SAÚDE

Covid-19: pacientes com comorbidades representam 85,1% dos mortos pela doença no DF

Fatores de risco, como doenças cardíacas e imunossupressão, podem complicar os efeitos da covid-19. Para especialistas, a obesidade é o pior agravante, inclusive entre os jovens, e a vacinação é a única forma de frear a pandemia do novo coronavírus

Samara Schwingel
Adriana Bernardes
postado em 15/03/2021 06:00 / atualizado em 15/03/2021 12:24
 (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press            )
(crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press )

Do total de 317.800 infectados pelo Sars-Cov 2 no Distrito Federal, 22.654, ou seja 17,2%, são portadores de comorbidades. Destes, 12.812 (56,6%) têm problemas cardíacos, 1.659 (7,3%) obesidade e 1.650 (7,3%) imunossupressão. Os dados são Portal de Transparência da covid-19, da Secretaria de Saúde. Além de representaram uma parcela significativa de contaminados, a mortalidade deste público se mostra maior. Segundo o portal, das 5.116 pessoas que morreram em decorrência do novo coronavírus, 85,1% tinham outras doenças que agravaram o quadro da infecção.

Para entender qual a relação de outras doenças com a covid-19 e a importância da vacinação para frear a pandemia, o Correio convidou a professora Kelly Grace Magalhães, coordenadora do Laboratório de Imunologia e Inflamação no Instituto de Biologia da Universidade de Brasília (UnB), para explicar um pouco mais sobre o tema (Leia o artigo). Ela, está à frente de uma pesquisa que busca entender como a obesidade predispõe as pessoas a um alto risco de morte por covid-19.

“Eles (pessoas com obesidade) apresentam alteração nas vias de coagulação sanguínea, ou seja, apresentam maior tendência em formar coágulos sanguíneos e formar trombos, os quais estão relacionados aos quadros graves com alta mortalidade por covid-19”, explica.

A especialista informa que a peso acima do ideal faz com que, mesmo pessoas bem mais jovens — na faixa dos 20 aos 40 anos — apresentem altos índices de agravamento, internação com ventilação mecânica e óbito. “Estudos indicam que o risco de morte por covid-19 é 10 vezes maior em pessoas com obesidade. As chances de agravamento e internação em UTI é cerca de 74% maior”, pontua.

Alex Ferreira, 31 anos, é obeso e hipertenso. Morador da Estrutural, o músico chegou a ser infectado pelo novo coronavírus em junho do ano passado. Apesar de o quadro não ter sido grave, ele afirma que, mesmo após a infecção, segue se cuidando. “Esta doença está fora de controle. Continuo utilizando máscara, álcool em gel e praticando o distanciamento social”, comenta. “Senti dores no corpo, no peito, tive febre, tosse e perda de paladar e olfato. Fiquei em isolamento dentro de casa por mais de duas semanas”, lembra.

Vacinação no DF

Até ontem, 169.719 mil pessoas haviam sido vacinadas contra a covid-19 no Distrito Federal. Destas, 65.761 receberam a segunda dose. Atualmente, o público-alvo abrange pessoas com 74 anos ou mais, profissionais de saúde, pacientes em home care ou inscritos no Núcleo de Atenção Domiciliar (Nrad), indígenas aldeados e idosos e pessoas com deficiência institucionalizados e seus cuidadores.

A capital recebeu sete remessas de imunizantes e, atualmente, o estoque é de 59.080 doses, entre CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan (SP) em parceria com a farmacêutica Sinovac, e AstraZeneca, a vacina de Oxford. Ao longo da semana, o GDF espera receber do Ministério da Saúde mais doses de imunizantes e, assim, expandir a campanha para as pessoas com 73 e 72 anos.

Apesar do avanço, ainda há pessoas com dúvidas em relação aos imunizantes. Andréa Maranhão, professora de imunologia da Universidade de Brasília (UnB), explica que as vacinas são as principais formas de combater o avanço da pandemia. “As vacinas que estão hoje sendo aplicadas em diferentes países, não importa de qual fabricante, passaram por rigorosos testes. Quanto maior for a circulação do vírus e quanto mais demorarmos a vacinar as pessoas, mais chance daremos para o surgimento de novos vírus mutados e resistentes às nossas defesas”, alerta.

