectador poderá desconstruir a mitificação”, pontua Marcelo Díaz. “Duque de Caxias, por exemplo, é personagem muito presente dando nome a cidades, bairros e ruas, e o que ele fez para chegar a esse lugar? Foi um general que comandou tropas que praticaram genocídio junto a indígenas e negros. Em que contexto histórico ele alcançou o posto de herói?”, complementa Iberê Carvalho.
Esses sim, mitos
Descrito como unanimidade por Iberê, Zumbi dos Palmares terá um olhar especial. “Viajamos na iconografia, nas representações que a gente carrega. Por exemplo, Zumbi, hoje, é um ídolo pop, presente em adesivos e camisetas. Ainda que a Fundação Zumbi, via governantes, não incorpore a importância heroica que ele teve”, acrescenta Díaz.
Pesquisador e idealizador de Como nascem os heróis?, o historiador Rafael Leporace Farret, formado pela Universidade de Brasília (UnB), traz ponderação para a série. Revisões e épocas revisitadas dão o tal pano para manga. “Tiradentes tem uma história clássica: você tem, no Rio de Janeiro, a Praça dele, que era a antiga Praça da Constituição, com um busto de Dom Pedro I. Logo depois da proclamação da República, os republicanos motivaram o reconhecimento dele como novo herói. Foi deixado para trás o passado monarquista; mas, lá na praça não se encontra uma estátua de Tiradentes, mas sim a de Dom Pedro I”, sublinha.
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Audiovisual
O historiador Rafael Leporace Farret: “O Livro de Aço traz questões interessantes para a atualidade”
Histórias relevantes
Disposto dentro do memorial Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em permanente exposição, o Livro de Aço ou, conhecido ainda pelo nome de Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, é um objeto que lista, desde 1989, nomes da história como Tiradentes, o pai da aviação Alberto Santos Dumont, a enfermeira Ana Néri, o compositor Heitor Villa-Lobos, os intelectuais Rui Barbosa e Hipólito da Costa, além da primeira presa política do país,Bárbara de Alencar.
Inaugurado em 1986, o Panteão da Pátria, na Praça dos Três Poderes tem o projeto arquitetônico de Oscar Niemeyer. O livro é circundado por obras de incalculável valor, entre as quais vitral de Marianne Peretti, um grande painel da Inconfidência Mineira (criado por João Câmara Filho) e o mural da Liberdade, uma obra assinada por Athos Bulcão.
Entre as curiosidades de nomes candidatos para o livro esteve o de Ayrton Senna, cogitado pelo deputado Eduardo Bolsonaro. As indicações de nomes podem ser sugeridas por representantes do Poder Executivo, parlamentares e ainda por iniciativa popular.
Nem todos os nomes são facilmente identificados, de pronto, pela maioria dos brasileiros. Nesses casos, despontam figuras como Dandara dos Palmares que, no século 17, foi esposa de Zumbi dos Palmares e se afirmou uma guerreira negra. Luísa Mahin, uma ex-escrava e mãe do abolicionista Luís Gama, também está com o nome inscrito no Livro de Aço.
Anteriormente, era necessário decorrer período de 50 anos da morte ou presunção da morte do pretenso herói a ser contemplado no livro. Os parâmetros foram alterados por sugestão do senador Marco Maciel (PFL-PE), e sob as novas normas, que determinam no mínimo uma década desde a morte, foram acolhidos nomes dos políticos Leonel Brizola e Ulysses Guimarães.