Lockdown meia-boca
É claro que chegaríamos onde chegamos, os médicos e os cientistas alertaram, mas suas excelências levaram tudo na brincadeira, sabotaram as medidas de prevenção e disseram que a pandemia não passava de uma “gripezinha”. Como se não bastasse, não compraram a vacina na hora certa e, agora, o país pagará um preço altíssimo. O que mais me perturba é a mentira.
A corrupção começa com a corrupção das palavras. Em cima da mentira não é possível encontrar nenhuma solução para os problemas. E, agora, ao que parece, pelo menos a população começa a tomar consciência da realidade. Segundo pesquisa do DataFolha, 79,5% dos brasileiros admitem que estamos vivendo uma situação grave. Eu acho esse sinal de consciência algo muito positivo, apesar do momento dramático que vivemos. Ainda, segundo a mesma pesquisa, 71% aprovam as medidas de restrição das atividades comerciais para frear a pandemia.
Os que fazem carreatas contra os governadores se dirigem ao endereço errado. Deveriam se postar em frente aos palácios das excelências negacionistas que sabotaram as medidas de prevenção ao coronavírus. São eles os verdadeiros responsáveis pelo lockdown. Eles não deixaram outra alternativa aos prefeitos e governadores. Em todo o mundo, as medidas de restrição de circulação vêm acompanhadas de apoio econômico às pequenas e médias empresas. Isso tem de acontecer também no Brasil.
Mas o que fazer agora para sairmos dessa situação dramática? A essa altura dos acontecimentos, o lockdown é inapelável, dizem os cientistas, é a única maneira de frear o colapso do sistema de saúde. A vida de qualquer um de nós está por um fio, não podemos pegar o vírus, cair de uma escada ou escorregar em uma calçada. Infelizmente, o fechamento tem de ser o mais rigoroso possível. O lockdown à brasileira, o lockdown meia-boca, estressa a população e não produz os resultados desejáveis de redução da contaminação pelo vírus. Teria até mesmo o efeito positivo de um choque de realidade para a consciência definitiva sobre a gravidade da situação que vivemos.
Nós já vimos esse filme no Amazonas. Os cientistas avisaram que se não houvesse o fechamento drástico, o estado entraria em colapso. Mas o governador tentou administrar a situação com o jeitinho brasileiro e deu no que deu.
Não há mais espaço nem tempo para que nenhuma autoridade ou instituição se omita neste momento.
Como diz o padre Antonio Vieira, a omissão é o pecado que se faz não se fazendo: “O salteador na charneca, com um tiro, mata um homem: o príncipe, o ministro e o governador, com uma omissão, matam de um golpe uma monarquia, um país, um estado ou um distrito. Estes são os escrúpulos de que se não faz nenhum escrúpulo; por isso mesmo, são as omissões os mais perigosos de todos os pecados”.
Precisamos, urgentemente, de vacinas sanitárias, jurídicas e políticas para salvar nossas vidas.
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