O aposentado Walter Antonio Agustinho, 75 anos, recebeu a primeira dose do imunizante contra a covid-19 há uma semana. Apesar de feliz em iniciar o processo de imunização, o morador do Lago Norte afirma que se mantém em casa. “Não tive nenhum sintoma adverso e recomendo a todos os meus amigos que se vacinem. Porém, apesar de satisfeito, tenho noção da situação e permaneço em isolamento social e dentro de casa. E peço para que, quem puder, fique em casa também”, diz. A vacinação deve ser agendada por meio do site vacina.saude.df.gov.br ou pelo Disque Saúde, no número 160, opção 6.

Tira dúvidas

Saiba sobre a vacinação contra a covid-19

» Quando a vacina chegou ao DF?
A campanha de vacinação contra a covid-19 começou no Distrito Federal em 19 de janeiro de 2021. No primeiro momento, foram vacinados profissionais da saúde da linha de frente. Em seguida, trabalhadores da saúde em geral receberam a imunização e, depois, os idosos com mais de 80 anos começaram a ser vacinados na capital.

» Qual é a próxima faixa etária a ser vacinada?
O GDF pretende vacinar idosos com 72 e 73 anos na próxima semana, caso receba mais remessas de imunizantes. O anúncio foi feito pelo secretário da Casa Civil, Gustavo Rocha, durante coletiva de imprensa promovida na sexta-feira, no Palácio do Buriti. Atualmente, estão sendo imunizados idosos com 74 anos ou mais.

» Onde posso me vacinar?
As pessoas podem ser vacinadas contra a covid-19 nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e pontos de atendimento drive-thru que disponibilizarem as doses. A lista com todos os pontos de imunização do DF está no site da Secretaria de Saúde (www.saude.df.gov.br).

» É preciso agendar?
Sim. Para evitar filas e aglomerações, a Secretaria de Saúde criou o sistema de marcação de vacinas. O atendimento pelos pontos de drive-thru será exclusivo para quem fez agendamento, enquanto nas unidades básicas de saúde (UBSs) que oferecem a vacina o atendimento será por agendamento e, também, para quem não conseguiu agendar. A marcação poder ser feita pelo site vacina.saude.df.gov.br ou pelo Disque Saúde, número 160, opção 6.

» Idosos de cidades do Entorno poderão ser vacinados no DF?
Como as doses são enviadas de acordo com a população de cada unidade federativa, o ideal é que cada pessoa se vacine em seu estado para que não haja falta do imunobiológico. A Secretaria de Saúde do DF informou que está preparada para atender a população da capital, mas não pode deixar de vacinar moradores de outras unidades da Federação que procurem as unidades da rede pública.

» Qual o tempo de intervalo entre uma dose e outra?
A CoronaVac tem intervalo de aplicação entre as doses de 14 a 28 dias. Já para a vacina de Oxford, esse intervalo é de até 90 dias.

» Tomei as duas doses da vacina. Posso viajar?
Não. A recomendação é que, mesmo após tomar a vacina, a população continue seguindo as orientações: ficar em casa, higienizar as mãos, usar máscara e evitar aglomerações.

» Posso deixar de usar máscara depois de ser vacinado?
Não. A máscara protege e seu uso é obrigatório em todo o território nacional. A recomendação dos profissionais de saúde e autoridades é que, mesmo imunizadas, as pessoas continuem usando a proteção facial.

» Qual é o percentual da população vacinada que
pode nos dar a certeza da imunidade rebanho?
Segundo o Ministério da Saúde, considerando a transmissibilidade da covid-19 (R0 entre 2,5 e 3), cerca de 60 a 70% da população precisaria estar imune (assumindo uma população com interação homogênea) para interromper a circulação do vírus.

» A eficácia da vacina varia de pessoa para pessoa?
Sim. Os testes são feitos da seguinte forma: um grupo de pessoas é unido para o experimento e metade recebe o imunizante, enquanto que a outra parte toma placebo. Depois disso, é contada a frequência de cobaias que tomaram ou não a vacina e contraíram a doença, e, assim, calcula-se a eficácia em cada grupo.

» Quais reações podem aparecer após a vacina?
As principais reações são dor local, dores no corpo, vermelhidão no braço, leve febre e mal-estar. Os maiores cuidados são com as pessoas alérgicas. Os sintomas principais são leves, como na maioria das vacinas.

