PANDEMIA

Momento crítico da covid-19 deixa a capital federal em alerta

A taxa de transmissão ainda elevada e o alto percentual de ocupação dos leitos de unidades de terapia intensiva (UTIs) para o tratamento do coronavírus mostram, na visão de especialista, que medidas mais restritivas são necessárias

Ana Clara Avendaño*
postado em 10/03/2021 06:00
 (crédito: Renato Alves/Agencia Brasilia)
(crédito: Renato Alves/Agencia Brasilia)

O Distrito Federal atingiu a triste marca de 5 mil mortes ontem. Com 1.008 novas infecções, o número de casos chegou a 309.547. A taxa de transmissão da covid-19, segundo o último boletim divulgado pela Secretaria de Saúde do DF, apresentou uma queda. A capital teve um R(t) de 1,28. No entanto, este indicador precisa permanecer abaixo de 1. “O toque de recolher noturno acaba sendo seletivo, o vírus não circula somente à noite. O ideal é analisar e propor intervenções graduais em todos os setores da economia, conforme a taxa de ocupação de leitos, o aumento da incidência da doença e o número de mortes. Só que no momento em que nós estamos, precisamos de medidas mais drásticas que inibam a circulação de pessoas”, avalia Lívia Vanessa Ribeiro, infectologista do Hospital de Base.

Outra preocupação são os casos de reinfecção. Entretanto, para Lívia, a vacinação é a ação mais eficiente para evitar que pacientes recuperados contraiam o vírus novamente e para que seja gerada a imunidade de rebanho. “É uma ideia errônea pensar que quanto mais infectados tiverem, mais rápido iremos chegar à imunidade de rebanho. Na verdade, a imunidade de rebanho é um conceito aplicado para a questão das imunizações. É necessário ter um número determinado de pessoas vacinadas para atingir uma imunidade ou reduzir a circulação do vírus de modo que seja possível proteger o percentual que ficou de fora da vacinação”, explica ela.

Sem um plano de imunização amplo, o modo de reduzir as chances de haver novos casos de reinfecção é por meio de medidas não farmacológicas de distanciamento social, uso de máscara, higienização das mãos e de objetos tocados com frequência. “Não dá para jogar essa responsabilidade apenas para população, é preciso melhorar todos os serviços que são prestados de forma que evite aglomerações”, pondera Lívia Ribeiro.

Em entrevista coletiva no Palácio do Buriti, o Secretário de Segurança Pública, Anderson Torres, ressaltou a identificação de festas clandestinas e aglomerações no DF. “Temos nos deparado com pessoas e estabelecimentos que insistem em descumprir as restrições”, relevou. No entanto, durante o primeiro dia de aplicação do toque de recolher, a fiscalização procurou orientar a população por haver muitas pessoas que desconheciam o novo decreto.

Mais rigor

Na avaliação de especialistas, urge restrições mais rígidas para conter os avanços do coronavírus. “O que é eficaz é um conjunto de atividades, só o toque de recolher não irá resolver”, afirma o professor de epidemiologia da Universidade de Brasília (UnB) Wildo Navegantes.

De acordo com o docente, existem outras formas mais efetivas para o enfrentamento da pandemia, como a testagem extensiva guiada pela vigilância de saúde do DF, o aconselhamento de isolamento no diagnóstico, um processo de comunicação de risco muito claro por parte do governo, da Secretaria de Saúde, outros órgãos e dos líderes informais não governamentais. E, ainda, investir no processo de fazer investigação quanto ao contato com o vírus, identificar casos suspeitos e aconselhá-los a ficarem de quarentena. Na visão de Navegantes, outras medidas deveriam ter sido tomadas, como a restrição temporária de atividades durante o dia.

Oxigênio

Com o aumento da demanda por leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTIs) e o funcionamento dos hospitais de campanha, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) solicitou informações sobre a atual demanda e estoque de oxigênio hospitalar no Distrito Federal. A Secretaria de Saúde e o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do DF (Iges-DF) devem informar quais empresas estão atualmente contratadas e a capacidade de ampliação da oferta, por dia e por semana. Além disso, a Saúde precisa notificar se quantidade contratada é suficiente.

A pasta deverá comunicar, ainda, se já verificou junto aos fornecedores contratados sobre a capacidade de continuarem a fornecer o insumo regularmente, além de outras medidas preventivas possíveis para garantir o suprimento de oxigênio hospitalar. O prazo para resposta é de três dias. O chefe da Saúde, Osnei Okumoto, assegurou, em coletiva de imprensa, que a capital possui oxigênio e insumos suficientes para atender a população.

No entanto, ele alerta: “Nós estamos em uma fase crítica. O levantamento não é feito só no DF porque o oxigênio é distribuído para o país inteiro. Se o país, que possui 23 estados com 80% das suas UTIs lotadas (no DF está em 90,62%), não tomar nenhuma decisão, será desencadeado um número maior de pacientes internados com utilização de oxigênio que pode vir a faltar futuramente. No entanto, hoje, o contrato da nossa Secretária de Saúde é uma quantidade suficiente para atender o DF”.

Jovens

O aumento na procura por atendimento hospitalar de jovens infectados pela covid-19 impulsionou a abertura de 7 leitos de UTI no Hospital da Criança de Brasília José Alencar (HCB). “Temos um número maior de jovens sendo infectados e procurando leitos hospitalares para a internação, em relação à primeira onda. A diferença nisso tudo é que essas novas cepas de vírus apresentaram um índice de infectividade maior e uma longa permanência de internação desses pacientes, no entanto, a letalidade é menor”, diz Osnei Okumoto sobre as vagas destinadas para pessoas com idade abaixo de 18 anos.

Para Gustavo Rocha, secretário da Casa Civil, “isso reforça a necessidade do toque de recolher e das medidas restritivas porque são os jovens que estão saindo para aglomerações, que saíram para o carnaval e agora, ocupando leitos. Se não houver mudança na consciência dessas pessoas, os leitos serão abertos e ocupados”, enfatizou.

*Estagiária sob a supervisão de José Carlos Vieira

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