Ameaça global
Quando assistirmos a filmes que projetam futuros apocalípticos, daqui em diante, provavelmente nos identificaremos com uma ou outra parte da narrativa. Depois de enfrentarmos meses e, provavelmente, anos dessa pandemia, algo mudará para sempre no mundo. Difícil prever exatamente o cenário que encontraremos, mas certamente daremos muitos passos atrás na erradicação da pobreza e da fome, por exemplo.
É preciso que as nações se preparem não só para o risco imediato do vírus que nos assombra, mas também para esse futuro perverso que já hoje assola tantos e que aguarda muitos outros no pós-covid-19. Não se trata apenas de auxílios emergenciais, tampouco adiantam discursos vazios e retóricos. O tempo é de ação e também de respeito pela memória de quem partiu e dos que ficaram a chorar a dor da perda, da miséria, do desemprego.
Produções tipicamente hollywoodianas, os filmes a que me referia antes geralmente têm como palco o solo norte-americano, e um presidente pego de surpresa ao receber a notícia no Salão Oval da Casa Branca. À medida que o fim trágico se aproxima, heróis e líderes mundiais aparecem para encontrar a solução que traga ao menos esperança de dias melhores.
Dizem que a arte imita a vida e, nesse caso, a vida tem demorado a nos mostrar a solução mágica. Também tornou o Brasil o mais novo protagonista dessa tragédia mundial. O país é citado por membros da Organização Mundial da Saúde como potencial ameaça global devido à desastrosa condução do combate à pandemia pelas autoridades locais. Estamos jogados à própria sorte e, agora, há o risco de levarmos todos os continentes para a zona mais perigosa da guerra biológica.
O país de grandes jogadores de futebol, maior campeão de copas, que abriga a maior biodiversidade do planeta coleciona, agora, recorde de mortes diárias. Mais de 12 mil pessoas mortas em apenas sete dias. Como é possível alcançar uma estatística tão trágica sem se entristecer, apavorar, revoltar? Temos um sistema de saúde em colapso, famílias destroçadas e uma população fragilizada e sem emprego.
Nas horas em que esses pensamentos vêm à mente, a vontade que dá é de virar o astronauta da música de Gabriel o Pensador e Lulu, ir pro mundo da Lua. Ficar por lá é o melhor que se faz. Mas não há escapatória para este momento. Nem num planeta sem gravidade será possível se livrar do peso da responsabilidade de mais de 275 mil mortes sobre os ombros. Tanta tristeza e pesar que a rima falta e até a poesia falha.
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