» Quem teve covid-19, pode se vacinar?
Sim. Após a total recuperação e pelo menos quatro semanas após o início dos sintomas ou confirmação pelo exame nos casos assintomáticos.

» Posso fazer um combo de vacinas, por exemplo,
tomar Pfizer, Oxford e CoronaVac no decorrer do ano?
Joana D’arc Gonçalves, professora de infectologia do CEUB, alerta que não é recomendado fazer um combo, pois pode se ter alguma superposição de eventos adversos. Cada vacina tem uma forma de estimular o sistema imunológico e pode haver uma confusão em relação sobre qual é a eficácia.

» A vacina é obrigatória?
Tramita na Câmara Legislativa um projeto de lei que pode tornar a vacina obrigatória no DF. Segundo a proposta, a população deve apresentar um comprovante de vacinação em todos os atos administrativos do GDF, como acesso a qualquer benefício social e matrícula na rede de ensino pública e privada.

» Não sou grupo de risco, não sei quando serei vacinado
pelo SUS. Poderei comprar a vacina em uma clínica particular?
Ainda não há uma previsão de quando as clínicas particulares conseguirão comprar lotes das vacinas contra a covid-19 que forem aprovadas no Brasil.

» Crianças poderão ser vacinadas contra a covid-19?
Neste primeiro momento, a vacina foi desenvolvida para maiores de 18 anos. Não foram incluídas crianças nos estudos e teste. Portanto, não se sabe ainda quais os riscos e a eficácia em crianças.

Fontes: Secretaria de Saúde do DF e Joana D’arc Gonçalves, professora de infectologia do CEUB

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Obesos têm 10 vezes mais risco de morte

“A obesidade é um dos maiores fatores de risco de agravamento da covid-19. Entretanto, ainda não se sabe totalmente por que e como isso ocorre. Nossa pesquisa aponta que pacientes com obesidade apresentam alteração nas vias de coagulação sanguínea, a hipercoagulação. Ou seja, apresentam maior tendência em formar coágulos sanguíneos e formar trombos, os quais estão relacionados aos quadros graves com alta mortalidade por covid-19. Além disso, o tecido adiposo dos pacientes com obesidade é extremamente inflamado, com alta produção de moléculas inflamatórias, as quais também estão relacionados a um quadro grave da doença e a altos índices de internação com ventilação mecânica e morte. Nosso grupo de pesquisa publicou artigo científico (https://doi.org/10.3389/fendo.2020.00530) por meio do qual propomos como e por que pacientes obesos apresentam grande possibilidade de desenvolver formas graves da covid-19, com maior probabilidade de ir a óbito por essa doença. Estudos indicam que o risco de morte por covid-19 é 10 vezes maior em pessoas com obesidade (aquelas que apresentam índice de massa corporal maior que 30). As chances de agravamento e internação em UTIs é cerca de 74% maior em pessoas com obesidade. É importante ressaltar que o tecido adiposo apresenta expressão do receptor celular de entrada do vírus Sars-CoV-2, o ACE-2, e, desta forma, o tecido adiposo funciona como um reservatório para replicação viral. Atualmente, coordeno um grupo de pesquisa no Distrito Federal que investiga quais são os marcadores moleculares de coagulação sanguínea e inflamação mais frequentes nos pacientes obesos com covid-19 em vários hospitais do DF. A identificação desses marcadores de hipercoagulação sanguínea e de inflamação mais precocemente pode auxiliar o tratamento médico desses pacientes. Além disso, estamos investigando como o vírus da covid-19 se aloja e se beneficia do tecido adiposo de pessoas com obesidade. O uso precoce de anticoagulantes como a heparina e anti-inflamatórios específicos devem ser de especial importância nos pacientes com obesidade acometidos pela covid-19, podendo diminuir significativamente os índices de mortalidade neste grupo. A obesidade faz com que, mesmo pessoas bem mais jovens, entre 20 e 40 anos, apresentem altos índices de agravamento, internação com ventilação mecânica e óbito por covid-19.” Kelly Grace Magalhães, coordenadora do Laboratório de Imunologia e Inflamação no Instituto de Biologia da Universidade de Brasília (UnB).





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