Situação confortável
Quase caí das nuvens ao ouvir a declaração do deputado Ricardo Barros (PP), líder do governo na Câmara, sobre a pandemia no Brasil: “A situação é até confortável em relação a outros países”. Fiquei imaginando em que país mora sua excelência.
Mas, com certeza, não é no Brasil, pois me parece fora de dúvida que estamos mergulhados no pior momento da pandemia, com o colapso do sistema de saúde e o número de mortes batendo a marca recorde de quase 2.800 mortos por dia.
Não há mais tempo para brincadeiras, gracinhas, atitudes irresponsáveis e negacionismos. As coisas assumiram um aspecto grave e trágico. Os cientistas fazem a previsão de um cenário terrível para as próximas semanas.
Lemos nos jornais e assistimos, diariamente, pela tevê, cenas dramáticas de duas enfermeiras chorando porque têm de cuidar sozinhas de 28 pacientes e que não aguentam mais o estresse. Ou de médicos fazendo gambiarras com tubos de respiradores para tentar salvar vidas. As filas de espera para as UTIs crescem nos hospitais de todo o país.
É possível que, se alguma das excelências forem contaminadas, irão para o Hospital das Forças Armadas e receberão um tratamento de primeira linha. Mas se qualquer um de nós mortais pegar a covid-19 não adianta ter plano de saúde ou dinheiro, porque pode estar condenado a morrer por falta de cuidado, pois as UTIs estão lotadas, tanto do sistema público quanto do sistema privado de saúde.
Desde a semana passada, o Brasil superou os Estados Unidos e lidera o ranking do número de óbitos no mundo. O nosso país se tornou uma ameaça global com o risco de se tornar um laboratório experimental para a produção de novas variantes do coronavírus.
Em um cenário como esse, afirmar que a situação do Brasil é “confortável” soa como um escárnio com a dor das famílias dos 280 milhões de mortos e das que aguardam, desesperadamente, um lugar na fila das UTIs.
Como se não bastasse, o novo ministro da Saúde assume sem assumir, admite que sua gestão será uma continuidade da administração desastrosa de Eduardo Pazuello e que seguirá a diretriz estabelecida pelo presidente da República. O resultado dessa política nós estamos vendo, é a continuidade do desastre reconhecido internacionalmente. Não dá mais para enganar ninguém. Nossa vida está por um fio, não podemos adoecer, senão estaremos perdidos.
As pesquisas mostram que a popularidade dos negacionistas despenca. E os que apoiam a irresponsabilidade, a campanha antivacina e a omissão serão arrastados também. Sobrará até para o Centrão. Em vez de declarações estapafúrdias, os que têm algum poder de influir precisam lutar para a aquisição de vacinas, para combater o negacionismo e para defender uma postura científica para o Ministério da Saúde.
Não é preciso inovar ou reinventar a roda. Já sabemos o fracasso em que isso resulta. Basta fazer o que todo o restante do mundo fez: orientar-se pela ciência e não por palpites ignaros. Basta seguir o óbvio. Como bem disse o diretor da OMS, o Brasil não pode mais brincar com a gestão da pandemia.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.