Profissão de fé
Tenho uma sobrinha de 21 anos que se chama Yeda e é fisioterapeuta. É uma linda moça, esguia e elegante, agraciada com uma beleza brasileiríssima de morena miscigenada. Uma estilista de joias a convidou para participar de desfiles com suas peças.
Yeda mora em um sítio, próximo ao povoado de São Bartolomeu, situado entre Luziânia e Cristalina. Em São Bartolomeu, quando a pandemia já tinha assolado, ela fez um trabalho com uma senhora idosa, que estava entravada e impossibilitada de caminhar. Com a fisioterapia, a senhora conseguiu andar novamente e ficou muito feliz e agradecida.
Ela tinha feito tratamento em Cristalina com um médico, que acompanhava a situação preocupado. Para a estupefação do médico, a senhora voltou ao hospital lépida e fagueira. O médico quis saber quem operara o “milagre”, e ela respondeu que fora a “doutora Yeda”. A moça tem mãos de cura, mas, na verdade, é obra da ciência.
O doutor ficou tão impressionado com a competência da fisioterapeuta que a indicou para trabalhar no hospital. Claro que ela aceitou o convite, mas, com a pandemia, foi mobilizada para reforçar o apoio às equipes que cuidam dos pacientes de covid-19. No entanto, o negacionismo provocou tamanho relaxamento das medidas de prevenção ao vírus que levou ao colapso do sistema de saúde nas cidades goianas do entorno de Brasília.
As equipes médicas estão desfalcadas com a avalanche de casos a tratar. Por isso, Yeda recebeu o comunicado de convocação para trabalhar em uma UPA, na linha de frente da terapia aos pacientes do covid-19. Em um primeiro momento, ficou abalada pela responsabilidade e pelos riscos da atividade, embora já tenha recebido as duas doses de vacina. A família também viveu momentos de aflição.
No entanto, em um segundo momento, Yeda lembrou-se do juramento que fez durante a formatura como fisioterapeuta: o de cuidar dos pacientes acima de tudo. Resolveu, então, assumir plenamente a responsabilidade imposta pelo ofício que escolheu.
Eis o juramento: “Juro dedicar minha vida profissional a serviço da humanidade; respeitar a dignidade e os direitos da pessoa humana; exercer a fisioterapia com consciência e dignidade; respeitar a vida, desde a concepção até a morte; e manter elevados os ideais de minha profissão, obedecendo aos preceitos da ética e da moral; preservando sua honra, seu prestígio e suas tradições”.
Na próxima semana, ela começa a integrar a linha de frente da luta pela salvação de vidas.
Nunca gostou muito da parte respiratória, mas terá de estudar os parâmetros dos ventiladores mecânicos no meio de uma corrida dramática. Ela vem de uma família na qual a palavra empenhada vale.
Enquanto irresponsáveis promovem festas macabras, profissionais de saúde arriscam a vida para salvar a vida deles e a de outras pessoas que eles contaminaram. Isso é uma covardia com quem está na linha de frente da batalha.
É bom encontrar uma pessoa que honra a palavra comprometida. A crise sanitária é agravada por governantes que traem, a todo instante, os juramentos de defender a democracia ou proteger o seu povo. Desejo sorte e proteção à Yeda e a todos os profissionais de saúde nesta missão que figura entre as mais nobres: a de salvar vidas colocando em risco a própria vida.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.