Cuidado com doença infecciosa

» VICENTE NUNES
postado em 08/03/2021 22:12
 (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
(crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

O Hospital das Forças Armadas (HFA), que está com 90% de ocupação na sua Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), contratou um contêiner para estocar corpos de pessoas mortas pela covid-19, porque a legislação determina que cadáveres com doenças contagiosas, como a covid-19, fiquem acondicionados em separado. É o que informa o Ministério da Defesa, ao qual o HFA está subordinado, em nota encaminhada ao Blog do Vicente Nunes, ontem. O compartimento foi contratado em setembro de 2020, mas, com a disparada dos casos de covid-19 no Distrito Federal, tornou-se indispensável, pois o atual necrotério não suporta tantos corpos.
Por meio de nota, “o Ministério da Defesa informa, por meio do Hospital das Forças Armadas (HFA), que a taxa de ocupação
atual é de 90% na UTI”. O texto salienta, ainda, que “no que se refere ao necrotério, o serviço de anatomia patológica, construído para atender as demandas da década de 1970, é pequeno e já necessitava de reforma e ampliação desde 2015. Assim, desde setembro de 2020, foi contratado um contêiner frigorífico para assegurar tratamento condizente à demanda. A locação do contêiner permite atender a legislação, que determina que os corpos de doenças infectocontagiosas sejam acondicionados em separado e com refrigeração adequada”.
A covid-19 está fora de controle em todo o Distrito Federal. De acordo com dados coletados pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), reproduzidos pelo Ministério da Saúde, ontem o DF chegou a 4.979 mortos pela covid-19 –– 17 nas últimas 24h –– e 308.539 infectados. A taxa de letalidade está em 1,6% e a de mortalidade, em 165,1/100 mil habitantes.
A gravidade da situação deixou até os militares mais radicais, apoiadores incondicionais do presidente Jair Bolsonaro, assustados. Em grupos de mensagens, admitem que a situação é dramática. No HFA, o colapso pode ocorrer a qualquer momento se nada for feito urgentemente para conter a disseminação do novo coronavírus.

Quadro complicado

Entretanto, profissionais do hospital militar relatam que nunca viram um quadro tão complicado para o atendimento a pacientes com covid-19. O perfil de internados está cada vez mais jovem e ocupando os leitos por mais tempo. As mesmas fontes dizem, ainda, que outros tipos de contêineres podem ser contratados, pois, desde janeiro, há um edital no site do hospital nesse sentido. Mas esses compartimentos, usados para transportar cargas marítimas, seriam usados durante uma reforma do setor de anatomia patológica. A reportagem passou pelo hospital e encontrou apenas esses itens destinados às obras.
Pelas diligências do Conselho Regional de Enfermagem do Distrito Federal (Coren-DF) e diante da disparada de contaminações pelo novo coronavírus e de mortes, hospitais da rede pública da capital do país, muito provavelmente, também terão de recorrer aos frigoríficos para as unidades de saúde. Para representantes do governo, a superlotação no HFA e a contratação de contêiner para a estocagem de corpos devem provocar abalo no Palácio do Planalto. O presidente Jair Bolsonaro renega a gravidade da covid-19 no país, desestimula o uso de vacinas e é totalmente contrário à adoção de medidas restritivas para conter a disseminação do vírus.

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